O Batismo do Senhor no Rio Jordão |
O batismo de Jesus marca o início do ministério
público de Jesus. Este evento é narrado nos três evangelhos sinóticos (Mateus,
Lucas e Marcos, enquanto que em João 1:29-33, que não é uma narrativa direta,
João Batista testemunha o episódio[1][2]. O batismo é um dos cinco eventos mais
importantes da narrativa evangélica sobre a vida de Jesus, os outros sendo a
transfiguração, a crucificação, a ressurreição e a ascensão[3][4].
João Batista pregava o "batismo pela
água", não de perdão ou contrição, mas para a remissão dos pecados (Lucas
3:3) e se declarava um precursor d'Aquele que iria batizar "com o Espírito
Santo e com o fogo" (Lucas 3:16). Ao fazê-lo, ele estava preparando o
caminho para o "Senhor"[5]. Jesus veio até o Rio Jordão, onde ele foi
batizado por João num lugar que é tradicionalmente conhecido como Qasr al-Yahud
("Castelo dos Judeus")[5][6][7][8][9]. Este evento termina com o céu
se abrindo, a descida do Espírito Santo na forma de uma pomba e uma voz divina
anunciando: "Tu és o meu Filho dileto, em ti me agrado."[10]. A voz
combina frases chave do Antigo Testamento: "Meu Filho" (o rei da
linhagem de David adotado como Filho de Deus em Salmos 2:1 e Salmos 10:1,
"dileto" (ou "bem-amado" - como Isaque em Gênesis 22:) e
"em ti me agrado" (o servo de Deus em Isaías 42:1)[5]
A maior parte das denominações cristãs vêem o
batismo de Jesus como um evento importante e a base para o rito cristão do
batismo (veja também Atos 19:1-7). A controvérsia reside principalmente com a
relação do ato com a heresia do cristianismo primitivo conhecida como
adocionismo, que pregava que Jesus só ali se tornou o Filho de Deus.
No cristianismo oriental, o batismo de Jesus é
comemorado no dia 6 de janeiro, a festa da Epifania[11] . Na Igreja Católica,
na Comunhão Anglicana e em outras denominações ocidentais, ela é relembrada num
dia da semana seguinte, a festa do Batismo do Senhor. No catolicismo romano, o
batismo de Jesus é um dos Mistérios Luminosos do Santo Rosário.
Por Parmigianino, atualmente na Berlin Staatliche
Museen - Gemäldegalerie, em
Berlim. Nos evangelhos, os relatos do batismo de Jesus são
sempre precedidos por informações sobre João Batista e seu
ministério[12][13][14]. Neles, João pregava pela contrição e pelo
arrependimento para remissão dos pecados e encorajava as esmolas para os pobres
(como em Lucas 3:11) conforme ele ia batizando as pessoas na região do Rio
Jordão, próximo da Pereia, por volta do início do período conhecido como
ministério de Jesus. O Evangelho de João (João 1:28) especifica "Betânia,
além do Jordão", ou seja Bethabara, na Pereia, quando ele se refere pela
primeira vez a ele e, depois, João 3:23 se refere a mais batismos num lugar
chamado "Enom, perto de Salim" "porque havia ali muitas
águas"[15][16].
Os quatro evangelhos não são as únicas referências
ao ministério de João na região do Jordão. Em Atos 10:37-38, Pedro se refere a
como o ministério de Jesus se iniciou "depois do batismo que pregou
João"[17]. Nas Antiguidades Judaicas (18.5.2[18]), o historiador judeu do
século I Flávio Josefo também escreveu sobre João Batista e sua morte na
Pereia[19][20]. Nos evangelhos, João já vinha profetizando (como em Lucas 3:16)
a vinda de alguém "mais poderoso do que eu"[1][21]. Paulo também se
refere a esta antecipação por João em Atos 19:4[22]. Em Mateus 3:14, ao se
encontrar com Jesus, João diz: "Eu é que preciso ser batizado por ti, e tu
vens a mim?". Porém, Jesus o convence a batizá-lo mesmo assim[23]. Na cena
batismal, após Jesus emergir da água, o céu se abre e uma "voz
divina" diz: "Tu és o meu Filho dileto, em ti me agrado.". O
Espírito Santo então descende sobre Jesus na forma de uma pomba em Mateus
3:13-17, Marcos 1:9 e Lucas 3:21-23[1][21][23]. Em João 1:29-33, ao invés de
uma narrativa direta, encontramos João Batista testemunhando o evento[1][2].
