Papa Pio XII conduziu a Igreja Católica entre os anos 1939 e 1958
*Artigo
de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das
poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de
Imprensa da Santa Sé
‘O
papa Pio XII volta para o centro das atenções. Desta vez, sem as especulações
que caracterizaram o seu pontificado até agora. Para alguns, um pontífice que
foi difamado. Para outros, um líder religioso que se omitiu diante das
atrocidades de Adolf Hitler. Pio XII e seu famoso silêncio. Por que ele não
disse nada? E se ele tivesse dito, quais consequências isso acarretaria? Se quisermos
ser honestos o suficiente, os dois questionamentos são válidos. Sobretudo em um
período no qual até as perguntas são condicionadas pelas ideologias.
Um
papado que não é observado levando em conta o contexto, certamente ficará à
mercê de interpretações apaixonadas, como acontece hoje. Uma prova disso são as
várias instrumentalizações relativas aos decretos de Pio XII contra o comunismo
feitas atualmente. Para quem tem o mínimo de bom senso, sabe que a condenação à
esquerda, em se tratando de espectro político, e pensando na conjuntura atual,
jamais foi feita.
O problema está em interpretar um documento com
o olhar do presente. E em se tratando de catolicismo, isso é extremamente
perigoso. É como pegar a bula Unam Sanctam, de Bonifácio VIII, e
aplicá-la no presente. Analisar um sumo pontífice, quer dizer adentrar na sua
trajetória e na de seus antecessores e sucessores, justamente porque o papado
denota essa hermenêutica da continuidade. Se quebramos esse ciclo, faremos as
análises mais surreais possíveis.
Não
podemos nos esquecer que, à época, o ateísmo comunista e as várias outras
atrocidades cometidas pelo regime colocaram a Santa Sé em estado de alerta. Pio
XI - que anos antes havia condenado o fascismo, foi muito mais brando,
justamente porque Benito Mussolini permitiu uma série de concessões à Igreja
Católica e autorizou que ela exercesse, quase que livremente, a sua pastoral.
Além
disso, os papas que sucederam Pacelli, atualizando essa condenação ‘aos
vermelhos’, souberam exprimir essa diferença. João XXIII que o diga. Ao
falar da ‘liberdade de associação’, na sua encíclica Pacem in
terris, era consciente que, numa democracia - a qual se reerguia a duras
penas no período em que ele viveu -, os dois pólos são importantes.
Pio
XII foi declarado servo de Deus por Bento XVI em 2009. O reconhecimento causou
indignação entre os judeus. À altura, os jesuítas começavam a desempoeirar os
20 mil documentos relativos ao pontificado de Eugenio Pacelli, nome de batismo
do papa de origem romana. Na época, os pesquisadores tinham a esperança de que
todo o acervo de atas, cartas e escritos pessoais desse papa finalmente seriam
colocados à disposição dos estudiosos.
Portanto,
há muito tempo se preparam para essa abertura, que se concretizará com a
autorização de Francisco no próximo dia 2 de março. Para a Santa Sé, um modo de
mostrar o trabalho feito por Pio XII em prol dos judeus que, de acordo com
relatos da própria comunidade judaica, abrigou muitos daqueles que escapavam
das tropas nazistas nos palácios vaticanos.’
Fonte
:
* Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1424040/2020/02/vaticano-tira-veu-sobre-o-arquivo-de-pio-xii/
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