Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘A partir da fala do Papa
Francisco, onde ele diz que ‘a escuta corresponde ao estilo humilde de Deus’,
vamos refletir sobre como os católicos leigos podem exercer a escuta, deixando
de apenas ouvir para, de fato, escutar e se compadecer com a dor do outro.
Seria interessante destacar momentos na vida de Jesus em que Ele escutou o
interior das pessoas, mesmo sem que elas tivessem dito algo.
Como nos fala o Salmo 40, o Senhor ‘se inclina e escuta’ o clamor de quem
Nele espera. Este é um ato de humildade, que mostra ser necessária uma
disposição interior para escutar com atenção e com o coração.
Em sua missão, ao anunciar a proximidade do Reino de Deus e a
necessidade da verdadeira conversão, Jesus mostrou que a escuta é o primeiro
passo para que grandes milagres aconteçam. Mesmo em situações em que a cura
necessária poderia ser previsível, como diante do cego sentado à beira do
caminho, Jesus faz questão de perguntar : ‘O que queres que eu te faça?’ (Lc
18, 41), como quem diz : ‘Fala-me o que há em teu coração, desejo escutar tuas
necessidades mais urgentes!’
Mesmo quando nada lhe falavam, Jesus escutava além, pois aquele ou
aquela que estava diante Dele tornava-se o alvo central de sua atenção. Ele
observava tudo : o olhar, os gestos, o silêncio… Tinha por certo que nada era
mais importante do que entrar na vida daquela pessoa. A pecadora caída,
apresentada no Evangelho de Lucas, não diz uma palavra sequer, mas, ao banhar
os pés de Jesus com suas lágrimas e secá-los com seus cabelos, é por Ele
escutada e recebe o perdão, diante de tanto amor expresso, para assim recomeçar
a sua vida.
Em algumas ocasiões, como no encontro com a Samaritana (Jo 4, 1-29),
Ele mesmo criava o momento de escuta, seguindo até o ‘poço da vida’ de cada um
para revelar sua verdade, escutando a vida escondida nas marcas, nas dores e
nas lutas. O diálogo que Jesus inicia com esta mulher parece desinteressado
quando lhe pede um pouco de água. Mas
é justamente com essas interlocuções simples – e até banais – que Ele nos
ensina algo fundamental sobre escutar com o coração : que todos têm algo a
oferecer, ainda que seja um pouco de água, e que a boa escuta começa com a
compreensão de quão importante é aquela pessoa que irá falar.
Santa Teresa de Calcutá nos ensina que ‘não devemos permitir que alguém
saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz’. Este júbilo interior
começa, certamente, com a escuta; quando, olhado nos olhos, alguém é
interpelado : ‘Mas você está bem mesmo? Pode falar!’ e, na confiança fraterna,
pode dizer o que se passou e o que sente diante disso.
Se olharmos nossas vivências cotidianas, perceberemos que ainda nos
falta algo para este ‘escutar com o coração’. E não podemos nos prender à
justificativa mais corriqueira de nossos dias : ‘Não tive tempo para escutar…’
A experiência com Cristo deve sempre nos motivar a imitar os seus gestos e
seguir aquele ‘aprendei de mim’ (Mt 11, 29) que Ele nos propõe.
Como na Última Ceia, no Lava-pés (Jo 13, 1-17), Jesus nos diz hoje que
é preciso fazer com os outros aquilo que Ele faz conosco. Seja no silêncio do
Sacrário ou na oração pessoal no quarto, o Senhor sempre se dispõe a nos
escutar. Isso para que saibamos que Ele não nos abandona, mas também para que
compreendamos que, ao escutar com o coração aqueles que chegam até nós, estamos
cooperando com a manifestação de seu amor que abraça toda criatura.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://revistaavemaria.com.br/o-dom-de-escutar-no-servico-do-reino-de-deus.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário