*Artigo de Dom Henrique Soares da Costa,
Bispo
de Palmares, PE
A respeito dos
permanentes desafios que a realidade impõe à nossa razão e à nossa fé, que são
as duas asas com as quais o espírito humano se eleva à contemplação da Verdade
(cf. encíclica Fides et Ratio, de São João Paulo II), o bispo
brasileiro da diocese de Palmares, PE, Dom Henrique Soares da Costa, nos propõe
os seguintes pensamentos sobre ‘a aventura de crer’. O texto de Dom
Henrique foi publicado por ele em 2015, mas sua
validade é perene.
A aventura de crer
Pensam alguns que a
fé verdadeira nunca é assaltada pela dúvida, por períodos de profunda
escuridão, de secura dos sentimentos e noite profunda do entendimento, que nos
impede de sentir, de compreender, de articular nossa afirmação mais fundamental
da existência : ‘Eu creio!’
Todo crente é
peregrino diante Daquele que, antes de ser Palavra, é Silêncio.
Deus é Mistério
infinito,
Deus é Noite escura
que nos deixa cegos com Sua luminosidade,
Deus é o Santo, o
Separado, o Diverso de tudo o mais,
Radicalmente
incomparável!
Deus é Aquele que Se
revela escondendo-Se
E Se esconde
revelando-Se…
Deus… Como
percebê-Lo, esquadrinhá-Lo, ter a pretensas soberba de compreendê-Lo,
A Ele, que tem mundo
inteiro escondido na palma da Sua mão?
Eis : estamos Nele,
tudo está Nele : na palma da Sua mão!
Assim, caminhar com o
Senhor exige radical atitude de fé humilde e peregrina!
Uma fé que não
atravesse o deserto das perguntas muitas vezes sem resposta,
Uma profissão de fé
que não experimente, por vezes, as pesadas noites do não-sentir, do não-saber,
do não mais ter perspectiva, é uma fé que não foi suficientemente provada… Não
conheceu o verdadeiro e tremendo cadinho que a faz amadurecer entre lágrimas,
cansaços, lutas e procuras…
Crer não é compreender tudo!
Crer exige a tremenda
e sempre desafiadora pobreza de colocar-se diante de um Deus que é Mistério, um
Deus que não nos presta contas de Seus atos e Seus silêncios, porque já nos
disse tudo e tudo de Si nos explicou na Cruz e na Ressurreição do Seu Filho.
E, no entanto, crer é
perguntar pelo Senhor,
É sempre, de novo,
repor a pergunta sobre Ele!
Crer é procurá-Lo,
Por Ele ansiar,
Por Ele esperar,
É antevê-Lo em tudo,
É divisar, de modo
misterioso, Seus passos benditos,
De modo que o coração
teimoso e cansado advinha :
‘Ele esteve aqui! Ele
passou por aqui!’ – E tudo, de repente, torna-se bendito,
Só pela presença
Dele, pela passagem Dele, pelos rastros Dele!
Crer é teimar em
viver assim : nômade, andarilho, peregrino,
Até compreender que
procurar é já encontrá-Lo
E encontrá-Lo é
pôr-se sempre, de novo, a procurá-Lo!
A fé é uma adesão ao
Mistério,
É um constante e
sofrido pôr-se em marcha, como Abraão,
Pôr-se em saída, como
Moisés…
Vamos, peregrino,
como eu!
Vamos de novo,
Vamos, que é Páscoa,
é Passagem
– a vida neste mundo
é tua embarcação, não tua morada!
Vamos como na Noite
da Vigília :
O Cristo feito Círio
à frente, luminoso, no meio da noite do mundo e da fé;
E nós, atrás,
Sua pobre Igreja,
Por vezes cansada,
Por vezes confusa,
Sempre por Ele
sustentada na potência do Seu soberano Espírito!
Vamos! Vamos!
Digamos ainda, de
novo, teimosos :
‘Senhor, eu creio!
Sustenta minha pobre fé, até o fim,
Até a plena Visão!
Amém!’
Fonte
:
* Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2020/01/06/alguns-pensam-que-a-fe-verdadeira-nunca-e-assaltada-pela-duvida/
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