segunda-feira, 29 de julho de 2024

Inácio de Loyola : de cavaleiro a peregrino

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de João Melo,

professor


De cavaleiro destemido a humilde peregrino. A jornada de Inácio é um testemunho poderoso de conversão e dedicação à fé. No dia 31 de julho, celebramos a festa de Santo Inácio de Loyola, um homem cuja vida foi marcada por uma notável transformação espiritual.

Depois que se recuperou de um ferimento de batalha, Inácio iniciou uma peregrinação que o levou a um encontro com Nossa Senhora de Montserrat em um mosteiro. Durante sua peregrinação de Loyola até Montserrat, ele refletia sobre as grandes obras que desejava realizar por amor a Deus.

O que muita gente não sabe é que a imagem de Nossa Senhora de Montserrat é carinhosamente chamada de La Moreneta, em português A Moreninha. Ela recebe esse nome devido à cor negra da imagem, resultante da fumaça das velas, caso parecido com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, no Brasil, que também é negra. 

Mulheres negras são quase 28% da população brasileira, o maior grupo populacional do país, porém, mulheres e meninas negras são as pessoas que mais vivem em vulnerabilidade social; especialmente as moradoras de periferias, morros e favelas, enfrentam barreiras significativas no acesso a todos os tipos de direitos e serviços púbicos, inclusive aos meios adequados para questões de saúde. Por isso, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns alerta que em nossos tempos é preciso cuidar para que decisões de governo precipitadas não deixem de considerar adequadamente os direitos das mulheres e não as criminalizem em casos em que tenham sofrido alguma violência, especialmente aquelas mulheres em situação de vulnerabilidade. 

Nossa Senhora de Montserrat tem uma história milagrosa. Segundo antigos escritos sua imagem foi encontrada por uns pobres pastorinhos em 880, em uma distante caverna na montanha de Montserrat, após seguirem uma luz misteriosa. Quando tentaram mover a imagem para o centro da cidade de Manresa, ela se tornou tão pesada que foi impossível movê-la, evidenciando o desejo da Virgem de permanecer no local onde fora encontrada, na periferia da montanha sagrada. ‘A Moreninha’ queria permanecer com os pobres. 

A Companhia de Jesus, congregação fundada por Santo Inácio de Loyola, tem como uma das suas prioridades de missão no tempo presente caminhar com os empobrecidos, os descartados do mundo, os vulneráveis em sua dignidade, em uma missão de reconciliação e justiça.

Para marcar sua nova vida, Inácio realizou uma vigília, vestido como cavaleiro, na noite anterior à Festa da Anunciação, em 24 de março de 1522. Doou suas roupas finas a um mendigo e vestiu-se com um hábito feito de pano de saco. Passou a noite ora em pé, ora de joelhos, diante do altar de Nossa Senhora de Montserrat, em oração fervorosa. Aos pés do altar, pendurou sua espada e seu punhal, simbolizando a renúncia às suas antigas aspirações de cavaleiro e a dedicação ao serviço de Cristo.

Após uma noite de oração, Inácio partiu de Montserrat ao amanhecer, desejando evitar qualquer reconhecimento e honra de nobre cavaleiro. Vestido humildemente, iniciou sua vida como peregrino, carregando apenas um caderno onde anotava suas descobertas espirituais. Esse caderno se tornaria os Exercícios espirituais. Assim, Inácio abraçava uma vida de quem caminha com os pobres, a exemplo do desejo de sua ‘Senhora Moreninha’. 

A verdadeira transformação espiritual requer coragem, humildade e um profundo compromisso com a fé. Sua jornada de cavaleiro a peregrino nos convida a refletir sobre nossas próprias vidas e ambições. Quais são os nossos desejos profundos? Como queremos contribuir para o Reino de Deus? Nossa caminhada de vida também passa por caminhar ao lado dos mais empobrecidos e ajudá-los em seus direitos e necessidades? Assim como Inácio somos chamados a discernir a ação de Deus em nossas vidas e a responder com generosidade.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/inacio-de-loyola-de-cavaleiro-a-peregrino.html


sábado, 27 de julho de 2024

Santa Marta (Século I)

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da redação da revista Ave Maria


‘Não podemos falar de Marta sem nos lembrar ao mesmo tempo de sua irmã, Maria, e do irmão, Lázaro. Moravam em Betânia, uma aldeia a leste de Jerusalém, atrás do monte das Oliveiras, a poucos quilômetros da cidade santa.

Deviam ser de família economicamente abastada, pois puderam hospedar e dar de comer a Jesus e aos doze apóstolos quando estavam de passagem da Galileia para Jerusalém e nos últimos dias que antecederam a paixão de Cristo. Entre eles e Jesus existia uma amizade profunda, pois haviam aceitado totalmente a mensagem e a missão do Mestre e tinham colaborado com Ele, colocando à sua disposição seus bens. De sua parte, ‘Jesus queria muito bem a Marta, a sua irmã e a Lázaro’ como observa o evangelista João (cf. 11,5). São três os fatos evangélicos que lhes dizem respeito de maneira especial.

A raiz do amor

O evangelista Lucas (cf. 10,38-42), depois de ter relatado a estupenda parábola do bom samaritano para demonstrar quanto é necessário o amor concreto para com o próximo a fim de poder entrar no reino messiânico, apresenta uma simpática cena acontecida durante uma das estadas de Jesus na casa de Betânia.
Certo dia, Marta, como de costume, havia recebido com alegria a comitiva e, como boa dona de casa, pôs-se logo a preparar a refeição. Não era pouca coisa providenciar alimento para treze homens com apetite dobrado depois da longa viagem desde Jericó.

