Desde
que era pequeno, nutro a sensação de que os livros sempre contêm algo que pode
nos servir como um ensinamento prático. Pois bem, lendo, em casa, um romance
russo de nome “O Idiota”, do grande escritor Fiódor Dostoievski (1821-1881) -
que, a despeito de sua remota publicação, em 1868, em certos aspectos ainda
apresenta uma leitura mordaz das relações humanas que compõe o nosso cotidiano
-, após um tempo debruçado nas páginas densas desta inebriante narração, súbito
novos pensamentos começam a nascer e a desabrochar, absorvendo-me numa série de
reflexões ininterruptas. Primeiro, começo
a pensar nos sofrimentos austeros que acompanham as personagens e que, de certa
forma, refletem a realidade de muitas pessoas. Tipos psicológicos que sempre
afiguram estar ofendidos, humilhados pelas condições de vida que lhe são
impostas, com a vaidade e o orgulho imensamente feridos por requintes alheios
de ironia e desprezo e para quem a felicidade se apresenta como uma ilusão ou
como um estado que parece não valer a pena
ser alcançado após tantas atribulações.
Tendo
isto em mente e retornando à frase que introduz este pequeno texto, creio poder
dizer que o ensinamento que este livro, muito aprazível, nos transmite
reveste-se de uma análise aguda das relações sociais de nossos tempos: com o
passar das épocas, findamos por nos tornar, assim como os personagens “dostoievsknianos”,
seres ressentidos, feridos moralmente, a quem a felicidade do outro
constitui-nos uma ofensa, a quem a vida não mais pode ser do que uma seqüência
de sofrimentos e os sentidos desvalorizam-se, perdem seus porquês; em suma,
seres que parecem habitar o subterrâneo da existência e da humanidade. E talvez
deva-se a isto uma das causas da desmoralização que experimentamos, do
comportamento violento e inadmissível dos novos homens, tão descontrolados do
século XXI, esmerados em produzir tantas tristezas, incompreensão e
dor.
Assim,
como no romance mencionado acima e como nos propõe o seu autor, ainda quase 150
anos antes, talvez hoje o que nos falta seja o ato de nos “idiotizarmo-nos”,
isto é, deixarmos de lado, nem que seja por um pouco, a ganância, a avareza, a
inveja, o ressentimento, a necessidade de outrem para existir, ou numa palavra:
a necessidade de encontrar-se ofendido para subsistir; e, por outro lado,
talvez nos falte também recuperar os valores humanos, como a magnanimidade, a
prudência, a inocência mesma; e assim erigir uma renovação humana que passe a
nos privar - nós, Homens – dos sofrimentos e dos subterrâneos da mera
constituição psicológica de cada um. Desta forma, quem sabe, não poderemos elevar
a humanidade para redimir-se de seus erros e atos arbitrários que tanto nos tem
vilipendiado? Quem sabe não poderemos libertar a humanidade de suas limitações
constrangedoras e falsas que nos tem assolado desde há muito? E, quem sabe, assim, na simplicidade, não
conquistemos a verdadeira felicidade na renovação dos Homens, finalmente
apartados de seus pesares e finalmente desimpedidos para dar as mãos para uma
nova fase da humanidade, em que não mais existirão vencedores e perdedores,
triunfadores e humilhados, ofensores e ofendidos, mas unicamente irmãos, unidos
pela pureza, pela natureza e pela condição igualitária de seres altivos, mas
sinceros e não mais sofredores e vingativos. Amigos, suplantemos o
ressentimento e demos as mãos para um novo mundo renovado no AMOR!
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