quarta-feira, 20 de março de 2019

Sobre a pressa e a perseverança


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Diante de um mundo tão apressado, torna-se importante atentar para os processos que ocorrem no mundo natural.
*Artigo de Fabrício Veliq,
teólogo protestante


Nas relações interpessoais também é possível perceber o mesmo fenômeno. Não é difícil ouvir relatos de pessoas que dizem demandar do companheiro ou companheira mudanças rápidas e de um dia para o outro, sem levar em conta todo um processo que, muitas vezes, determinadas pessoas necessitam para readaptações e adequações a um novo modo de viver.

As empresas, formadas por pessoas, seguem na mesma toada e, assim, já querem que seus funcionários e funcionárias cheguem prontas para a função que farão. Treinamentos, quando existem, devem ser feitos de maneira ‘rápida e eficiente’, uma vez que ‘tempo é dinheiro’ e, portanto, manter um funcionário ou funcionária em treinamento por mais de um dia, em alguns lugares, chega a ser um desatino para a boa gestão.

Quando se move para a esfera religiosa, é possível perceber também esse tipo de comportamento. Muitas pessoas, quando pensam na relação com Deus e com o sagrado, fazem-no de acordo com os parâmetros da sociedade e urgente na qual se vive. Assim, não é difícil encontrar pessoas que desejam uma intimidade com Deus e com a comunidade, mas sem estarem dispostas a passar tempo com ela, nos círculos de convivência da Igreja ou nos grupos de estudos bíblicos e orações. Diante das inúmeras coisas que precisam ser feitas nesse mundo sempre correndo, a própria construção dos relacionamentos duradouros também são vistos sob essa perspectiva.

Dessa forma, deixa-se de lado um dos princípios básicos para conhecimento de qualquer coisa ou pessoa – a dedicação do tempo. Não se criam amigos e amigas sem dedicação, sem esforço e sem perseverança. De maneira análoga, caso se queira ser amigo ou amiga de Deus, é necessário estar disposto a passar tempo com ele e se interessar pelas questões as quais ele também se interessa. Como toda amizade, a amizade com Deus também demanda um caminhar continuo em direção a Ele.

Os próprios Evangelhos, em suas narrativas, mostram como Jesus exorta seus discípulos para o princípio de que aqueles e aquelas que perseverarem até o fim serão salvos/as, o que pressupõe que o Reino de Deus não é alcançado com pressa, mas com constância. Diversas parábolas de Jesus, ao falar a respeito do Reino de Deus, também trazem essa perspectiva. Esse Reino, entre outras metáforas, é comparado tanto à semente de mostarda quanto ao fermento que leveda toda massa. Nos dois casos, é possível perceber tanto a estreita ligação que Jesus faz com os fenômenos naturais do dia a dia das pessoas com quem ele falava quanto a perspectiva da espera necessária para alcançar esse Reino.

Tanto na agricultura quanto nos processos de cozinhar alimentos, a categoria da paciência se torna imprescindível. Não há nada (aqui, considerando de maneira natural), que se possa fazer para que uma planta cresça mais rápido, ou para que determinado alimento chegue ao ponto desejado, a não ser esperar pelo tempo necessário para alcançar o seu termo. Tentar apressá-los pode ser danoso para a comida e danoso para a nova planta que deseja florescer.

Diante de um mundo tão apressado, torna-se importante atentar para os processos que ocorrem no mundo natural e que revelam grande lição para a humanidade : é necessária a perseverança e paciência para se alcançar certas coisas, tais como intimidade e conhecimento.

A perseverança é algo a ser aprendida. Aqueles e aquelas que a aprendem, mesmo em momentos difíceis, conseguem se lembrar de que não chegam ao final de uma corrida longa as que saem em disparada, mas sim as que mantêm a constância de suas passadas.’


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