Maria, ao contrário, ‘sentada aos pés de Jesus, escutava sua palavra’ (v. 39). Marta em certo momento, chegou com muita confiança e disse : ‘Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha no serviço? Diz, pois, a ela que me ajude’ (v. 40). Um pedido, podemos dizer, mais que legítimo. Jesus então respondeu : ‘Marta, Marta, tu te preocupas e te agitas com muitas coisas, mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada’ (v. 41-42).

Jesus apreciava o amor concreto de Marta, mas teria preferido que, antes de começar os serviços da casa, tivesse ficado um pouco, também ela, a escutar a Palavra que lhe daria luz e sabedoria. Na tradição, Maria personificou a vida contemplativa e Marta, a ativa, às vezes injustamente contrapostas, pois a ação e a contemplação não estão em contradição, mas unidas intimamente entre si. Já Santo Agostinho diz que ninguém deve ser tão contemplativo que não o faça para a utilidade do próximo; nem tão ativo que não procure a contemplação de Deus. Na vida contemplativa, não nos deve atrair a quietude inerte, mas a busca e a descoberta da verdade como na vida ativa, não devemos amar a honra nesta terra ou o poderio, mas a fadiga. Por isso, o amor da verdade procura a contemplação, a necessidade da caridade aceita a ação. Chiara Lubich, falando às pessoas do nosso tempo, acrescenta : ‘Nós temos uma vida interior e uma vida exterior. Uma é florescência da outra, uma é raiz da outra, uma é da outra copa da árvore da nossa vida. A vida interior é alimentada pela vida exterior. Quanto mais eu penetro a alma de meu irmão, mais eu penetro Deus em mim, quanto mais eu penetro Deus dentro de mim, tanto mais penetro no irmão. Deus, eu, o irmão : é tudo um mundo, tudo um reino’.

A ressurreição de Lázaro

Outro fato que nos revela a família de Betânia aconteceu um pouco antes da Páscoa (cf. Jo 11,1-44). Lázaro estava gravemente enfermo e Jesus se encontrava na Galileia. As duas irmãs rapidamente mandaram um mensageiro dizer-lhe : ‘Senhor, eis que teu amigo está doente’ (v. 3), certas de que viria logo e o curaria, mas, quando Jesus chegou, Lázaro já tinha sido sepultado. Marta foi a primeira a perceber a chegada do Mestre. Correu a seu encontro e lhe disse : ‘Senhor se tivesses estado aqui meu irmão não teria morrido! Mas eu sei que tudo o que pedires a Deus, Deus te concederá’ (vv. 21-22). Jesus lhe garantiu que o irmão ressuscitaria. Maria lhe disse : ‘Sei que ressuscitará no último dia’ (v. 24).

A resposta de Jesus foi uma daquelas que dão fundamento à inaudita esperança cristã : ‘Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá e quem vive e crê em mim, não morrerá para sempre. Crês nisto?’ (vv. 25-26). A resposta foi uma sincera profissão de fé : ‘Sim, Senhor eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo, aquele que devia vir ao mundo’ (v. 27).
Maria, não sabendo da chegada de Jesus, estava em casa com parentes e amigos que tinham vindo de Jerusalém e de outras cidades vizinhas para consolar as duas irmãs. Marta voltou para casa correndo e lhe deu a notícia.

Falou-lhe às escondidas para impedir que seu encontro com o Mestre fosse perturbado pelas pessoas que pouco ou nada conheciam dele. Os parentes, vendo Maria sair de casa e pensando que fosse até o sepulcro para chorar, seguiram-na. Jesus com os apóstolos estavam esperando na estrada. Ele, depois de ter abraçado Maria e ter escutado sua queixa – ‘Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido’ –, ficou muito comovido, quis ser levado até o sepulcro e prorrompeu em prantos. Alguns dos presentes comentaram : ‘Vede como ele o amava!’; outros, ao contrário começaram a rir : ‘Aquele que abriu os olhos do cego não poderia também impedir que ele morresse?’ (v. 37).

Jesus – segundo o relato de João – ordenou que fosse retirada a pedra e Marta, pensando que quisesse ver o cadáver para última saudação, advertiu-o de que não era possível, pois estava sepultado havia quatro dias e já exalava mau cheiro. Jesus lhe disse : ‘Não te disse que, se cresses, verias a glória de Deus?’ (v. 40).
Retirada a pedra, podia-se ver, na cavidade do sepulcro, a figura imóvel do defunto, envolvido em um lençol funerário, bem amarrado com faixas e o sudário. Jesus, depois de fazer uma oração ao Pai, gritou em voz alta : ‘Lázaro, vem para fora!’ (v. 43). Aquele que estava morto voltou a viver neste mundo para a alegria das irmãs, em meio ao assombro das pessoas e, infelizmente, também para raiva das autoridades de Jerusalém, que não viam com bons olhos o profeta de Nazaré realizar milagres.

A cena da despedida

Para as duas irmãs e para Lázaro era um ceia festiva de agradecimento pelo milagre acontecido, sem saberem que seria a última ceia de Jesus na casa deles. O evangelista João observou o seguinte, ‘seis dias antes da Páscoa’ (12,1-8), portanto, poucos dias antes da morte de Jesus. Uma ceia preparada, como de costume, com muito esmero e dirigida, como de costume, com competência de quem recebe : ‘Marta servia’, comenta o evangelista.

Em certo momento, Maria apanhou da despensa da casa ‘uma libra de óleo perfumado de nardo legítimo, muito precioso, começou a espalhá-lo nos pés de Jesus e a enxugá-los com os cabelos, e toda a casa se encheu do perfume do unguento’ (v. 3).

