sábado, 28 de dezembro de 2013

Um Olhar de Fé

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
 
* Artigo de Dom Orani João Tempesta, O.Cist,
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro 

‘É comum nesta época do ano ter um olhar retrospectivo sobre o que passou no ano anterior. Aliás, as empresas de comunicação costumam fazê-lo com muita propriedade. Em geral, os acontecimentos desse olhar costumam ser mais de catástrofes, guerras, problemas. Neste final de ano, porém, um evento que não poderá ser esquecido é a Jornada Mundial da Juventude. Claro que também temos a novidade da renúncia do Papa Bento XVI e a eleição do primeiro Papa latino-americano, o Papa Francisco, que fez sua primeira visita internacional aos jovens do mundo aqui no Rio de Janeiro.

Dentre tantas notícias preocupantes, tanto na retrospectiva como nas perspectivas, a Igreja Católica protagonizou boas notícias para o mundo. É claro que a melhor e maior boa notícia continuam sendo a razão por que tudo isso acontece: o Verbo se fez carne e habitou entre nós! Temos a proximidade do “Deus conosco que nos salva” e que é notícia entusiasmante e alegre em todos os tempos!

E justamente é esse o nosso anúncio: o que aconteceu na Igreja, no Rio de Janeiro, nos remete a pessoas que se encontraram no “hoje” de suas vidas com o Cristo Redentor e O anunciam com alegria a todas as criaturas.

Os jovens no Rio de Janeiro foram um anúncio pelo testemunho, alegria, jovialidade da vida em Cristo. Enfrentaram distâncias, dificuldades financeiras, chuva, frio, deslocamentos, filas para transportes e alimentação, mudanças de locais, provocações de grupos que queriam violência ou que contestavam a fé, dificuldades com a língua e tantas outras situações! E o que apareceu para o mundo foi o contágio do bem!”

Aqui na cidade maravilhosa as famílias demonstraram que é possível acolher outra pessoa “desconhecida” com a qual nem sempre se consegue comunicar devido ao idioma e, no entanto, fazer uma amizade que perdura e que fez acontecer despedidas afetuosas e chorosas. O testemunho do nosso povo é de alegria por ter acolhido. Esta cidade ficou famosa pelo “acolhimento” das pessoas. Superou, e muito, tudo aquilo que foi pedido.

A espontaneidade dos que desceram de seus prédios para acolher os jovens na madrugada de domingo marcou um modo de ser extraordinário. É o contagio do bem.

As diversas igrejas cristãs, as religiões e as culturas não se sentiram excluídas, pelo contrário, todos os de boa vontade experimentaram que é possível participar e conviver em paz!

Nem tudo foi perfeito e nem tudo correu como o planejado. Todo o planejamento para que ocorresse tudo bem foi feito, porém, as surpresas que tivemos, no entanto, olhadas com a visão de fé, nos fizeram descobrir que o Senhor foi conduzindo os acontecimentos! Saber acolher as surpresas de Deus! Aprendemos muito com isso.

Mesmo agora, com as últimas questões que ainda ficaram da JMJ, a disponibilidade, boa vontade, solidariedade e preocupações demonstraram que também nessa área as pessoas se revelam com a abertura de coração e com generosidade. Do mesmo modo, isso é uma oportunidade de crescer na fraternidade em tempos de individualismo e egoísmos!

A presença amiga e próxima do Papa Francisco entre nós ficará marcada não só pelos vídeos divulgados, mas, principalmente, pela emoção que sua presença causou, despertando tantos sentimentos e atitudes de paz e alegria.

Ao findar o ano de 2013, com toda a nossa querida Arquidiocese, elevo a Deus a nossa ação de graças e peço que os frutos abundantes da JMJ continuem a ser colhidos por muitos anos, e que essa experiência que fez crescer tantas pessoas continue conduzindo-nos a cumprir bem nossa missão nesta grande metrópole.

Quando nossos olhos se voltam para 2014, Ano da Caridade, de maneira especial pensada sobre a questão social, temos certeza de que a mesma união que nos fez vencer tantos obstáculos também nos ajudará a fazer a diferença no ano que inicia.

É um novo caderno que está em nossas mãos, com suas páginas a serem preenchidas: peço a Deus que nos inspire a preenchê-las sempre com a fé que nos faz testemunhar a alegria do evangelho de Cristo, que transforma vidas e contagia as pessoas para o bem.