Este é um dos casos nos evangelhos onde uma voz
divina chama Jesus de "Filho", sendo a outra durante a transfiguração
de Jesus[24][25]. Após o batismo, os evangelhos sinóticos seguem descrevendo a
tentação de Jesus, mas João 1:35 narra o primeiro encontro entre Jesus e dois
de seus futuros discípulos, que eram na época discípulos de João
Batista[26][27]. Nesta narrativa, no dia seguinte, João Batista vê Jesus
novamente e o chama de Cordeiro de Deus e "Os dois discípulos, ouvindo
dizer isto, seguiram a Jesus"[17][28][29]. Um deles é chamado de André,
mas o nome do outro não é revelado. Raymond E. Brown levanta a hipótese de que
o outro poderia ser o autor do Evangelho de João, João Evangelista[2][30].
Seguindo na narrativa, os dois agora passaram a ser discípulos de Jesus daí em
diante e trazem outros para o grupo. Eventualmente, em Atos 18:24 até Atos
19:6, estes discípulos terminam por se misturar ao corpo maior de seguidores de
Jesus[2][26].
Qasr el Yahud, o lugar apontado como local do
Batismo de Jesus. No Novo Testamento, João Batista é descrito como habitando a
região do deserto do Mar Morto. E depois iniciou sua pregação na região da
Judeia, tendo instituído o Batismo como doutrina proveniente de Deus e caminho
da salvação eterna. Alguns estudiosos descrevem esta região como uma das mais
corrompidas da época. Algumas tradições religiosas indicam o local de pregação
de João Batista próximo a atual Ponte Allenby. Jesus encontrou João Batista
anunciando a palavra de Deus nas margens do rio Jordão e lá foi batizado por ele,
marcando o início de seu ministério.
O local de batismo turístico oficial de Israel é
onde o Mar da Galileia flui para o Rio Jordão.[31] Este local é muito distante
do atual local onde supõe-se que João Batista tenha batizado.[31] Esta
realocação foi realizada para evitar conflitos com a Jordânia.[31]
O batismo de Jesus é geralmente considerado como o
início do seu ministério, logo após o início do ministério de seu primo, João
Batista. [12][14][32]. Em Lucas 3:1-2 podemos ler[33][34]: “ «No décimo quinto
ano do reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia,
Herodes tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe tetrarca da região da Itureia e
Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene, sendo sumos sacerdotes Anás e
Caifás, veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto.» (Lucas
3:1-2)[35]
Há, porém, duas tentativas de determinar quando o
reinado de Tibério César se iniciou[36]. A tradicional é assumir que o reino de
Tibério começou quando ele se tornou co-regente, em 11 d.C., o que colocaria o
início do ministério de João Batista por volta do ano 26 d.C. Porém, alguns
acadêmicos assumem que ele começou com a morte de seu predecessor, Augusto
César, em 14 d.C., implicando que o ministério de João teria começado em 29
d.C.[36].
As datas geralmente aceitas para o início do
ministério de João baseadas neste trecho ficam, portanto, entre 26-29 d.C., com
o ministério de Jesus e o Seu batismo ocorrendo logo em
seguida[33][34][37][38][39].
Em Lucas, Jesus é observado por uma grande multidão
que se reunira para ver João e ser batizada por ele, enquanto que em Marcos não
há menção de mais ninguém fora Jesus e João na ocasião. A cena se inicia em
Lucas e Mateus com João proferindo um polêmico discurso, aparentemente contra
os fariseus e saduceus, ali presentes. Lucas e Mateus então se reencontram com
o relato de Marcos, que não trata dele, retratando Jesus descendo em direção a
João e sendo batizado por ele.
Enquanto Lucas é explícito sobre o Espírito de Deus
descendo no formato de uma pomba, a escolha de palavras em Mateus é vaga o
suficiente para que possa ser interpretada como apenas sugerindo que tal
descida teria tomado a forma de uma pomba. Há uma variada gama de simbolismo
relacionado às pombas na época em que estas passagens foram escritas. Enquanto
Howard Clarke[40] acredita que eles remetem à figura de Noé enviando a pomba
para encontrar terra seca, sendo assim um símbolo do renascimento, Albright e
Mann[41] notam que em Oséas, a pomba é símbolo do povo de Israel. Seja qual for
o significado dos evangelhos sinóticos, a iconografia da pomba se tornou a
partir daí o símbolo do Espírito Santo na arte cristã.