Todos ficaram admirados : Maria havia gasto uma fortuna para demonstrar o amor que possuía pelo Mestre. Isso não agradou a Judas Iscariotes, que queria vender aquele perfume e conseguir pelo menos trezentos denários, talvez a quantia de um ano inteiro de salário. Disse que aquele dinheiro poderia ser usado para ajudar os pobres, mas o evangelista observa que dizia isso não porque ele se interessasse pelos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, furtava o que nela lançavam. De qualquer modo, sua observação não serviu para nada, pois o próprio Jesus tomou a palavra em defesa de Maria : ‘Deixai-a fazer, ela guardou este perfume para o dia de minha sepultura. Os pobres de fato sempre os tereis entre vós, mas a mim nem sempre me tereis’ (vv. 7-8). Essas são as informações que temos dos evangelhos. O que terá acontecido aos três depois da ressurreição de Jesus? Certamente terão feito parte da comunidade cristã, mas, não podemos dizer mais do que isso. É pura lenda que eles teriam ido para Marselha, onde Lázaro teria sido o primeiro bispo.

O culto a eles difundiu-se bastante em todo o Oriente e também em algumas regiões do Ocidente. O rito latino, tendo identificado erroneamente Maria com Madalena, nessa data só comemora Marta.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/santa-marta-seculo-i.html

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Continua a emergência em Cabo Delgado

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo do L'Osservatore Romano

Ataques ferozes, depois a fuga para o mato. Mais ataques e ainda mais ataques. A situação em Cabo Delgado, a província mais pobre e mais setentrional de Moçambique, é a mesma desde 2017. Os milicianos jihadistas, ligados ao autodenominado Estado islâmico, continuam a atacar comunidades, aldeias, cidades. Matam, destroem, aterrorizam. Um massacre que é perpetrado no silêncio da comunidade e dos meios de comunicação internacionais. A vítima desta situação dramática é a população moçambicana, que muitas vezes é obrigada a colaborar com os jihadistas, quando não consegue fugir. É por isso que a Igreja católica está comprometida todos os dias na assistência aos deslocados internos, através da assistência à saúde, à educação e à espiritualidade, graças à Cáritas diocesana de Pemba e à presença dos missionários nas paróquias.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.osservatoreromano.va/pt/news/2024-07/por-029/continua-a-emergencia-em-cabo-delgado.html

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Para onde caminha o mundo que muda?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Miguel Oliveira Panão,

professor

 

O mundo está sempre a mudar. Esta consciência da revolução temporal acontece na sequência do trabalho de Charles Darwin, mas apenas a ideia de seleção natural é insuficiente. Pois, o mundo muda em que direção e sentido? É nesta fase que os pensamentos começam a divergir em duas vertentes.

Uma vertente atribui as mudanças ao fruto de um acaso, uma alteração aleatória, uma mutação inesperada. Porém, esse pensamento associa-se mais ao nível daquilo que acontece à matéria biológica, mas torna-se inaplicável à matéria cultural. A outra vertente considera haver por detrás de cada mudança uma intenção, um telos. Ou seja, na interioridade de cada coisa que muda existe uma propensão para mudar numa certa direção e sentido. Creio que existe uma lei que une ambas as vertentes e as explica como sendo uma só coisa. A lei da complexidade-consciência, formulada pelo jesuíta e paleontólogo Teilhard de Chardin (1881–1955).

Teilhard notou que o aumento de complexidade nos elementos do mundo natural parecia estar acompanhado de uma intensificação da consciência que ocorre na interioridade desses elementos. Contudo, para ligar o aumento da complexidade à intensificação da consciência seria necessário haver um espaço de possibilidades (acaso) onde os relacionamentos entre os elementos ofereçam, por assim dizer, a cada um, a possibilidade de experimentar a consciência adequada à sua condição. Não é só de humanum que vive a consciência.

Em 2012, um grande grupo de investigadores das ciências cognitivas assinou a que ficou conhecida como A Declaração sobre a Consciência de Cambridge onde afirmam : «A ausência de um neocórtex não parece impedir um organismo de experienciar estados afetivos. Evidências convergentes indicam que os animais não humanos possuem os substratos neuroanatomicos, neuroquímicos e neurofisiológicos dos estados conscientes, juntamente com a capacidade de exibir comportamentos intencionais. Consequentemente, o peso das evidências indica que os seres humanos não são únicos em possuir os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológicos.»

O mundo muda na direção de uma maior complexidade de relacionamentos contingentes a partir dos quais emerge a consciência à medida da condição de cada um. 

Contudo, a complexidade gera diversidade e a consciência gera diferentes níveis de interioridade. Poderá essa diversidade ser sinal de fragmentação do mundo e as várias interioridades sinal de discriminação?

É aqui que as pessoas se esquecem do elemento final da lei da complexidade-consciência formulada por Teilhard : o ponto ômega. Um ponto que se alimenta de duas razões : o amor e a sobrevida. O amor mantém a diversidade unida. A sobrevida reconhece que o espaço e o tempo são apenas uma passagem para o que está além desses. O ponto ômega é o ponto de convergência no fim do mundo que muda.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/1218/para-onde-caminha-o-mundo-que-muda/


terça-feira, 23 de julho de 2024

Infância usurpada, futuro roubado

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do L'Osservatore Romano

 

Infância usurpada, futuro roubado. Milhões de crianças no mundo não só sofrem diariamente com as guerras em que estão envolvidas, como também são obrigadas a suportar outras violações graves, indescritíveis. Marcas que ficarão na sua pele para o resto da vida. Os dados da Unicef são impiedosos : em 2023, mais de 32.000 violações graves contra elas, o número mais elevado nunca registado durante o mandato da Caac (Children affected by armed conflict), um aumento de 22% em relação a 2022.