Temos certeza de que assim como o Senhor nos concedeu a graça deste ano todo especial, Ele também estará presente em nossas vidas e nossas atividades a cada dia deste ano que iniciamos.

Feliz 2014 para todos nós!’
 
  
 
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/um-olhar-de-fe

 

São Tomás Becket, Bispo e Mártir

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


Nasceu em Londres, em 1118. Pertencia ao clero de Cantuária e foi chanceler do Reino, sendo eleito bispo em 1162. Defendeu corajosamente os direitos da Igreja contra o rei Henrique II, o que lhe acarretou um exílio de seis anos na Gália. De volta à pátria, teve ainda muito que sofrer, até ser assassinado por guardas do rei em 1170.
 

A Liturgia da Horas e a reflexão no dia de São Tomás Becket,
Bispo e Mártir :
 
Ofício das Leituras
 
Segunda leitura
Dos Sermões de São Tomás Becket, bispo
(Epist. 74: PL 190, 533-536)   (Séc. XII) 

 
Só é coroado quem luta conforme as regras
Se nos preocupamos em ser o que devemos e queremos conhecer o significado do nosso nome de bispos e pontífices, convém considerar e imitar com incessante solicitude os passos daquele que, constituído por Deus como pontífice para sempre, se ofereceu ao Pai por nós no altar da cruz. Do alto do céu, ele observa constantemente nossos atos e intenções, e por fim retribuirá a cada um conforme as suas obras.

Fomos encarregados de representá-lo na terra, recebemos o glorioso nome de bispos, a honra de uma tal dignidade e colhemos ainda nesta terra o fruto de nossos trabalhos espirituais. Sucedemos os Apóstolos e os homens apostólicos no mais alto cargo da hierarquia das Igrejas para que, por nosso ministério, seja destruído o poder do pecado e da morte; e a fim de que a casa de Cristo, edificada na fé e no progresso das virtudes, cresça até formar um templo santo no Senhor (Ef 2,21).

É certamente grande o número de bispos. No dia de nossa consagração prometemos ser solícitos e diligentes no dever de ensinar e governar. Diariamente nós o professamos, mas é preciso que o testemunho de nossas ações dê crédito à fidelidade prometida! Sim, a messe é grande, e para colhe-la e armazená-la nos celeiros do Senhor, um só operário ou poucos não dariam conta.

Contudo, quem duvida que a Igreja Romana é a cabeça de todas as Igrejas e a fonte da doutrina católica? Quem ignora que as chaves do reino dos céus foram entregues a Pedro? Porventura não é sobre a fé e a doutrina de Pedro que se edifica a estrutura de toda a Igreja, até que cheguemos todos juntos ao estado do homem perfeito, na unidade da fé e no conhecimento do Filho de Deus? (Ef 4,13).

Na verdade, é preciso que sejam muitos os que plantam, muitos os que regam, porque assim o exigem o progresso da palavra e o crescimento dos povos. Se o povo do Antigo Testamento, que tinha um só altar, precisava de muitos servidores, com maior razão agora, com a grande afluência dos gentios, a quem, para suas oferendas, não bastaria toda a madeira do Líbano, e para seus holocaustos não chegariam todos os animais do Líbano, e nem sequer os animais de toda a Judéia, serão necessários muitos ministros.

Mas seja quem for que plante ou regue, Deus não dará crescimento algum senão àquele que plantou sobre a fé de Pedro e segue a sua doutrina.

É a Pedro que são confiadas as causas mais importantes do povo, para serem examinadas pelo Romano Pontífice e pelos magistrados de nossa Mãe Igreja designados por ele; na medida em que participam da sua solicitude, exercem o poder que lhes foi confiado.

Lembrai-vos, enfim, de como foram salvos os nossos pais, como e através de que tribulações cresceu e se expandiu a Igreja; de que tempestades escapou a barca de Pedro que tem Cristo como timoneiro; e de que maneira recebem a recompensa aqueles cuja fé refulge com maior brilho no meio da tribulação.

É assim que caminha a multidão dos santos, para que seja sempre verdadeira esta palavra : Só recebe a coroa quem luta conforme as regras (2Tm 2,5). 

