Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘Apenas um nome não basta. Uma lista diminuta de
referências também é insuficiente. A sociedade precisa de líderes. É preciso
evitar perspectivas centralizadoras que remetem ao antigo coronelismo ou à
ilusão de que determinada pessoa é insubstituível. Ao invés disso, o que se
espera é que surjam muitos novos líderes capacitados para gerenciar projetos e
tornar realidade os sonhos do povo, em seus diferentes âmbitos – religioso,
cultural, econômico e político. Pessoas qualificadas para atuarem não apenas na
esfera global ou nacional, mas também gente que se dedique a trabalhos nos
contextos mais locais – nas cidades, nos bairros e nas ruas.
Sem novos líderes as instituições permanecem
sacrificadas, pois se tornam reféns de pessoas que exercem suas
responsabilidades aprisionadas na mediocridade. Oportuno lembrar que uma
instituição depende dos exercícios de liderança para renovar-se e conseguir
ajustar-se às necessidades contemporâneas. Mais uma vez, é importante
ressaltar: isso não significa depositar toda a esperança em um nome. Ao
contrário, espera-se a articulação de diferentes líderes que se dediquem,
permanentemente, à qualificação de seus desempenhos e instituições.
Essa realidade torna-se distante quando pessoas
buscam organizações estatais, religiosas, privadas e tantas outras apenas para
ocupar um lugar que garanta comodidades e benesses. Com frequência, muitos
almejam ser pouco exigidos em suas atribuições. Realizam-se, assim, com os
resultados pífios de suas próprias atuações. A sociedade, consequentemente, vai
se moldando a uma dinâmica cultural em que se aceitam as barganhas para
conquistar apenas benefícios pessoais. Em segundo plano, ficam a inventividade
e a coragem audaciosa para agir de modo proativo, protagonizando processos de
mudança.
A carência de pessoas comprometidas com a promoção
do bem comum é consequência da falta de uma consistente formação humanística,
que capacite os indivíduos a orientarem suas ações a partir de princípios
éticos. Sem qualificada formação humana, corre-se sempre o risco de se deixar
conduzir por princípios duvidosos e se envolver na corrupção. Assim, a ausência
de uma formação humanística consistente leva as pessoas a uma estreita visão de
mundo, contentando-se em alcançar certa comodidade, mesmo que isso signifique
agir com mesquinhez ou indiferença.
Desse modo, consolidam-se as mediocridades,
tornando comum nas instituições a presença de pessoas incapazes de oferecer
soluções para os mais diferentes problemas. Passam a se destacar aqueles que se
contentam com a mediocridade, em vez de serem valorizados os méritos,
prevalecendo a acomodação. As pessoas ocupam-se mais com a tarefa de esconder
as próprias fragilidades, de conservar as vantagens, esquecendo-se dos
trabalhos capazes de promover o bem. Uma situação que inviabiliza o surgimento
de líderes, perpetua atrasos, alimenta mediocridades e se agrava com a ausência
de autocrítica.
É importante ressaltar : quem é medíocre não
consegue, muitas vezes, perceber as próprias limitações. Candidata-se a cargos
estratégicos, com grandes responsabilidades sem a real condição de
exercê-los. Atua de modo bem diferente,
se comparado aos que, de fato, possuem capacidade. As pessoas verdadeiramente
qualificadas são hábeis no exercício da autocrítica, qualidade imprescindível
para conduzir os líderes à inovação e às intuições criativas. O desafio é,
precisamente, identificar pessoas competentes, que reconhecem a necessidade de
se buscar o bem comum e a paz social.
Nesse caminho, há de se vencer apatias, pois
ninguém pode se dar por satisfeito ao fazer o mínimo. As instituições precisam
de novos líderes para se renovar. E os contextos institucionais, por sua vez,
necessitam de novas dinâmicas, com a superação de práticas obsoletas, para
favorecerem o surgimento de pessoas capazes de exercer a liderança. Entre as
dinâmicas institucionais a serem superadas, estão as que acirram disputas
internas e que contribuem para a propagação de maledicências, consolidando
ambientes propícios à mediocridade.
O desafio de desarticular o habitual jeito medíocre
de agir, que contamina diferentes lugares, é grande. Superá-lo exige de cada
pessoa que se reconheça como agente de transformação, capaz de impulsionar
avanços. Mas esse processo requer que todos se dediquem à autocrítica, ao
compromisso de se fazer escolhas bem fundamentadas. Que ajam com coragem e
audaciosamente no exercício das próprias responsabilidades, especialmente em
contextos organizacionais. Assim, não serão favorecidos aqueles que buscam
ocultar a própria mediocridade para se tornarem líderes de um grupo, ou mesmo
de um povo. É urgente substituir a mediocridade pelo mérito, um movimento inteligente e inovador, dedicado à vida, à
paz e à justiça.’
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