Há 4.312 casos de crianças palestininas mortas ou mutiladas e 70 casos de crianças israelitas. No Sudão, 4,6 milhões de crianças deslocadas, com um aumento de 500% das violações graves perpetradas contra elas. Na República Democrática do Congo, quase 300 episódios de violência sexual, incluindo violações, abusos de grupo, casamentos forçados e escravatura sexual, especialmente contra as meninas. Números horríveis : salvaguardar a dignidade dos mais pequeninos significa garantir um futuro para a humanidade.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.osservatoreromano.va/pt/news/2024-07/por-027/infancia-usurpada-futuro-roubado.html

domingo, 21 de julho de 2024

O preço da exclusão

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Emiliano Magistri


No mundo 250 milhões de meninas e meninos são excluídos da escola. Este é um dos dados contidos em The price of inaction: The global private, fiscal and social costs of children and youth not learning, o relatório da Unesco que faz um resumo da situação geral, até hoje, em termos de evasão escolar e falta de instrução.

Trata-se de um fenômeno  extremamente preocupante que tem também um impacto social considerável do ponto de vista económico, uma vez que o custo estimado é de 10.000 bilhões de dólares por ano até 2030 : para entender melhor as dimensões do que poderíamos definir como um verdadeiro flagelo, basta pensar que o valor é maior do que o Pib anual da França e do Japão juntos. Portanto, é um apelo à responsabilidade geral.

Direito humano universal. Assim foi declarada a educação em 1948, um título reafirmado em 2015 pelas Nações Unidas, que incluiu o acesso à educação de qualidade para todos entre os Objetivos de desenvolvimento sustentável. No entanto, apesar das boas intenções, os eventos atuais dizem que ainda há um longo e sinuoso caminho a percorrer. Com efeito, aos números mencionados acima, que já são impiedosos por si só, devemos acrescentar que 70% das crianças de 10 anos de idade que vivem em países de baixa e média renda são hoje incapazes de entender qualquer simples texto escrito.

Fazer com que as pessoas entendam que a educação é um investimento estratégico, não apenas para os indivíduos, mas inclusive para todos os países, é o objetivo deste relatório com o qual a Unesco procura falar uma linguagem clara, mas eficaz : reduzir em apenas 10 pontos a percentagem de evasão escolar ou de pessoas que não adquiriram habilidades básicas permitiria que o Pib anual crescesse de 1 a 2 pontos percentuais.

Deixando de lado as questões financeiras, o que deve enfocado é o enorme dano social que estas carências formativas geram. Procurar preencher estas enormes lacunas na aprendizagem implica um maior foco mundial no desenvolvimento integral das meninas, ajudando a reduzir as possibilidades de casamento precoce (ou até forçado) e gestações prematuras. Portanto, agir nesta direção torna-se uma prioridade.

Significativo neste sentido foi o que ocorreu durante uma reunião de ministros da educação realizada recentemente na sede da Unesco em Paris : Audrey Azoulay, diretora-geral, convidou os 194 Estados-membros da organização a cumprir o seu compromisso de «transformar a educação de um privilégio numa prerrogativa para cada ser humano no mundo», enfatizando como a própria educação representa um recurso fundamental para enfrentar os desafios atuais, desde a redução da pobreza até ao combate contra as mudanças climáticas.

Para garantir que a educação de qualidade para todos seja transformada de Objetivo de desenvolvimento sustentável num resultado concreto, o relatório da Unesco sugere dez recomendações para os governos de todo o mundo : garantir percursos educacionais gratuitos e com financiamento público por um período mínimo de 12 anos para todas as meninas e meninos, destinando pelo menos 4-6% do Pib para a educação; criar ambientes de aprendizagem inclusivos que desafiem as desigualdades, os preconceitos e os estereótipos de género; investir na educação infantil para abordar as desigualdades de género e as normas prejudiciais de género desde a mais tenra idade; oferecer apoio académico e opções de segunda oportunidade para meninas e meninos que não tiveram acesso à educação ou que a interromperam; melhorar a infraestrutura escolar, com estruturas hídricas e de saneamento e garantir distâncias mais curtas para as alcançar; assumir professores qualificados e motivados e apoiar o seu desenvolvimento profissional; conscientizar as comunidades locais e as famílias sobre a importância de que meninas e meninos concluam um ciclo completo de educação básica; abordar a saúde mental e o bem-estar mental de meninas e meninos, a educação sexual abrangente e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais; ligar os alunos ao mundo do emprego, incluindo educação e treinamento vocacional que atenda às necessidades do mercado de trabalho; realizar pesquisas sobre o que funciona para reter ou trazer meninas e meninos de volta à escola, especialmente aqueles com alto risco de pobreza de aprendizagem e evasão escolar.

Foi em 2014 que, durante uma reunião com o mundo escolar, o Papa Francisco disse : «Ir à escola significa abrir a mente e o coração para a realidade, na riqueza dos seus aspetos, das suas dimensões. E não temos o direito de recear a realidade». É hora de o demonstrar.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.osservatoreromano.va/pt/news/2024-07/por-029/o-preco-da-exclusao.html

sexta-feira, 19 de julho de 2024

O Deserto do Saara, uma fronteira mortal para migrantes e refugiados

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

Migrantes da África Subsaariana alegam terem sido abandonados no deserto pelas autoridades tunisianas, perto da fronteira com a Líbia, após os tumultos em Sfax, 16 de julho de 2023.  (AFP or licensors)


*Artigo de Delphine Allaire


‘Se o Mediterrâneo é um cemitério, o deserto é um calvário. Para efeitos deste novo relatório intitulado ‘Nesta jornada, ninguém se importa se você vive ou morre’, 32 mil migrantes e refugiados foram entrevistados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), onde descrevem ossos e cadáveres espalhados na areia e confidenciando seu medo de morrer durante a travessia. Vincent Cochetel, enviado especial do ACNUR para o Mediterrâneo Ocidental e Central, apresentou o relatório na sexta-feira, 5 de julho, em Genebra.