 

 Fonte :
‘In Liturgia das Horas I’, pg. 1105 a 1107



sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Os Santos Inocentes, Mártires

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


A Liturgia da Horas e a reflexão no dia dos Santos Inocentes, Mártires : 

Ofício das Leituras
 
 Segunda leitura
Dos Sermões de São Quodvultdeus, bispo
(Sermo 2 de Symbolo: PL 40,655)   (Séc. V)
  

Ainda não falam e já proclamam Cristo
Nasceu um pequenino que é o grande Rei. Os magos chegam de longe e vêm adorar, ainda deitado no presépio, aquele que reina no céu e na terra. Ao anunciarem os magos o nascimento de um Rei, Herodes se perturba e, para não perder o seu reino, quer matar o recém-nascido. No entanto, se tivesse acreditado nele, poderia reinar com segurança nesta terra e para sempre na outra vida. 
 
Por que temes, Herodes, ao ouvir que nasceu um Rei? Ele não veio para te destronar, mas para vencer o demônio. Como não compreendes isso, tu te perturbas e te enfureces; e, para que não escape o único menino que procuras, tens a crueldade de matar tantos outros. 
 
Nem as lágrimas das mães nem o lamento dos pais pela morte de seus filhos, nem os gritos e gemidos das crianças te comovem. Matas o corpo das crianças porque o medo matou o teu coração; e julgas que, se conseguires teu propósito, poderás viver muito tempo, quando precisamente é a própria Vida que queres matar. 
 
Aquele que é a fonte da graça, pequenino e grande ao mesmo tempo, reclinado num presépio, apavora o teu trono. Por meio de ti, e sem que saibas, realiza os seus desígnios e liberta as almas do cativeiro do demônio. Recebe como filhos adotivos os filhos dos que eram seus inimigos. 
 
Essas crianças morrem pelo Cristo, sem saberem, enquanto seus pais choram os mártires que morrem. Cristo faz suas legítimas testemunhas aqueles que ainda não falam. Eis como reina aquele que veio para reinar. Eis como já começa a conceder a liberdade aquele que veio para libertar, e a dar a salvação aquele que veio para salvar. 
 
Tu, porém, Herodes, ignorando tudo isto, te perturbas e te enfureces; e enquanto te enfureces contra o Menino, já lhe prestas homenagem, sem o saberes. Ó imenso dom da graça! Que méritos tinham aquelas crianças para obterem tal vitória? Ainda não falam e já proclamam o Cristo. Não podem ainda mover os membros para a luta e já ostentam a palma da vitória. 
 
 
Fonte :
‘In Liturgia das Horas I’, pg. 1100 a 1101
 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

São João, Apóstolo e Evangelista

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
A Liturgia da Horas e a reflexão no dia de São João,
Apóstolo e Evangelista :
 
Ofício das Leituras
 
Segunda leitura
Dos Tratados sobre a Primeira Carta de São João,
de Santo Agostinho, bispo
(Tract. 1,1.3: PL 35, 1978.1980)   (Séc. V) 
 
 
A vida se manifestou em nossa carne
O que era desde o princípio, o que nós ouvimos, o que vimos com os nossos olhos e as nossas mãos tocaram da Palavra da Vida (1Jo 1,1). Quem poderia tocar a Palavra com suas mãos, a não ser porque a Palavra se fez carne e habitou entre nós? (Jo 1,14).   

A Palavra que se fez carne para ser tocada com as mãos, começou a ser carne no seio da Virgem Maria; mas não foi então que a Palavra começou a existir porque, diz João, ela era desde o princípio. Vede como sua Carta é confirmada pelas palavras do seu Evangelho, que acabais de escutar : No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus (Jo 1,1).   

Alguns talvez julguem que a expressão Palavra da Vida designe de modo geral a Cristo e não o próprio Corpo de Cristo que foi tocado pelas mãos. Reparai no que vem em seguida : E a Vida manifestou-se (1Jo 1,2). Por conseguinte, Cristo é a Palavra da Vida.   

E como se manifestou esta Vida? Ela existia desde o início, mas não tinha se manifestado aos homens; manifestara-se aos anjos que a contemplavam e se alimentavam dela como de seu pão. E o que diz a Escritura? O homem se nutriu do pão dos anjos (Sl 77,25).   

Portanto, a Vida se manifestou na carne, para que, nesta manifestação, aquilo que só o coração podia ver, fosse visto também com os olhos, e desta forma curasse os corações. De fato, o Verbo só pode ser visto com o coração, ao passo que a carne pode ser vista também com os olhos corporais. Éramos capazes de ver a carne, mas não éramos capazes de ver a Palavra. Por isso, a Palavra se fez carne que nós podemos ver, para curar em nós o que nos torna capazes de vê-la.  

