*Artigo
do Prof. Felipe Aquino
Olhando
para Jesus, desfigurado e destruído na cruz, entendemos o horror que é o
pecado. Foi preciso a morte de Cristo para que nos livrássemos do pecado e da
morte eterna, a separação da alma de Deus. Então, a Igreja nos propõe 40 dias
de penitência, de resistência contra o pecado na Quaresma.
Essa
prática é baseada na vida do povo de Deus. Durante 40 dias e 40 noites, caiu o
dilúvio que inundou a terra e extinguiu a humanidade pecadora (cf. Gn. 7,12).
Durante 40 anos, o povo escolhido vagou pelo deserto, em punição por sua
ingratidão, antes de entrar na terra prometida (cf. Dt 8,2). Durante 40 dias,
Ezequiel ficou deitado sobre o próprio lado direito, em representação do
castigo de Deus iminente sobre a cidade de Jerusalém (cf. Ez 4,6). Moisés
jejuou durante 40 dias no Monte Sinai antes de receber a revelação de Deus (cf.
Ex 24, 12-17). Elias viajou durante 40 dias pelo deserto, para escapar da
vingança da rainha idólatra Jezabel e ser consolado e instruído pelo Senhor
(cf. 1 Reis 19,1-8). O próprio Jesus, após ter recebido o batismo no Jordão, e
antes de começar a vida pública, passou 40 dias e 40 noites no deserto, rezando
e jejuando (cf. Mt 4,2). É um tempo de luta contra o mal.
São
Paulo nos oferece uma indicação precisa : ‘Nós
vos exortamos a que não recebais em vão a sua graça’, porque Ele diz : ‘No tempo favorável, eu te ouvi; no dia da
salvação, vim em teu auxílio’. Este é o ‘tempo favorável’, este é ‘o
dia da salvação’ (2 Cor 6,1-2). A liturgia da Igreja aplica essas palavras
de modo particular ao tempo da Quaresma. ‘Convertei-vos
e crede no Evangelho’ e ‘Lembra-te de
que és pó e ao pó hás de voltar’.
Convite à conversão
O
primeiro convite é à conversão, um alerta contra a superficialidade de nossa
maneira de viver. Converter-se significa mudar de direção no caminho da vida:
uma verdadeira e total inversão de rumo. Conversão é ir contra a corrente,
contra a vida superficial, incoerente e ilusória que, frequentemente, nos
arrasta, domina e torna-nos escravos do mal ou pelo menos prisioneiros dele.
Jesus
Cristo é a meta final e o sentido profundo da conversão, Ele é o caminho ao
qual somos chamados a percorrer, deixando-nos iluminar pela sua luz e sustentar
pela sua força. A conversão é uma decisão de fé, que nos envolve inteiramente
na comunhão íntima com a pessoa viva e concreta de Jesus. A conversão é o ‘sim’ total de quem entrega sua vida a
Jesus pela vivência do Evangelho. ‘Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está
próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho’ (Mc 1,15).
As penitências não são para fazer mal
Para
vencermos a nós mesmos, nossas fraquezas e paixões desordenadas, a Igreja
recomenda, sobretudo na Quaresma, o jejum, a esmola e a oração como ‘remédios contra o pecado’, a fim de
dominar as fraquezas da carne e aproximar-se de Deus. Portanto, não se deve
fazer penitências exageradas, uma mortificação que leve a pessoa a ficar doente
ou a se sentir mal. O jejum exige, sim, passar um pouco de fome durante o dia,
mas sem causar mal à pessoa, sem tirar a sua condição de trabalhar, rezar etc.
Saber calar pode ser uma boa penitência
Há
formas boas de mortificação, como cortarmos aquilo que nos agrada, seja para o
corpo ou para o espírito, mas há pessoas que fazem excessos : peregrinações
longas demais, penitências até com feridas, prejudicando a saúde. Deus não quer
isso, Ele não nos pede o impossível.
Qual
mortificação eu preciso fazer? É aquela que abate o meu pecado. Se eu sou
soberbo, então minha penitência deve ser o exercício de humildade : vencer todo
orgulho, ostentação, vaidade, exibicionismo, desejo de aparecer, de impor-se
aos outros e saber calar.
Se
seu pecado é o apego aos bens materiais e ao dinheiro, então eu preciso
exercitar muito a boa e farta esmola, o desprendimento do mundo e das
criaturas. Se meu mal é a luxúria e a impureza, então, vou exercitar a
castidade nos olhos, ouvidos, leituras, pensamentos e atos. Se sou irado, vou
conquistar a mansidão; se sou invejoso, vou buscar a bondade; se sou
preguiçoso, vou trabalhar melhor e ser diligente em servir aos outros sem
interesses.
Perdoar pode ser mais importante
São
Francisco de Sales, doutor da Igreja, dizia que a melhor penitência é aceitar,
com resignação, os males que Deus permite que nos atinjam, porque Ele sabe do
que precisamos, e assim nossos pecados são vencidos. As penitências que Deus
nos manda é melhor do que aquela imposta por nós mesmos. Então, aceite,
especialmente na Quaresma, sem reclamar, sem culpar ninguém, todos os males,
dores, aborrecimentos e injúrias que sofrer, e ofereça tudo a Deus pela sua
conversão. Pode ser que dar o perdão a quem lhe ofendeu seja mais importante do
que ficar 40 dias sem fazer isso ou aquilo. Uma visita a um doente, a um preso,
o consolo de alguém aflito pode ser mais importante que uma peregrinação
demorada. Tudo é importante, mas é preciso observar o mais importante para a realidade
espiritual.’
Fonte
:
* Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2019/03/06/cuidado-com-as-penitencias-absurdas-na-quaresma/
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