Porque é que a travessia do Saara parece ser mais perigosa do que a travessia do Mediterrâneo?

O primeiro perigo que os migrantes e refugiados nos falam diz respeito aos ataques de gangues criminosas e bandidos que os roubam, privando-os de todos seus pertences. Para as mulheres, existe um risco maior de violência sexual nestas rotas. Depois existe a violência por parte dos contrabandistas ou traficantes que obrigam as pessoas a fazer um certo número de coisas no caminho. Não é a bela viagem que foi prometida, mas extorsões, trabalho forçado e, por vezes, a exploração sexual. Os perigos também vêm das autoridades nos postos fronteiriços, de pessoas que abusam da sua posição para extorquir dinheiro destes infelizes migrantes e refugiados no deserto, e não apenas nas rotas que levam ao Norte de África ou depois à Europa por barco, mas também aquelas que vão para o interior e para o sul do continente africano.

Eles viram pessoas morrendo no deserto, pessoas que caíram de caminhões e não foram resgatadas pelos contrabandistas ou doentes abandonados no meio do nada. A maior parte deles viu principalmente cadáveres nessas estradas no sul da Argélia, no norte do Níger, no sul da Líbia, mas também em outras partes do Saara.

Porém, quando fazemos a pergunta : ‘Você conhece alguém que morreu no mar?’ Recebemos muito menos respostas. Com base nestes relatos, acredita-se que haja muito mais mortes na terra firme do que no mar.

Como obter informações e atuar no Saara? Não é um buraco negro para as ONG e as instituições internacionais?

Certamente. Existem vários buracos negros como esses aos quais poucas pessoas ou ninguém têm acesso. Para as organizações internacionais é muito difícil ir até lá devido às condições geográficas extremas, mas também porque os Estados não querem que as organizações humanitárias testemunhem esta violência silenciosa e secreta. Trata-se de um fenômeno que recebe pouca cobertura midiática porque é menos visível do que um barco em perigo no Mar Mediterrâneo.

As organizações humanitárias precisam encontrar outros canais de informação : trabalhar um pouco mais com os líderes tradicionais, com as autoridades locais, que são testemunhas e, por vezes, também elas vítimas destes grupos. Trabalhar em um sistema de investigação, identificação e referenciação destas pessoas que controlam pequenas cidades e oásis nessas rotas.

Qual é o perfil dos migrantes que tentam a travessia do deserto? Seus países de origem estão mudando?

Em termos gerais, o perfil não muda muito. Dependemos muito dos dados fornecidos pelos Estados.

Quando migrantes e refugiados atravessam o Mediterrâneo para chegar à Europa, aproximadamente uma em cada duas pessoas obtém asilo ou autorização humanitária na Europa. Considera-se, portanto, que uma em cada duas pessoas necessita de proteção internacional. A outra pessoa geralmente deixa o seu país por razões econômicas, para estudar na Europa ou qualquer outra coisa.

No continente africano é praticamente a mesma coisa. A maioria dos migrantes e refugiados permanece no continente africano permanecem no país vizinho ao seu país de origem com a intenção, quando as coisas melhorarem, de regressar para casa.

As únicas mudanças recentes que tiveram um impacto nesta mobilidade em direção ao Norte da África são as crises sudanesas – 10 milhões de pessoas deslocadas – e a guerra no Mali e no Burkina Faso, que força muitos cidadãos destes países ao exílio. Aqui, novamente, nem todos vão em direção do Norte da África, muitos burquinenses vão principalmente para os países do Golfo da Guiné, na África Ocidental.

Uma vez superados os perigos do Saara, as pessoas ainda estão dispostas a atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa?

No seu próprio país, 21% das pessoas entrevistadas afirmaram ter em mente um destino e que, independentemente das informações sobre os perigos, dariam o melhor de si para alcançá-lo. 79% se arrependeram de ter feito esta escolha : se soubessem quais seriam os riscos reais, não teriam realizado a viagem. É muito interessante. Para muitos, a Líbia é o destino final.

Que políticas de acolhimento estão em vigor nos países da costa norte-africana no final da viagem ao Saara? Com quais possíveis violações e abusos observados?

O principal problema é que todos os países do Norte da África ratificaram instrumentos internacionais relativos à proteção dos refugiados, sejam eles instrumentos internacionais ou instrumentos regionais, mas nenhum país do Norte da África tem uma lei sobre asilo.

Todos os outros países do continente africano possuem sistemas de asilo que funcionam mais ou menos bem, o que não é o caso do Norte da África. Estes países alegam sempre que são países de trânsito. Isso não é verdade. Na época da pandemia, há três anos, vimos todos os tipos de comunidades, tanto migrantes como refugiados, nos países do Norte da África, a maioria dos quais trabalhavam no setor informal da economia. Contudo, sem um quadro legislativo, isto significa que as pessoas não têm o direito de permanecer. A situação deles é muito precária.

