Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
teólogo protestante
‘Nestes
últimos dias, mais uma vez, ficou-se sabendo de outro escândalo envolvendo
pastores evangélicos. Trata-se da pasta do Ministério da Educação, em que
pastores ligados ao Ministro cobravam propina para intermediar verbas para
escolas de diversos municípios. Nessas tratativas, como mostram diversas
reportagens, também se pedia que se comprassem 1000 bíblias, no valor de
R$50,00 cada, o que daria R$50.000,00 a mais por essa intermediação.
Que
tal caso seja bizarro e vergonhoso para a comunidade evangélica, não se tem
dúvidas. Considerar-se como pedágio para o uso de verba pública, fruto de
impostos pagos pelos/as cidadãos/as do município, é um acinte. Contudo, mais
uma vez, tal situação revela algo muito importante, que aparentemente, tem-se
deixado de lado durante muito tempo, a saber, a urgência de cursos de teologias
em universidades públicas no país.
Já
há algum tempo, tenho insistido em diversos textos neste portal sobre essa
temática. A questão religiosa é um fator importante para a sociedade brasileira.
Por mais que diversos discursos acadêmicos tentem a todo custo reduzir a
teologia a mera questão confessional, as consequências de se deixar tais cursos
somente em instituições eclesiásticas tem se mostrado como um grande problema
para a sociedade.
Parte
desse problema é que nas faculdades eclesiais, em sua maioria, o que se tem são
líderes eclesiásticos (pastores, pastoras, padres, bispos etc.) como aqueles e
aquelas responsáveis pelo ensino. Nas mais cuidadosas, há a exigência de que o
corpo docente tenha uma formação adequada, com mestrado e doutorado. Em outras,
principalmente evangélicas, em muitos casos nem isso é exigido, uma vez que a
hora de um/a docente doutor/a é mais cara para a faculdade, o que implica ter
somente o mínimo necessário para manutenção do curso junto ao Ministério da
Educação (MEC). Sem contar aquelas que não são nem reconhecidas pelo MEC,
geralmente evangélicas, e que servem como seminários doutrinais, nos quais a
doutrina de determinado segmento é ensinada aos futuros/as pastores/as e
líderes dessas denominações.
Uma
vez que o ensino teológico formal fica restrito somente a esses meios
eclesiásticos, o que se tem muitas vezes é um ensino pouco diversificado, com
uma visão restrita da diversidade religiosa presente no país e, não raras as
vezes, formadora de panelinhas de ensino, em que somente amigos e amigas dos
líderes recebem a oportunidade de ensinar alguma disciplina. Tal ensino, por
sua vez, sendo vigiado para que não se fale nada que não seja de acordo com ‘a
sã doutrina’ de determinado segmento.
Juntamente
com isso, tem-se o alto custo para estudar teologia no país. Uma vez que todos
esses cursos são em faculdades privadas, na maioria das vezes, um curso
presencial se torna inviável de ser feito pelas pessoas comuns. Acrescenta-se a
isso a ausência de mercado de trabalho e se tem sempre o mesmo clube no ensino
teológico do país.
A
ausência de uma teologia pública aliada ao fortíssimo sentimento religioso
existente no Brasil se mostra, assim, como prato cheio para líderes inescrupulosos
e manipuladores, que usam o discurso da fé para enganar seus fiéis, controlar o
estado e fazer com que o país avance para uma teocracia, o que por si só é
extremamente perigoso.
Fomentar
o ensino de teologia nas universidades públicas se torna urgente, se não
queremos que cada vez mais setores fundamentalistas cristãos se infiltrem nos
ambientes de tomada de poder e transformem o país em um outro esquema de amigos
e amigas do líder.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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