sexta-feira, 7 de maio de 2021

O poder dos catequistas na visão de Francisco

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
O então padre Jorge Bergoglio e sua avó Rosa Vassallo

*Artigo de Mirticeli Dias de Medeiros,

jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras

credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé

 

‘Quando o papa está ‘quieto demais’, mesmo que esse adjetivo não combine tanto com Francisco – convenhamos –, é sinal de que decisões importantes estão por vir.

Em abril, depois de 3 semanas sem atividades de grande destaque dentro do Vaticano, a aparente calmaria deu lugar a uma sequência de mudanças que só demonstram o quanto o pontífice está empenhado em seu projeto de reforma. O pragmatismo do santo padre é tão evidente, que ele nem esperou a publicação da nova constituição apostólica de reestruturação da cúria romana, prevista para junho, para mexer em algumas questões.

Do ponto de vista administrativo, o fim do foro privilegiado dos cardeais foi, sem dúvida, a medida que mais chamou a atenção. Porém, não foi só a estrutura que sentiu o impacto dos ‘ventos bergoglianos’, que quando pairam sobre Cúria Romana, vêm em forma de rajada. Esta semana, as paróquias do mundo todo foram surpreendidas com a notícia de que o ofício de catequista passará a ser um ministério instituído, como os ministérios acolitado e leitorado, por exemplo. O decreto entra em vigor no dia 11 de maio através da publicação do motu proprio Antiquum Ministerium. Mas o que muda?

Ao que tudo indica, o texto estabelecerá regras para a escolha e formação dos catequistas. E a atividade, até então considerada bastante informal, receberá, na prática, um reconhecimento especial e oficial por parte da instituição.

Quem não se lembra daqueles que nos prepararam para a primeira comunhão? Esses ‘mestres da fé’ certamente integram a lista de memórias da nossa infância. E mesmo que o ex-catequizando não continue participando da Igreja, nunca vai esquecer onde ouviu a história do filho pródigo, de Noé ou de Jonas pela primeira vez. Como usar a expressão ‘fazer o bem sem olhar a quem’ sem associá-la à parábola do bom samaritano?

O nome do documento, que oficializa a decisão do pontífice, já é, em si, bastante sugestivo. Em português, significa ‘ministério antigo’, já que, de fato, é uma das atividades mais antigas da história da Igreja. Sem contar que Francisco já planejava elevar esse serviço à qualidade de ministério há alguns anos, por considerá-lo uma vocação, não uma simples função pastoral.

Maria foi a catequista do Filho de Deus. Jesus Cristo catequizou seus discípulos. Os primeiros cristãos criaram uma verdadeira escola de preparação para o batismo. E, nessa época, o papel das mulheres se destaca, uma vez que, em algumas comunidades cristãs, eram justamente as diaconisas as formadoras dos recém-convertidos.

A catequese sempre foi considerada a essência da ação evangelizadora do catolicismo. Francisco, como bom jesuíta, sabe disso. E como neto de dona Rosa, ‘la luchadora’, como ele carinhosamente se refere à mãe do seu pai, também. Foi ela quem ensinou o garoto Jorge a ir às procissões da Semana Santa, a fazer reverência ao crucifixo, a rezar o terço.

Como isso, ele também homenageia sua avó e tantas outras que, até hoje, prepararam jovens e adultos para receber os sacramentos. Ele acredita que, por trás de um bom padre – com ‘cheiro de ovelhas’, como ele gosta de dizer –, muitas vezes há um ótimo catequista que o instruiu. E por trás de um bom catequista, um bom cristão. E é esse ciclo que Francisco não quer romper.

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1514747/2021/05/o-poder-dos-catequistas-na-visao-de-francisco/

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