E com os incidentes derivados das divisões em algumas comunidades, existe o risco de que as coisas acabem mal, como as ondas de expulsões da Argélia para o Níger, da Tunísia para a Líbia, para a Argélia, da Líbia para outros países vizinhos. Estas expulsões em massa não são a solução, porque as pessoas vão para outros países e depois partem novamente.

Quais soluções de proteção podem ser elaboradas para melhorar a assistência nestas rotas do Saara e por que atores?

Os Estados devem chegar a um acordo. Nenhum Estado sozinho pode responder aos desafios de uma melhor gestão destes movimentos no continente. Precisamos de trabalhar em uma abordagem baseada no percurso, nos caminhos que as pessoas percorrem. As dinâmicas nas comunidades não são necessariamente as mesmas, por isso devemos também fazer um esforço para saber quem as influencia, como financiam as suas viagens, que atividades do programa têm um valor estabilizador onde a proteção precisa ser melhorada, trabalhar no regresso; há pessoas que precisam de ajuda para voltar para casa. Deve ser implementada toda uma série de atividades, não apenas por parte de organizações humanitárias.

Os Estados devem assumir a responsabilidade por estas soluções baseadas em estudos no terreno e não devemos abandonar esta obrigação de solidariedade. Antes de tudo, precisamos salvar vidas humanas, independentemente do estatuto das pessoas envolvidas, sejam elas refugiados ou migrantes. É uma denominação importante, mas não em termos de ajuda emergencial. O traficante não sabe se uma pessoa é migrante ou refugiada. A Europa deve também ajudar os países ao longo destas rotas a criar mecanismos de proteção e assistência que proporcionem alternativas dignas às viagens perigosas e irregulares. Um pouco no espírito daquilo que os Estados europeus adotaram com alguns Estados africanos na cúpula de La Valleta em 2015.’


Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2024-07/o-deserto-do-saara-uma-fronteira-mortal-para-migrantes.html

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Claretianos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Diego Lelis, CMF


Há 175 anos, um homem chamado Antônio Maria Claret deixou os teares de sua infância na pequena vila de Sallent, na Espanha, para iniciar uma missão que transformaria inúmeras vidas ao redor do mundo. Claret, que era filho de um tecelão, trocou os fios de algodão pelos fios da fé, da esperança e do amor, tornando-se um verdadeiro tecelão de vidas e sonhos.

No dia 16 de julho do ano de 1849, na cidade espanhola de Vic, Santo Antônio Maria Claret reuniu um grupo de cinco sacerdotes – Estevan Sala, José Xifré, Manuel Vilaró, Domingos Fábregas, Jaime Clotet – e com eles fundou a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, posteriormente denominados missionários claretianos.

Claret, homem do coração forjado ao modo do coração de Maria e que carregava em suas mãos habilidosas a arte de tecer fios, tornou-se um grande tecelão de sonhos, de ideias, de vidas e projetos. Assim como os fios de algodão são entrelaçados para formar uma peça única e forte, ele acreditava que as vidas humanas poderiam ser entrelaçadas pela fé e pelo amor de Deus para unir o povo de Deus em direção ao Céu.

Ao longo destes 175 anos, a Congregação dos Missionários Claretianos se expandiu pelo mundo, chegando a todos os continentes e a diferentes culturas. Os missionários claretianos têm trabalhado incansavelmente em prol da educação, da justiça social e da evangelização por todos os meios possíveis. Cada obra, cada projeto, cada vida tocada representa um fio nesse vasto tecido claretiano.

No campo educacional, os missionários claretianos têm sido faróis de conhecimento e valores cristãos, formando gerações de jovens comprometidos com a construção de um mundo mais justo e fraterno. Nas comunidades mais carentes, têm sido vozes proféticas, lutando pela dignidade e pelos direitos dos marginalizados. Nas paróquias, têm sido presença e cuidado com todos aqueles que buscam na casa de Deus um lugar para repousar suas dores e entrar em contato com o divino. Na comunicação, utilizam-se da palavra, da imagem e do som para fazer ecoar ao mundo a mensagem do Verbo Encarnado. Nesse campo, a Revista Ave Maria é um testemunho concreto da evangelização por meio da comunicação.

Esses fios – os missionários e as vidas que eles tocaram – foram se entrelaçando ao longo dos anos, formando um tecido forte, vibrante e marcado por tantas histórias. Cada história de transformação, cada sorriso recuperado, cada esperança renovada é um testemunho do poder dessa tecelagem humana e divina iniciada na congregação por meio de Claret e seus companheiros.

No dia 16 de julho celebramos com alegria e gratidão os 175 anos da Congregação dos Missionários Claretianos. Celebramos o legado de Santo Antônio Maria Claret, que deixou os teares de sua infância para tecer um mundo melhor, e celebramos todos aqueles que, ao longo dos anos, contribuíram para essa obra grandiosa.

Esse aniversário é mais do que uma celebração do passado, é um convite a todos nós para continuarmos a ser fios nesse grande tecido, trabalhando juntos para tecer um futuro em que a fé, a esperança e o amor continuem a transformar vidas e a construir um mundo mais justo e fraterno.

Parabéns, missionários claretianos, pelos 175 anos de dedicação e amor! Que Santo Antônio Maria Claret continue a iluminar nossos caminhos e a inspirar nossas ações.’

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/claretianos.html

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Nossa Senhora do Carmo e as promessas do escapulário

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Frei Adailson Q. Santos


O Escapulário do Carmo está ligado a uma venerável tradição carmelita referente à ‘visão’ de São Simão Stock. Promessas foram feitas por Nossa Senhora do Monte Carmelo, que ainda fazem com que devotos utilizem com fé essa ferramenta de santificação.

