terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sofrimento e Renovação

Por Denis Cabrerizo Silva




Desde que era pequeno, nutro a sensação de que os livros sempre contêm algo que pode nos servir como um ensinamento prático. Pois bem, lendo, em casa, um romance russo de nome “O Idiota”, do grande escritor Fiódor Dostoievski (1821-1881) - que, a despeito de sua remota publicação, em 1868, em certos aspectos ainda apresenta uma leitura mordaz das relações humanas que compõe o nosso cotidiano -, após um tempo debruçado nas páginas densas desta inebriante narração, súbito novos pensamentos começam a nascer e a desabrochar, absorvendo-me numa série de reflexões ininterruptas.  Primeiro, começo a pensar nos sofrimentos austeros que acompanham as personagens e que, de certa forma, refletem a realidade de muitas pessoas. Tipos psicológicos que sempre afiguram estar ofendidos, humilhados pelas condições de vida que lhe são impostas, com a vaidade e o orgulho imensamente feridos por requintes alheios de ironia e desprezo e para quem a felicidade se apresenta como uma ilusão ou como um estado que parece não valer a pena  ser alcançado após tantas atribulações. 
            Tendo isto em mente e retornando à frase que introduz este pequeno texto, creio poder dizer que o ensinamento que este livro, muito aprazível, nos transmite reveste-se de uma análise aguda das relações sociais de nossos tempos: com o passar das épocas, findamos por nos tornar, assim como os personagens “dostoievsknianos”, seres ressentidos, feridos moralmente, a quem a felicidade do outro constitui-nos uma ofensa, a quem a vida não mais pode ser do que uma seqüência de sofrimentos e os sentidos desvalorizam-se, perdem seus porquês; em suma, seres que parecem habitar o subterrâneo da existência e da humanidade. E talvez deva-se a isto uma das causas da desmoralização que experimentamos, do comportamento violento e inadmissível dos novos homens, tão descontrolados do século XXI,  esmerados em  produzir tantas tristezas, incompreensão e dor.
            Assim, como no romance mencionado acima e como nos propõe o seu autor, ainda quase 150 anos antes, talvez hoje o que nos falta seja o ato de nos “idiotizarmo-nos”, isto é, deixarmos de lado, nem que seja por um pouco, a ganância, a avareza, a inveja, o ressentimento, a necessidade de outrem para existir, ou numa palavra: a necessidade de encontrar-se ofendido para subsistir; e, por outro lado, talvez nos falte também recuperar os valores humanos, como a magnanimidade, a prudência, a inocência mesma; e assim erigir uma renovação humana que passe a nos privar - nós, Homens – dos sofrimentos e dos subterrâneos da mera constituição psicológica de cada um. Desta forma, quem sabe, não poderemos elevar a humanidade para redimir-se de seus erros e atos arbitrários que tanto nos tem vilipendiado? Quem sabe não poderemos libertar a humanidade de suas limitações constrangedoras e falsas que nos tem assolado desde há muito?  E, quem sabe, assim, na simplicidade, não conquistemos a verdadeira felicidade na renovação dos Homens, finalmente apartados de seus pesares e finalmente desimpedidos para dar as mãos para uma nova fase da humanidade, em que não mais existirão vencedores e perdedores, triunfadores e humilhados, ofensores e ofendidos, mas unicamente irmãos, unidos pela pureza, pela natureza e pela condição igualitária de seres altivos, mas sinceros e não mais sofredores e vingativos. Amigos, suplantemos o ressentimento e demos as mãos para um novo mundo renovado no AMOR!


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