E somos testemunhas, diz João, e vos anunciamos a Vida eterna, que estava junto do Pai e que se tornou visível para nós (1Jo 1,2), isto é, que se manifestou entre nós ou, falando mais claramente, nos foi manifestada.   

Isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos (1Jo 1,3). Prestai atenção : Isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos. Eles viram o próprio Senhor presente na carne, ouviram da boca do Senhor suas palavras e no-las anunciaram. E nós ouvimos certamente, mas não vimos.  

Somos, por isso, menos felizes do que eles que viram e ouviram? Por que então acrescenta: Para que estejais em comunhão conosco? (1Jo 1,3). Eles viram, nós não vimos e, contudo, estamos em comunhão com eles porque temos uma fé comum.   

E a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. Nós vos escrevemos estas coisas, diz João, para que a vossa alegria fique completa (1Jo 1,4). Essa alegria completa encontra-se na mesma comunhão, na mesma caridade, na mesma unidade. 
 
 
 Fonte :
‘In Liturgia das Horas I’, pg. 1092 a 1094
 
 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Santo Estêvão, o Primeiro Mártir

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


A Liturgia da Horas e a reflexão no dia de Santo Estêvão : 

 Ofício das Leituras

 Primeira leitura
Dos Atos dos Apóstolo s6,8─7,1-2.44-60─8,1

O martírio de Estêvão
8 Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo. 9 Mas alguns membros da chamada Sinagoga de Libertos, junto com sirenenses e alexandrinos, e alguns da Cilícia e da Ásia, começaram a discutir com Estêvão. 10 Porém, não conseguiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava. 11 Então subornaram alguns indivíduos, que disseram: “Ouvimos este homem dizendo blasfêmias contra Moisés e contra Deus”. 12 Desse modo, incitaram o povo, os anciãos e os doutores da Lei, que prenderam Estêvão e o conduziram ao Sinédrio. 13 Aí apresentaram falsas testemunhas, que diziam: “Este homem não cessa de falar contra este lugar santo e contra a Lei. 14 E nós o ouvimos afirmar que Jesus Nazareno ia destruir este lugar e ia mudar os costumes que Moisés nos transmitiu”.  

15 Todos os que estavam sentados no Sinédrio tinham os olhos fixos sobre Estêvão, e viram seu rosto como o rosto de um anjo.   

7,1 O sumo sacerdote disse a Estêvão: “As coisas são mesmo assim como dizem?” 2 Ele respondeu: “Irmãos e pais, ouvi!  

44 Nossos antepassados no deserto tinham a Tenda do testemunho. Deus, falando a Moisés, mandou que construísse conforme o modelo que tinha visto. 45  Nossos pais receberam a tenda e, sob a direção de Josué, a levaram para a terra daquelas nações que Deus expulsou diante de nossos Pais. E a tenda ficou ali até o tempo de Davi. 46 Mas Davi encontrou graça diante de Deus, e lhe pediu permissão para construir uma casa para o Deus de Jacó. 47 No entanto, foi Salomão quem construiu a casa. 48 Mas o Altíssimo não mora em casa feita por mãos humanas, conforme diz o profeta: 49 ‘O céu é o meu trono, e a terra é o estrado dos meus pés. Que casa construireis para mim? – diz o Senhor. E qual será o lugar do meu descanso? 50 Não foi minha mão que fez todas essas coisas?’  

51 Homens de cabeça dura e incircuncisos de coração e ouvido! Vós sempre resististes ao Espírito Santo e como vossos pais agiram, assim fazeis vós! 52 A qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Eles mataram os que anunciavam a vinda do Justo, do qual, agora, vós vos tornastes traidores e assassinos. 53 Vós recebestes a Lei, por meio dos anjos, e não a observastes!”  

54 Ao ouvir essas palavras, eles ficaram enfurecidos e rangeram os dentes contra Estêvão. 55 Estevão, cheio do Espírito Santo, olhou para o céu e viu a glória de Deus e Jesus, de pé, à direita de Deus. 56 E disse: “Estou vendo o céu aberto, e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus”.  

57 Mas eles, dando grandes gritos e, tapando os ouvidos, avançaram todos juntos contra Estêvão; 58 arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem, chamado Saulo. 59 Enquanto apedrejavam, Estêvão clamou dizendo: “Senhor Jesus, acolhe o meu espírito”. 60 Dobrando os joelhos, gritou com voz forte: “Senhor, não os condenes por este pecado”.  E ao dizer isto, morreu.  