As várias gerações do Carmelo, desde as origens até hoje, no seu itinerário até à montanha santa, Jesus Cristo nosso Senhor, procuraram plasmar as suas vidas segundo os exemplos de Maria. A nossa devoção e o nosso amor por Ela centraram-se, durante muitos séculos, no Escapulário. O rico patrimônio mariano do Carmelo tornou-se, através dos tempos e por meio da difusão da devoção do Santo Escapulário, um tesouro para toda a Igreja. Pela sua simplicidade, pelo seu valor antropológico e pela relação com o papel de Maria na Igreja e na humanidade, esta devoção foi profundamente e amplamente recebida pelo povo de Deus, a ponto de encontrar expressão máxima na sua solenidade no dia 16 de julho, para toda a família carmelitana.

No sinal do Escapulário evidencia-se uma síntese eficaz de espiritualidade mariana, que alimenta a devoção dos crentes, tornando-os sensíveis à presença amorosa da Virgem Mãe na sua vida. O Escapulário é essencialmente um ‘hábito’. Quem o recebe é agregado ou associado à Ordem do Carmo, dedicando-se ao serviço da Senhora para o bem de toda a Igreja. Quem veste o Escapulário é introduzido na terra do Carmelo, para que ‘coma os seus frutos’ (cf. Jer 2:7), e experimente a presença doce e materna de Maria, no empenho cotidiano de revestir-se interiormente de Jesus Cristo e de manifestá-lo vivo em si mesmo para o bem da Igreja e de toda a humanidade.

O Escapulário, por ser aprovado, confirmado e enriquecido de imensos privilégios, tem uma instituição eclesiástica. Foi a própria Igreja que o adotou como um sacramental. A graça conferida é a proteção especial de Nossa Senhora. Mas não a confere por si mesmo, pois não é um sacramento, mas apenas um sacramental. Aqueles que o usam devem implorar e merecer os benefícios por uma vida de dedicação a Maria Santíssima. Os benefícios do Escapulário do Carmo não são conferidos automaticamente. O Escapulário não é um remédio milagroso contra os males do corpo ou da alma, nem a garantia infalível de uma morte em estado de graça, ou da rápida libertação do Purgatório. É tão somente um motivo especial para que tal aconteça. As pessoas que usam o Escapulário devem merecer essas graças e benefícios por um modo de vida que corresponda ao sentido do Escapulário, isto é, por uma vida sinceramente cristã, pelo cumprimento dos deveres de cada dia, sob o olhar da Virgem Santíssima.

O Escapulário é um sinal ou indício de uma predileção inestimável de Amor. O segredo do cristão é a entrega de toda a sua vida a Maria, e ela o assistirá em todas as dificuldades, estando sempre próxima de quem a invocar, como desde há dois mil anos. Sua proteção é particularmente necessária na hora da morte. Diante do mistério desconhecido, pedimos ansiosamente a mão carinhosa da Mãe para que nos conduza e proteja, ajudando-nos a enfrentar a obscuridade, até sermos introduzidos no Reino da luz.

O Santo Escapulário do Carmo é uma recordação da especial proteção que a Santíssima Virgem uniu ao piedoso uso do seu hábito. Sua proteção estende-se durante toda a vida e especialmente na hora da nossa morte, como pedimos na Ave Maria : ‘rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte’ e como ela prometeu a São Simão Stock : ‘Filho caríssimo, recebe este Escapulário como sinal de proteção da tua Ordem. Eis o sinal da salvação!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/nossa-senhora-do-carmo-e-as-promessas-do-escapulario.html

domingo, 14 de julho de 2024

Consuma-se o horror sob os escombros em Gaza enquanto seguem negociações no Egito

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo da redação da Vatican News


‘Somente morte e devastação sob os escombros da vasta operação israelense em Shujaiya, um bairro da zona leste de Cidade de Gaza. Cerca de sessenta corpos sem vida foram descobertos pela Defesa Civil da Faixa de Gaza no momento em que tinham lugar as negociações no Catar e prosseguiram no Egito sobre um cessar-fogo entre Israel e o Hamas e a libertação dos reféns sequestrados durante o ataque de 7 de outubro.

Dez meses de guerra

No décimo mês da guerra e após o anúncio das Forças de Defesa de Israel (IDF) de que haviam concluído as operações lançadas em 27 de junho em Shujaiya, contra ‘terroristas’ e túneis de contrabando, o porta-voz da Defesa Civil de Gaza, Mahmoud Basal, informou que agora na área ‘85% dos edifícios estão inabitáveis’ e toda a infraestrutura foi ‘demolida’. Na quarta-feira, as IDF ordenaram a evacuação de todos os residentes, cerca de 300 a 350 mil pessoas, de acordo com uma estimativa da ONU. Enquanto as operações prosseguem no centro da cidade de Gaza e, em particular, na sede da Unrwa, onde Israel acredita que se encontram membros do Hamas, o jornal alemão ‘Bild’ informou que o Ministério das Relações Exteriores de Israel enviou uma carta ao comissário geral da agência da ONU para refugiados palestinos, Philippe Lazzarini, listando os nomes de 108 funcionários da organização considerados presumíveis terroristas da facção islâmica no poder em Gaza. Também há relatos de ataques israelenses em Rafah.

