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quarta-feira, 18 de junho de 2025

A experiência eucarística: tocando a presença real de Jesus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Rivelino Nogueira

 

‘A experiência eucarística é um momento profundo de encontro com Deus e com a comunidade para os cristãos, especialmente os católicos. Na Eucaristia, a presença real de Jesus é celebrada e experimentada através do pão e do vinho, que são considerados o corpo e o sangue de Cristo. Aqui estão algumas maneiras pelas quais a experiência eucarística pode atuar na mudança pessoal e na relação com os irmãos :


  • Fortalecimento da Fé : A Eucaristia pode fortalecer a fé dos participantes, permitindo-lhes experimentar a presença de Jesus de maneira tangível e espiritual. Isso pode levar a uma maior confiança em Deus e em Sua providência.
  • Renovação sempre : A celebração eucarística oferece uma oportunidade para a renovação espiritual. Através da comunhão, os fiéis podem sentir-se renovados e fortalecidos para enfrentar os desafios diários com mais coragem e sabedoria.
  • Comunhão e Unidade : A Eucaristia é um sacramento de comunhão que une os fiéis não apenas com Cristo, mas também entre si. Ela promove um senso de comunidade e pertencimento entre os membros da Igreja, incentivando a solidariedade e o amor fraterno.
  • Conversão e Reconciliação : Antes de receber a comunhão, os fiéis são convidados a refletir sobre seus pecados e a buscar a reconciliação com Deus e com os outros. Isso pode levar a uma mudança pessoal significativa, incentivando a busca por uma vida mais virtuosa e conforme ao Evangelho.
  • Ação de Graças e Louvor : A Eucaristia é uma celebração de ação de graças e louvor a Deus. Participar dela pode inspirar os fiéis a viver com gratidão e a reconhecer a presença de Deus em suas vidas diárias.
  • Orientação para o Amor e Serviço : A Eucaristia pode motivar os fiéis a seguir o exemplo de Jesus, que Se doou totalmente por amor à humanidade. Isso pode inspirar os participantes a se comprometerem com o amor e o serviço aos outros, promovendo uma boa relação com os irmãos.
  • Jesus está próximo de nós com um perene ‘partir’ o pão : ’Este é o meu Corpo! Este é o meu Sangue’!

A Eucaristia é um sacramento que é a presença real de Cristo. É a antecipação do que viveremos juntos na eternidade. Incontáveis são os benefícios da Sagrada Eucaristia para uma vida interior em Deus. Identificar esses favores nos torna pessoas melhores e mais comprometidas com o Evangelho. O Catecismo da Igreja diz que ‘a Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, isto é, da obra da salvação realizada pela Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra tornada presente pela ação litúrgica’ (Catecismo da Igreja Católica, 1409).

Assim, na Eucaristia, somos convidados a participar da graça que esse sacramento nos confere. Trata-se da salvação em Jesus Cristo pelo Mistério Pascal que, também, nos conduz para outros benefícios em nosso interior. Vejamos alguns benefícios da Eucaristia para uma vida interior :

O Papa Francisco, em homilia na Casa de Santa Marta, afirmou que é preciso ‘guardar um pouco de silêncio para escutar a Deus que nos fala com a ternura de um Pai e de uma Mãe’. Pois, para ouvir essa voz terna, é imprescindível um caminho de vida interior.

Benefícios da Eucaristia para uma vida espiritual

Eucaristia e oração

Jesus sempre mostrou o caminho da oração. Por várias vezes, Ele retirou-se para estar com o Pai, como é narrado no Evangelho. Assim, na Eucaristia, somos beneficiados com o melhor lugar para nos encontrarmos com Deus, o nosso coração. Que bom será quando todos tiverem a clareza de Santa Teresinha do Menino Jesus que diz :

‘A oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao Céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria’ (Catecismo da Igreja Católica, 2558).

Porque a oração na vida interior tem como reflexo : o amor e a alegria.

Eucaristia e a santificação

São João Paulo II, na sua Encíclica Ecclesia de Eucharistia, diz :

‘A Igreja vive da Eucaristia’. Dessa forma, os que vivem na Eucaristia caminham na Igreja num processo de santificação e de profunda vida interior. A esse respeito é importante dizer que a Eucaristia é fonte de santidade e vida.

Portanto, façamos nossa parte e estejamos unidos a Cristo na Eucaristia, em comunhão com Seu Corpo e Sangue que nos santifica.

Os benefícios de santificação pela Eucaristia são diários, já que, ‘tendo Cristo passado deste mundo ao Pai, dá-nos na Eucaristia o penhor da glória junto d’Ele : a participação no Santo Sacrifício nos identifica com o seu coração, sustenta as nossas forças ao longo da peregrinação desta vida, faz-nos desejar a vida eterna e nos une já à Igreja do Céu, à Santíssima Virgem e a todos os santos’ (Catecismo da Igreja Católica, 1419).

