quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Alguns pensam que a fé verdadeira nunca é assaltada pela dúvida…

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

GIRL,EYES,UP 
*Artigo de Dom Henrique Soares da Costa,
Bispo de Palmares, PE


Mas é, porque ‘todo crente é peregrino diante Daquele que, antes de ser Palavra, é Silêncio’


A respeito dos permanentes desafios que a realidade impõe à nossa razão e à nossa fé, que são as duas asas com as quais o espírito humano se eleva à contemplação da Verdade (cf. encíclica Fides et Ratio, de São João Paulo II), o bispo brasileiro da diocese de Palmares, PE, Dom Henrique Soares da Costa, nos propõe os seguintes pensamentos sobre ‘a aventura de crer’. O texto de Dom Henrique foi publicado por ele em 2015, mas sua validade é perene.

A aventura de crer
Pensam alguns que a fé verdadeira nunca é assaltada pela dúvida, por períodos de profunda escuridão, de secura dos sentimentos e noite profunda do entendimento, que nos impede de sentir, de compreender, de articular nossa afirmação mais fundamental da existência : ‘Eu creio!’
Todo crente é peregrino diante Daquele que, antes de ser Palavra, é Silêncio.
Deus é Mistério infinito,
Deus é Noite escura que nos deixa cegos com Sua luminosidade,
Deus é o Santo, o Separado, o Diverso de tudo o mais,
Radicalmente incomparável!
Deus é Aquele que Se revela escondendo-Se
E Se esconde revelando-Se…
Deus… Como percebê-Lo, esquadrinhá-Lo, ter a pretensas soberba de compreendê-Lo,
A Ele, que tem mundo inteiro escondido na palma da Sua mão?
Eis : estamos Nele, tudo está Nele : na palma da Sua mão!
Assim, caminhar com o Senhor exige radical atitude de fé humilde e peregrina!
Uma fé que não atravesse o deserto das perguntas muitas vezes sem resposta,
Uma profissão de fé que não experimente, por vezes, as pesadas noites do não-sentir, do não-saber, do não mais ter perspectiva, é uma fé que não foi suficientemente provada… Não conheceu o verdadeiro e tremendo cadinho que a faz amadurecer entre lágrimas, cansaços, lutas e procuras…

Crer não é compreender tudo!
Crer exige a tremenda e sempre desafiadora pobreza de colocar-se diante de um Deus que é Mistério, um Deus que não nos presta contas de Seus atos e Seus silêncios, porque já nos disse tudo e tudo de Si nos explicou na Cruz e na Ressurreição do Seu Filho.
E, no entanto, crer é perguntar pelo Senhor,
É sempre, de novo, repor a pergunta sobre Ele!
Crer é procurá-Lo,
Por Ele ansiar,
Por Ele esperar,
É antevê-Lo em tudo,
É divisar, de modo misterioso, Seus passos benditos,
De modo que o coração teimoso e cansado advinha :
‘Ele esteve aqui! Ele passou por aqui!’ – E tudo, de repente, torna-se bendito,
Só pela presença Dele, pela passagem Dele, pelos rastros Dele!
Crer é teimar em viver assim : nômade, andarilho, peregrino,
Até compreender que procurar é já encontrá-Lo
E encontrá-Lo é pôr-se sempre, de novo, a procurá-Lo!
A fé é uma adesão ao Mistério,
É um constante e sofrido pôr-se em marcha, como Abraão,
Pôr-se em saída, como Moisés…
Vamos, peregrino, como eu!
Vamos de novo,
Vamos, que é Páscoa, é Passagem
– a vida neste mundo é tua embarcação, não tua morada!
Vamos como na Noite da Vigília :
O Cristo feito Círio à frente, luminoso, no meio da noite do mundo e da fé;
E nós, atrás,
Sua pobre Igreja,
Por vezes cansada,
Por vezes confusa,
Sempre por Ele sustentada na potência do Seu soberano Espírito!
Vamos! Vamos!
Digamos ainda, de novo, teimosos :
‘Senhor, eu creio! Sustenta minha pobre fé, até o fim,
Até a plena Visão! Amém!’

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