Negociações em andamento

Enquanto isso, na frente diplomática, as atenções se voltaram na sexta-feira para o Cairo, onde o enviado da Casa Branca para o Oriente Médio, Brett McGurk, continuou suas conversas com autoridades israelenses e egípcias sobre a trégua, os aspectos de segurança relativos ao acordo sobre os reféns e, em particular, a fronteira entre o Egito e Gaza, um ponto em que a linha do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu permanece firme, pois ele visa ao controle israelense do Corredor Filadélfia para impedir o contrabando de armas para o Hamas. Um sistema de vigilância eletrônica estaria sendo discutido a esse respeito. Sobre o plano de cessar-fogo, ‘ainda há diferenças a serem superadas, mas estamos progredindo’, garantiu o presidente dos EUA, Joe Biden, na coletiva de imprensa de encerramento da cúpula da Otan em Washington, no momento em que o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan anunciava o desmantelamento do cais de US$ 230 milhões que as forças armadas dos EUA construíram na costa de Gaza para levar ajuda humanitária à população exausta pelo conflito. Nos últimos dias, a equipe do Comando militar central tentou, sem sucesso, reposicionar a estrutura flutuante, depois que o mar agitado forçou os operadores a removê-la para evitar danos : o Pentágono falou de ‘problemas técnicos e relacionados ao clima’.

G7 condena política israelense de assentamentos

De Washington, à margem da cúpula da Otan, saiu uma posição dura do G7 sobre os assentamentos israelenses : os ministros das relações exteriores declararam que se juntam ‘à ONU e à UE na condenação’ do anúncio da legalização de ‘5 postos avançados’ na Palestina, conforme denunciado nos últimos dias por ongs e ativistas. ‘Rejeitamos também a decisão do governo israelense de declarar mais de 1.270 hectares na Cisjordânia como 'terra estatais' e de expandir os assentamentos existentes na Cisjordânia com 5.295 novas unidades habitacionais e estabelecer três novos assentamentos’, diz a nota, pedindo que ‘o governo israelense revogue a decisão’ e descrevendo o programa de assentamentos como ‘incompatível com a lei internacional e contraproducente’ para a paz.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2024-07/horror-escombros-gaza-palestina-israel-negociacoes-ONU-g7-ue.html

sexta-feira, 12 de julho de 2024

O dom de escutar no serviço do reino de Deus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Maurício Alves de Lucena Júnior 


A partir da fala do Papa Francisco, onde ele diz que ‘a escuta corresponde ao estilo humilde de Deus’, vamos refletir sobre como os católicos leigos podem exercer a escuta, deixando de apenas ouvir para, de fato, escutar e se compadecer com a dor do outro. Seria interessante destacar momentos na vida de Jesus em que Ele escutou o interior das pessoas, mesmo sem que elas tivessem dito algo.

Como nos fala o Salmo 40, o Senhor ‘se inclina e escuta’ o clamor de quem Nele espera. Este é um ato de humildade, que mostra ser necessária uma disposição interior para escutar com atenção e com o coração.

Em sua missão, ao anunciar a proximidade do Reino de Deus e a necessidade da verdadeira conversão, Jesus mostrou que a escuta é o primeiro passo para que grandes milagres aconteçam. Mesmo em situações em que a cura necessária poderia ser previsível, como diante do cego sentado à beira do caminho, Jesus faz questão de perguntar : ‘O que queres que eu te faça?’ (Lc 18, 41), como quem diz : ‘Fala-me o que há em teu coração, desejo escutar tuas necessidades mais urgentes!’

Mesmo quando nada lhe falavam, Jesus escutava além, pois aquele ou aquela que estava diante Dele tornava-se o alvo central de sua atenção. Ele observava tudo : o olhar, os gestos, o silêncio… Tinha por certo que nada era mais importante do que entrar na vida daquela pessoa. A pecadora caída, apresentada no Evangelho de Lucas, não diz uma palavra sequer, mas, ao banhar os pés de Jesus com suas lágrimas e secá-los com seus cabelos, é por Ele escutada e recebe o perdão, diante de tanto amor expresso, para assim recomeçar a sua vida.

Em algumas ocasiões, como no encontro com a Samaritana (Jo 4, 1-29), Ele mesmo criava o momento de escuta, seguindo até o ‘poço da vida’ de cada um para revelar sua verdade, escutando a vida escondida nas marcas, nas dores e nas lutas. O diálogo que Jesus inicia com esta mulher parece desinteressado quando lhe pede um pouco de água. Mas é justamente com essas interlocuções simples – e até banais – que Ele nos ensina algo fundamental sobre escutar com o coração : que todos têm algo a oferecer, ainda que seja um pouco de água, e que a boa escuta começa com a compreensão de quão importante é aquela pessoa que irá falar.

Santa Teresa de Calcutá nos ensina que ‘não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz’. Este júbilo interior começa, certamente, com a escuta; quando, olhado nos olhos, alguém é interpelado : ‘Mas você está bem mesmo? Pode falar!’ e, na confiança fraterna, pode dizer o que se passou e o que sente diante disso.

Se olharmos nossas vivências cotidianas, perceberemos que ainda nos falta algo para este ‘escutar com o coração’. E não podemos nos prender à justificativa mais corriqueira de nossos dias : ‘Não tive tempo para escutar…’ A experiência com Cristo deve sempre nos motivar a imitar os seus gestos e seguir aquele ‘aprendei de mim’ (Mt 11, 29) que Ele nos propõe.

Como na Última Ceia, no Lava-pés (Jo 13, 1-17), Jesus nos diz hoje que é preciso fazer com os outros aquilo que Ele faz conosco. Seja no silêncio do Sacrário ou na oração pessoal no quarto, o Senhor sempre se dispõe a nos escutar. Isso para que saibamos que Ele não nos abandona, mas também para que compreendamos que, ao escutar com o coração aqueles que chegam até nós, estamos cooperando com a manifestação de seu amor que abraça toda criatura.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/o-dom-de-escutar-no-servico-do-reino-de-deus.html