Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Uma boa exemplificação seria imaginar um mundo bidimensional em que seus habitantes conseguem ver somente coisas em duas dimensões
*Artigo de
Fabrício Veliq,
teólogo protestante
‘Bernard
Lonergan (1964-1988) foi um teólogo jesuíta canadense que possui uma reflexão
interessantíssima tanto para a filosofia como para a teologia contemporânea.
Neste pequeno texto, gostaria de apresentar os quatro âmbitos da consciência
definidos por ele, a saber, o âmbito do senso comum, o da teoria, o da
interioridade e o da transcendência.
Segundo
Lonergan, o âmbito do senso comum é o mundo do dia a dia, algo que muda de
cultura a cultura. Podemos dizer que o senso comum são todas as maneiras de
relacionar as coisas a nós, sendo definido pelo mundo da experiência. Para
ficar mais claro, basta imaginarmos o mundo de uma criança recém-nascida onde
tudo que existe é aquilo que se pode experimentar, totalmente apreendido por
meio dos sentidos.
O
segundo âmbito é o da teoria. Este começa a surgir quando começamos a fazer
algumas perguntas que o senso comum não consegue responder. Perguntas do tipo :
‘o que é isso?’, ‘por que tal coisa é dessa forma?’, por exemplo,
são próprias do âmbito da teoria no pensamento de Lonergan.
Nesse
campo procuramos as relações entre as coisas e não ficamos baseados somente nos
dados que recebemos de nossas experiências cotidianas. Um bom exemplo que
podemos citar é o de Sócrates quando ele perguntava sobre as definições das
coisas. Ao se perguntar : ‘o que é a justiça?’, ou ‘o que define um
homem bom?’ etc., Sócrates coloca perguntas que fogem ao nível do senso
comum e necessitam de uma explicação em nível teórico. Essa diferenciação da
consciência entre teoria e senso comum, de acordo com Lonergan, é algo que deve
ser feito pelo ser humano.
O
terceiro âmbito é o âmbito da interioridade. Este começa a surgir quando as
perguntas depois da teoria nos fazem voltar para dentro dos nossos processos
cognitivos. Não é mais suficiente procurar a relação da coisa em si, mas como
se conhece essas relações. Nesse ponto, não se presta atenção aos objetos em si
somente pelos olhos da teoria, mas também se passa a prestar atenção no sujeito
que a conhece. Dessa forma, após o momento teorético, refletindo, deve-se
procurar algo que une o senso comum à teoria, partindo para o nível da
interioridade.
Uma
boa exemplificação seria imaginar um mundo bidimensional em que seus habitantes
conseguem ver somente coisas em duas dimensões. O habitante que atinge o nível
da interioridade seria semelhante a uma formiga que vive em um mundo
tridimensional e consegue ver todos os movimentos que ocorrem sobre o mundo
bidimensional. Se tomarmos tal exemplo, segundo Lonergan, essa simples formiga
teria uma visão muito melhor desse mundo do que todos os habitantes do mundo
bidimensional.
O
quarto âmbito proposto por Lonergan é o âmbito da transcendência. Nele não é
possível se chegar naturalmente, sendo necessário que tal transcendência venha
primeiramente a nós. Quando isso acontece, quando a consciência interiorizada
entra em contato com o mundo da transcendência, ela começa a mudar a sua forma
de viver. Esse âmbito, para Lonergan, é o âmbito em que estamos próximos de
Deus.
Conhecer o pensamento de Lonergan é instigante e, sem dúvida, sua filosofia e teologia podem contribuir muito para a compreensão do mundo em que vivemos. Se essas pequenas e superficiais indicações servirem para aguçar o interesse para a leitura desse pensador, esse texto terá cumprido o seu objetivo.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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