Este artigo foi gentilmente cedido por Dom João Evangelista Kovas, OSB, monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo.
A celebração mais importante do calendário
litúrgico de fevereiro é a Festa da Apresentação do Senhor ou festa das luzes.
Ela faz memória da apresentação do menino Jesus por seus pais Maria e José a
Deus no Templo de Jerusalém, 40 dias após o seu nascimento, como era prática
entre os judeus. Por isso, a festa é celebrada no dia 2 de fevereiro, 40 dias
após 25 de dezembro.
Todo
o filho primogênito deveria ser apresentado e consagrado ao Senhor. Essa era
uma obrigação do Povo de Deus. Devem ser consagradas todas as primícias ao
Senhor, desde as primícias da colheita ao primeiro filho masculino nascido do
casal. Assim, se conservaria na memória do povo sua consagração fundamental: um
povo especialmente escolhido dentre todos os povos das nações para ser a
propriedade particular de Deus, viver em sua presença, cumprindo seus
mandamentos, e por ele ser abençoado e protegido.
Quando
Maria e José chegam ao templo com o menino, aproxima-se Simeão, profeta anônimo
do Senhor, mas a quem foi dado reconhecer o messias esperado por Israel para
libertação definitiva do povo. É nesse momento de encontro que Simeão toma o
menino nos braços e proclama: “Agora, Senhor, conforme sua promessa, podes
deixar o teu servo partir em paz, porque meus olhos viram a sua salvação, que
preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do
teu povo Israel.” (Lc 2,29-32).
Na
celebração da festa das luzes, a assembléia cristã está posicionada fora da
igreja, onde se dá a bênção das velas e a partir de onde todos se dirigem ao
interior da igreja, em procissão, com as velas acesas. A procissão segue com a
aclamação: “Vamos em paz ao encontro do Senhor!” Trata-se da assembléia cristã,
o novo povo de Deus, que ele reuniu dentre uma multidão de nações, para
constituir um só povo em seu filho Jesus. A luz de Cristo brilha em todos nós,
a fim de que o mundo seja iluminado pela Palavra do Senhor, que continua
conclamando a todos, para reconhecer, como Simeão, a luz das nações, a salvação
de Deus para todos os povos: Jesus Cristo Nosso Senhor.
A
festa das luzes consagra o novo Povo de Deus. Cristo que é a luz, ilumina o
povo desde o interior, nos corações. Pela fé, aderimos à Palavra do Senhor e
colocamos a mesma Palavra em prática: na vida cotidiana e na liturgia. Ela é o
ato de adesão fundamental, pelo qual todo o nosso ser é consagrado ao Senhor –
nossa vida é a primícia das primícias que podemos oferecer a Deus. Na liturgia,
o ato de consagração da fé se renova e saímos iluminados pela luz de Cristo. É
como se disséssemos com Simeão ao Senhor que estamos prontos para o momento
derradeiro dessa vida, a morte, porquanto vimos a sua salvação. Ela ilumina
nosso coração e ilumina a multidão dos povos reunidos na Igreja de Cristo. Cumpre-se
já a promessa definitiva de Deus. Tudo em nossa vida se torna definitivo,
porque estamos na presença de Deus. Vivemos já o momento derradeiro, no qual o
Filho de Deus foi manifestado ao mundo.
Por
isso, se diz que a liturgia é um momento escatológico; um momento no qual são reveladas
as últimas coisas. A nossa vida continua nesse mundo, porém ela não é mais a
mesma, foi transformada por Cristo. Quando um fiel é batizado, o sacerdote diz:
“receba a luz de Cristo!” E justamente o cristão é chamado a iluminar o mundo
que ainda jaz nas trevas da morte. O cristão triunfa da morte. Pode morrer, mas
ela não acrescenta, nem tira nada do cristão, porque a sua maior riqueza é o
próprio Cristo. O cristão que recebeu a luz de Cristo no batismo não a perde
mais. Pode renegá-la, não vivendo a sua fé, expressão dessa luz. Mas a todos
que a receberam e a cultivam reconhecendo nela sua maior riqueza, esse é o
consagrado do Senhor. A morte não o rouba da vida, pois o fiel tem a verdadeira
vida no coração.
Deus
é fiel em sua promessa: a Luz que ilumina todos os povos é Jesus Cristo, a
salvação de Deus destinada desde a fundação do mundo àqueles que o recebem de
coração sincero e o celebram na assembléia do seu povo reunido. Por isso, todas
as vezes que o povo cristão se reúne para a liturgia, ele celebra a luz do
Senhor e se consagra a Deus, a fim de que seja luz no mundo e receba em si o
dom maior da salvação.
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