O batismo de Jesus aparece nos
apócrifos do Novo Testamento e em algumas crenças consideradas heréticas pelo
cristianismo majoritário.
De acordo com o Evangelho dos Hebreus,
do qual sobraram apenas fragmentos, a sugestão para que Jesus fosse se batizar
com João veio da mãe e dos irmãos de Jesus, sendo que Ele originalmente teria
resistido, dizendo "Em que eu teria pecado para precisar ser imergido por
ele? A não ser, claro, que exatamente isso que agora eu digo seja o pecado da
ignorância e da presunção."[42].
O adocionismo, a crença de que o homem
Jesus foi adotado como Filho de Deus era uma das duas cristologias mais
populares do século II. Um tipo de adocionismo, como o que era mantido pelos
ebionitas (judeo-cristãos), defendia que Jesus se tornara o Filho de Deus no
seu batismo. O outro defendia que isso teria acontecido na ressurreição.
O proto-gnóstico do século I Cerinto
ensinava que Cristo (um espírito) adentrou no homem Jesus em seu batismo,
permanecendo distinto dele (guiando-o e ensinando-o), e deixou-o na
crucificação[43].
As representações do Batismo de Jesus
são muito antigas e podem ser vistas já nas catacumbas romanas, em um afresco
na Catacumba de Calixto, na cripta de Lúcia, do século II. É uma composição
simples em que aparecem somente Jesus a João Batista. Mais tarde, a partir do
século VI, a cena se enriquece com detalhes, como a presença de anjos que atuam
com acólitos. O Rio Jordão muita vezes é destacado e os artistas muitas vezes o
representam como as barbas de Deus. Outro elemento recorrente é um cervo que
bebe pacificamente nas águas do rio.
Nos séculos XIII e XIV os artistam
alteram a cena. Ao invés de ver Jesus submergido nas águas, se vê João que
derrama sobre a derrama sobre a cabeça de Jesus com o auxílio de uma concha,
como se pode cnmtemplar nos baixos relevos da porta do Batistério em Florença. Muitos
artistas do Renascimento representam Jesus orando e recebendo a água derramada,
os anjos participam deste ato solene.
Referências:
- 1. ↑ a b c d Jesus of history, Christ of faith by Thomas Zanzig 2000 ISBN 0884895300 page 118
- 2. ↑ a b c d The Gospel and Epistles of John: A Concise Commentary by Raymond Edward Brown 1988 ISBN 9780814612835 pages 25-27
- 3. ↑ Essays in New Testament interpretation by Charles Francis Digby Moule 1982 ISBN 0521237831 page 63
- 4. ↑ The Melody of Faith: Theology in an Orthodox Key by Vigen Guroian 2010 ISBN 0802864961 page 28
- 5. ↑ a b c Harrington, Daniel J., SJ. "Jesus Goes Public." America, Jan. 7-14, 2008, pp.38ff
- 6. ↑ Mateus 3:13-17
- 7. ↑ II Coríntios 5:21; Hebreus 4:15; I Pedro 3:18
- 8. ↑ O Evangelho de Mateus, sem paralelo nos demais, inclui uma conversa entre Jesus e João. Este humildemente reluta em batizar Jesus, insistindo ao invés disso que Jesus é quem deveria batizá-lo. A preocupação de João parece ser de duas naturezas: (1) João batizou outros pela contrição e para perdoar os pecados, algo que Jesus, sem pecado, não necessitaria; (2) O ministério de João Batista incluía a vinda de um "mais poderoso" que ele que iria trazer uma nova forma de batismo - não apenas com água, mas com o Espírito Santo e com fogo. Jesus insistiu e João cedeu em batizá-lo. Ao aceitar, Jesus é visto como se identificando e demonstrando toda a sua solidariedade com a humanidade pecadora, pois de acordo com o próprio Novo Testamento, ele era desprovido de pecados.