8,1 Saulo era um dos que aprovavam a execução de Estêvão. 

 Fonte :
‘In Liturgia das Horas I’, pg. 1080 a 1082

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A estrela por descobrir

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

* Artigo de A. Torres Neiva
 
‘Foi  num Capítulo Geral. O Capítulo Geral das estrelas. Num primeiro momento, como mandam os métodos mais modernos, cada uma foi contando a sua própria experiência, ou como se diz hoje, partilhando suas experiências mais significativas. O bem que fazia à humanidade, a sua contribuição para o desenvolvimento da ciência, seu papel na vida das pessoas...
Quem começou a falar foi o Sol. Nem precisava falar, pois todos conheciam a importância que a luz tem na sucessão dos dias e das noite, o calor no verão, o frio no inverno. Mas mesmo assim, o Sol não deixou por menos e lembrou a todas as estrelas o que elas já sabiam.
Depois foi a vez da estrela Polar. Também ela não foi modesta ao explicar como ajudava os navegantes a encontrar o norte e não se cansava de ensinar o caminho certo a quem tinha dúvidas.
Cruzeiro do Sul aproveitando a deixa, logo pediu a palavra e, se a estrela Polar era perita em ensinar os caminhos do norte, com os do sul era com ela. Não havia explorador austral, nem viajante do sul que não lhe apreciasse os préstimos. Uma estrela pouco conhecida, mas nem por isso mais discreta, contou como fora dela que Einstein se servira para confirmar a sua teoria da gravidade, quando ela passara por trás do sol, durante um eclipse.
 E assim, todas as outras estrelas falaram de seus méritos e das suas glórias, pois num Capítulo Geral, todas podem falar e contar o que quiserem. De resto, cada uma elogiava tanto a si própria que nem era fácil saber qual delas seria a melhor.
Todas não, pois havia uma, meio envergonhada e quase escondida, que se mantinha calada e sem nenhuma vontade de falar. É que não se lembrava realmente de nada para dizer. Não sabia de nenhum cientista que a tivesse descoberto ou de algum serviço prestado à humanidade. E foi isso mesmo que confessou, quando só faltava ela para falar e o seu nome estava ainda em aberto. Com franqueza disse não saber para que servia nem isso lhe preocupava.
Isto era uma vergonha! As outras olharam-se umas para as outras, escandalizadas com essa parasita que ocupava um posto inútil no firmamento e...puseram-se a rir. E depois das zombarias vieram as censuras e cobranças : se ela não servia para nada  que é que estava fazendo ali? Lugares como aquele eram só para quem tinha alguma luz para dar.
Mas ela, enquanto ouvia as reprimendas, começou a pensar : Não, até que sirvo para alguma coisa. Enquanto os homens não me descobrem, eles continuam à minha procura, têm consciencia de que ainda não sabem tudo e continuam a investigar. Eles não sabem para que eu sirvo, mas talvez já se tenham dado conta que há no firmamento algo que com a sua força de gravidade afeta a rota das outras estrelas. E isso faz com que eles se mantenham despertos e continuem a pesquisar.
As outras estrelas foram-se calando e ouvindo. E a estrela concluiu : será que a minha missão não é dizer aos homens que ainda não sabem tudo e que lhes falta ainda algo por descobrir?’
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Quantas estrelas não haverá por descobrir entre nós, em nossas comunidades e famílias! Jean Vanier diz que o que constrói a comunidade é o dom de cada um. E este dom não é tanto o serviço que se presta, a competência ou habilidade com que se desempenha um cargo, mas a luz que cada um tem. Há luzes que iluminam a partir de dentro e ninguém sabe de onde se origina. Às vezes é a delicadeza de um porteiro, a humildade de uma velhinha, o sorriso do jardineiro...
Não lhes perguntem o que fazem ou para que serve o que eles fazem, pois não saberiam responder. Mas, sem eles, ficaríamos às escuras.
Fonte :  
* Artigo publicado em Vida Consagrada, 198 – Janeiro 1998. Adaptado de Padre Adélio Torres Neiva, C. S. Sp. (missionário espiritano (+2010)). 
Revista Beneditina nrº 30, Novembro/Dezembro de 2008, editado pelas monjas beneditinas do Mosteiro da Santa Cruz – Juiz de Fora/Minas Gerais.