*Artigo
de Bernardino Frutuoso,
Jornalista
‘Em
novembro passado, o Papa Francisco celebrou a Eucaristia na Catacumba de
Priscila, em Roma. É um cemitério dos primeiros séculos do Cristianismo, que
abrange treze quilômetros de galerias subterrâneas. Nessa ocasião, o Santo
Padre lamentou que haja «tantas catacumbas noutros países, onde os cristãos
devem fingir comemorar um aniversário para celebrar a Eucaristia, que é
proibida para eles». E sublinhou que nos dias de hoje «há cristãos
perseguidos, mais do que nos primeiros séculos», indicando que, em muitos
países, «ser cristão é um crime, é proibido, não é um direito».
Efetivamente,
parece que a globalização da violência e a perseguição religiosa estão a ser
uma constante no novo milênio. Hoje em dia, segundo os dados do último
relatório da Portas Abertas, estima-se que mais de 245 milhões de pessoas no
mundo são vítimas de graves perseguições por professarem a fé em Jesus Cristo.
Nos 150 países analisados pela organização no último ano, foram assassinados
2983 cristãos, 3711 foram detidos e 9488 igrejas foram atacadas. São números
dramáticos, em constante aumento. Além disso, milhões de fiéis cristãos são
oprimidos, humilhados, torturados, discriminados, condicionados na vida privada
e pública por causa da sua crença religiosa.
São
múltiplos os motivos para oprimir e perseguir as comunidades cristãs.
Relacionam-se com o ressurgimento do fundamentalismo islâmico, mas também com
as questões do nacionalismo religioso de algumas nações, nomeadamente a China e
a Índia, enfrentamentos de tipo étnico ou tribal, ações de controle social de
governos autoritários ou ditatoriais.
A
perseguição aos cristãos é um escândalo e um retrocesso civilizacional. À
discriminação, incerteza, impotência, medo e dor que sofrem esses crentes,
junta-se a pouca relevância que lhes é dada no cenário internacional. E essa
indiferença social deve ter alguma explicação. Regis Debray (n. 1940), um
filósofo e cientista social francês, menciona a metáfora do «ângulo morto», aquele que as câmaras de cinema e
fotografia ignoram. Usando essa representação simbólica como chave para
interpretar este fenômeno social, pode-se compreender que, para o mundo
ocidental, os cristãos perseguidos não são visíveis, não
inquietam, não interessam, não são uma prioridade.
Hoje,
os cristãos são um dos maiores coletivos sociais vítimas de hostilidades,
apesar dos muitos tratados internacionais que consagram o direito fundamental
da liberdade religiosa. Apesar disso, nos mais variados contextos sociais de
sofrimento, intolerância e acosso em que vivem, esses discípulos de Jesus não
sucumbem, mantêm-se fiéis no seguimento do Mestre de Nazaré. Em muitos países,
os missionários acompanham-nos nessa peregrinação marcada pelo sofrimento e a
morte – no ano passado foram assassinados 29 católicos, homens e mulheres, testemunhas
do Evangelho sem fronteiras e do amor universal. Essas comunidades cristãs
perseguidas são sementes vivas do Reino de Deus e sinais de perdão,
reconciliação, paz e fraternidade. São um apelo constante para a construção de
um mundo melhor, onde se consolide o respeito pela dignidade e os direitos de
todos.’
Fonte
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