- 9. ↑ Ao tomar o lugar dos pecadores, colocando a culpa sobre si e levando-a às profundezas do Jordão, o batismo de Jesus por João marca a sua aceitação da morte dos pecados, enquanto que a sua volta da água representaria a sua ressurreição. - Papa Bento XVI. Jesus de Nazaré (ed. em inglês) Doubleday Religion, 2007. ISBN 978-0-385-52341-7
- 10. ↑ Marcos 3:11. Ver também Mateus 3:17 e Lucas 3:21-22
- 11. ↑ http://www.pravoslavieto.com/calendar/feasts/01.06_Bogojavlenie/istoria.htm
- 12. ↑ a b Jesus and the Gospels: An Introduction and Survey by Craig L. Blomberg 2009 ISBN 0805444823 page 224-229
- 13. ↑ The Cradle, the Cross, and the Crown: An Introduction to the New Testament by Andreas J. Köstenberger, L. Scott Kellum 2009 ISBN 9780805443653 p. 141-143
- 14. ↑ a b Christianity: an introduction by Alister E. McGrath 2006 ISBN 9781405109017 pages 16-22
- 15. ↑ Big Picture of the Bible - New Testament by Lorna Daniels Nichols 2009 ISBN 1579219284 page 12
- 16. ↑ John by Gerard Stephen Sloyan 1987 ISBN 0804231257 page 11
- 17. ↑ a b Jesus of Nazareth by Duane S. Crowther 1999 ISBN 0882906569 page 77
- 18. ↑ Flávio Josefo. Antiguidades Judaicas: HEROD THE TETRARCH MAKES WAR WITH ARETAS, THE KING OF ARABIA, AND IS BEATEN BY HIM AS ALSO CONCERNING THE DEATH OF JOHN THE BAPTIST. HOW VITELLIUS WENT UP TO JERUSALEM; TOGETHER WITH SOME ACCOUNT OF AGRIPPA AND OF THE POSTERITY OF HEROD THE GREAT (em inglês). [S.l.: s.n.]. Capítulo: XVIII.5:2,
- 19. ↑ Eerdmans Dictionary of the Bible 2000 ISBN 9053565035 page 583
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- 31. ↑ a b c Walking in the Footsteps of Jesus (em inglês). Slate (18 de janeiro de 2008). Página visitada em 14 de julho de 2011. "We pull off where the Sea of Galilee flows out into the Jordan River, which is Israel's official tourist baptism site. The actual place where John the Baptist baptized is much farther down the river, but it straddles the armed border between Israel and Jordan. So, the Israeli authorities wisely said: Baptize here!"
- 32. ↑ The Cradle, the Cross, and the Crown: An Introduction to the New Testament by Andreas J. Köstenberger, L. Scott Kellum 2009 ISBN 9780805443653 pages 140-141
- 33. ↑ a b Eerdmans Dictionary of the Bible 2000 Amsterdam University Press ISBN 9053565035 page 249
- 34. ↑ a b The Bible Knowledge Background Commentary: Matthew-Luke, Volume 1 by Craig A. Evans 2003 ISBN 0781438683 pages 67-69
- 35. ↑ Segundo a Tradução Brasileira da Bíblia
- 36. ↑ a b Luke 1-5: New Testament Commentary by John MacArthur 2009 ISBN 0802408710 page 201
- 37. ↑ The Cradle, the Cross, and the Crown: An Introduction to the New Testament by Andreas J. Köstenberger, L. Scott Kellum 2009 ISBN 9780805443653 page 114
- 38. ↑ Christianity and the Roman Empire: background texts by Ralph Martin Novak 2001 ISBN 1563383470 pages 302-303
- 39. ↑ HOEHNER, Harold W. Chronological Aspects of the Life of Christ. [S.l.]: Zondervan, 1978. 29–37 p. ISBN 0310262119
- 40. ↑ Clarke, Howard W. The Gospel of Matthew and its Readers: A Historical Introduction to the First Gospel. Bloomington: Indiana University Press, 2003.
- 41. ↑ Albright, W.F. and C.S. Mann. "Matthew." The Anchor Bible Series. New York: Doubleday & Company, 1971.
- 42. ↑ Contra os pelagianos (em inglês). [S.l.: s.n.]. Capítulo: 2, Página visitada em 23/01/2012.
- 43. ↑ "Cerinthus" na edição de 1913 da Catholic Encyclopedia (em inglês)., uma publicação agora em domínio público.
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