Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Em 1870, o Papa Pio
IX iniciou com as chamadas Audiências Gerais, uma tradição que se prolonga até
os dias de hoje. Elas acontecem às quartas-feiras, e são um modo do Sumo
Pontífice relacionar-se mais de perto com os peregrinos. Nelas são proferidas
as chamadas ‘catequeses’. Fato é que enquanto ainda era cardeal, o Papa João
Paulo II iniciou a escrita de um livro que acabou não sendo terminado
justamente em virtude de sua eleição. Tal livro, intitulado Homem e
Mulher Ele o Criou, teve seus capítulos apresentados durante essas
audiências entre os anos de 1979 e 1984.
Foram
129 catequeses a respeito da Teologia do Corpo, e ao longo de suas explicações,
o Pontífice esclarece que a união de Adão e Eva no Paraíso, antes do projeto de
Deus ser distorcido pela desobediência, reflete um outro enlace ainda mais
importante : as núpcias do Cordeiro, o casamento entre Deus e o homem. É
interessante notar o desejo de Deus em unir-se à humanidade, ou seja, o ser
humano foi feito para este casamento último. É por isso que nenhum homem ou
mulher encontrará em seu companheiro aqui na Terra o preenchimento do coração,
porque somente em Deus será saciado o anseio do coração humano.
Mas
é necessário ter em mente que o namoro ou o casamento não podem ser empecilhos
para a aproximação com Deus, pelo contrário, o relacionamento de amor honesto,
casto, de doação deve ser um trampolim para o Divino e o desejo que se sente
pelo sexo oposto deve refletir a busca pela verdadeira felicidade que, como já
foi dito, somente será saciada em Deus.
Durante
sua explanação, o Papa afirma que ’a revelação cristã reconhece
duas formas específicas de realização completa da vocação do amor do ser
humano : matrimônio e celibato’. E continua dizendo que ‘tanto uma quanto a
outra, em sua forma própria, representa a realização da verdade mais profunda a
respeito de o homem ter sido criado à imagem de Deus’.
O
celibato por amor a Deus ilumina de forma extraordinária o matrimônio, pois
recorda aos esposos que a finalidade de cada um é a vida eterna, o casamento
eterno com Deus. Juntos, o casal deve caminhar rumo ao seu objetivo, sem
colocar um no outro a razão da felicidade, pois isso seria destruidor para
ambos. O sacerdote, por sua vez, à luz do matrimônio, deve se recordar que está
despojado de si mesmo em função do outro, como um esposo deve ser. Por isso o
celibato é uma grande riqueza da Igreja e aboli-lo seria, de certa forma,
destruir o matrimônio, pois é ele que lança luz e recorda a verdadeira finalidade
do ser humano : contemplar Deus face a face.
É a
liberdade que move o homem na busca por algo. Se é através da liberdade que se
encontra a luz da sabedoria, e também a possibilidade de amar, assim também
ocorre com a primeira característica fundamental do celibato. Na Igreja existem
aqueles que têm a vocação divina para o matrimônio e aqueles que têm a vocação
divina para o celibato. O que existe no mundo hoje é uma crise de ambas as
vocações. Se faltam vocações sacerdotais, faltam também matrimoniais. A solução
para as duas crises não é abolir o celibato dos padres, mas fazer com que todos
vivam suas próprias vocações de maneira plena.
Por
ser livre, o celibato é também sobrenatural, já que a matriz do que se entende
por verdadeira liberdade é o condicionamento direto com o criador, e. por isso,
o celibato é totalmente incompreensível para aqueles que não têm fé. Não crer
na ação de Deus, em sua presença, em seu poder de transformar e capacitar o ser
humano para o voo rumo ao céu, faz com que não se creia igualmente na
possibilidade da vivência do celibato. Mesmo com uma vida apostólica é preciso
ter oração, até para ter algo a oferecer aos irmãos. Não é possível viver o
celibato sem a graça do Espírito Santo.
Viver
o chamado de forma consciente e plena é viver a perfeita liberdade, e abolir o
celibato, como muito se tem escutado, não é a solução para a pedofilia, nem a
cura para transtornos de origem sexual. É preciso entender que a liberdade é
consequência de uma vida ascética e mística e ao ser livre não é válida a
escolha pela prisão em vícios, distúrbios e pecado. Portanto, estejamos prontos
ao real matrimônio sem esvaziar o sentido verdadeiro que tal união significa.’
Referências
- São João Paulo II, Teologia do
Corpo – O amor humano no plano divino, Editora Ecclesiae, 2014
- WEST, Christopher, Teologia do
Corpo para principiantes : Uma introdução básica à revolução sexual por
João Paulo II, Ed. Myrian, Porto Alegre, 2008, pag. 79-89.
- Site :
https://padrepauloricardo.org/aulas/o-celibato-por-amor-ao-reino-dos-ceus
Fonte : *Artigo na íntegra
https://pt.aleteia.org/2023/09/10/teologia-do-corpo-o-celibato-por-amor/
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