Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
jornalista
‘Neste número da Além-Mar damos
um grande destaque ao drama que está a viver o Sudão, envolvido num conflito
esquecido, devastador e pouco mediatizado.
A guerra civil começou no dia 15 de Abril de 2023
com confrontos em Cartum, a capital do Sudão, entre o Exército sudanês e as
Forças de Ação Rápida (RSF). As duas forças lutam pelo controle do poder no
país. O conflito já fez mais de 15 mil mortos e 8,6 milhões de deslocados e
refugiados; 24,8 milhões de sudaneses enfrentam insegurança alimentar e, sem
ajuda internacional, um milhão de pessoas poderão morrer de fome este ano.
Um ano depois do início do conflito, em Abril
passado, as Nações Unidas organizaram a conferência internacional do Sudão em
Paris, procurando chamar a atenção para uma das maiores catástrofes humanas no
planeta. António Guterres, secretário-geral da ONU, lembrou que, por estar com
a atenção centrada nas tensões no Médio Oriente, o mundo «se está a esquecer do
povo do Sudão». O diplomata português sublinhou que esta «é uma guerra contra
os muitos milhares de civis que foram mortos e dezenas de milhares de mutilados
para o resto da vida. É uma guerra contra os direitos humanos e o direito
humanitário internacional». Da conferência resultaram as promessas de ajuda no
valor de dois mil milhões de euros, mas ainda falta muito para os obter.
Na declaração final, os participantes na
conferência – co-presidida pela Alemanha, França e União Europeia – instaram as
partes em conflito a porem termo às violações dos direitos humanos e a
permitirem o acesso da ajuda humanitária. Um apelo que não foi ouvido.
Percebe-se que nenhum dos grupos armados está disponível para conversar,
alcançar um cessar-fogo e traçar um caminho para a paz. Pelo contrário, em
Maio, milícias do Darfur que se tinham mantido neutrais desde o princípio do
conflito decidiram apoiar o Exército e os combates estenderam-se também a
El-Fasher, a capital do Darfur do Norte, a única cidade desse Estado que tinha
escapado aos horrores da guerra.
Sabemos que o país é rico em recursos naturais,
nomeadamente urânio e ouro, e as potências estrangeiras, interessadas em
explorar esses recursos, financiam os grupos envolvidos na guerra. Numa
entrevista ao jornal Público, a investigadora Daniela Nascimento,
professora da Universidade de Coimbra, especialista no Sudão, sublinhava,
precisamente, que o conflito «está a ser apoiado a partir de fora» : «Temos a
Arábia Saudita envolvida, temos o Qatar, os Emirados Árabes Unidos. Temos, por
outro lado, as Forças de Apoio Rápido a serem apoiadas no terreno pelo Grupo
Wagner, tendo como contrapartida o acesso às minas de ouro do Sudão.»
Apesar desta situação dramática, os missionários
continuam o seu labor evangelizador no país. Os Missionários Combonianos e
outros religiosos foram obrigados a deixar as suas missões e obras. Em Cartum,
como refere o padre Jorge Naranjo, destruíram grande parte da cidade e o
Comboni College (Universidade dos Combonianos) deixou de funcionar nas suas
instalações e mudou-se para Porto-Sudão, no mar Vermelho, com aulas que se
fazem sobretudo em modalidade virtual.
Sem perder a esperança, e levantando a nossa prece
a Deus, sonhamos com um futuro melhor para o povo do Sudão’.
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/1234/a-guerra-esquecida-do-sudao/
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