Portanto, Jesus, pela Sua Paixão, Morte e Ressurreição, nos deu a salvação. Em vista disso, podemos alcançar todos os benefícios que a Eucaristia nos concede diariamente. Ao participarmos de tão grande mistério de doação total de Deus ao homem, vivemos uma verdadeira vida interior e, assim, poderemos dar frutos de santidade.

‘A Eucaristia chama-nos à primazia de Deus e ao amor aos irmãos. Este Pão é, por excelência, o Sacramento do amor. É Cristo que se oferece e se parte por nós e nos pede que façamos o mesmo, para que a nossa vida seja trigo moído e se torne pão que alimenta os irmãos’. (Papa Francisco)’ 


Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/a-experiencia-eucaristica-tocando-a-presenca-real-de-jesus.html

quarta-feira, 29 de maio de 2024

Fé, comunidade e tradição em torno do corpo de Cristo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Renata Moraes


Passados sessenta dias após a Páscoa, a Igreja Católica celebra a Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo, mais conhecida como Corpus Christi. Essa data especial tem como objetivo central manifestar publicamente a fé no mistério da Eucaristia, que representa a presença real de Jesus Cristo na hóstia consagrada.

Em outras palavras, a festa de Corpus Christi é um momento para celebrar e reafirmar a crença de que, ao receber a comunhão, os fiéis comungam com o próprio corpo e sangue de Jesus, fortalecendo sua ligação com Deus.

Por meio de procissões pelas ruas, a comunidade católica demonstra publicamente sua fé e homenageia o Santíssimo Sacramento. Altares ornamentados, cantos religiosos e a participação fervorosa dos fiéis transformam essa data em uma grande festa de fé e devoção.

Mais do que uma simples celebração religiosa, a solenidade de Corpus Christi é um convite à reflexão sobre a fé e à renovação do compromisso com os ensinamentos de Jesus. É um momento para aprofundar a relação com Deus e reforçar a importância da Eucaristia na vida dos fiéis. 

Eucaristia : ápice da fé cristã e sacrifício do Senhor

A Eucaristia ocupa uma posição central na vida da Igreja. Na carta encíclica intitulada Ecclesia de Eucharistia (A Igreja vive da Eucaristia), o Santo Papa João Paulo II reafirma a importância da Eucaristia como ‘o cerne do mistério da Igreja’. O Concílio Vaticano II também havia declarado que o Sacrifício Eucarístico é a ‘fonte e o ápice de toda a vida cristã’.

Acima de tudo, a Eucaristia é o grande mistério da fé, conforme destacado no primeiro capítulo da encíclica. É o presente supremo de Jesus, que se oferece pela nossa salvação. Ao celebrarmos a Eucaristia, o evento salvífico da morte e ressurreição de Jesus torna-se verdadeiramente presente e eficaz. Esse sacrifício é tão importante para a salvação da humanidade que Jesus Cristo ascendeu ao Pai somente depois de nos deixar o meio de participar e desfrutar dos seus frutos salvíficos. A Eucaristia é o pão vivo que nos fortalece e revigora diariamente.

‘A Eucaristia é o pão de cada dia que se toma como remédio para a nossa fraqueza de cada dia’, já expressava o filósofo cristão e doutor da Igreja Santo Agostinho. O próprio Papa Francisco em diversos momentos falou sobre a fortaleza espiritual desse banquete : ‘A Eucaristia não é um prêmio para os bons, mas remédio para os fracos’.

Presença de Cristo na eucaristia na vida espiritual dos católicos

Em entrevista à reportagem da Revista Ave Maria, o filósofo e professor de História, Alexandre Ferreira Santos, falou sobre o papel da contemplação do mistério da presença de Cristo na Eucaristia na vida espiritual de um fiel. De acordo com Santos, a compreensão desse fenômeno vai além do conceito metafísico de estar presente no mundo, adentrando a esfera da teologia e da experiência espiritual.

‘É importante termos em mente que a ‘presença’, enquanto fenômeno, fundamenta o nosso ser no mundo, isso é algo metafísico. Quer dizer, quando estamos conscientes de que ‘estamos presentes’ abrimos mão de nossas ilusões de futuro e de nossas culpas do passado, por exemplo. Ao estarmos conscientes do tempo presente, inclusive temos a oportunidade de valorizar ausências que são queridas. Não é à toa que estão tão em alta as técnicas de mindfulness, de atenção plena etc.’, destacou o docente.

O filósofo prosseguiu relacionando essa compreensão com a presença de Cristo na Eucaristia, enfatizando que a experiência vai além de simplesmente estar consciente do momento presente. ‘Tudo porque Jesus nos chama a ir além de uma mera ‘metafísica da presença’ e experimentar a sua ‘teologia da presença’. Quando ele nos diz, em Mateus 28,20, ‘Eis que estarei convosco até o fim dos tempos’, Ele oferece para a vida espiritual do fiel cristão algo muito maior que qualquer técnica e meditação pode fazer por si mesma’, explicou o também teólogo.

Segundo Alexandre, estar na presença de Cristo na Eucaristia significa experimentar o reino de amor e o perdão alcançado na cruz, superando tanto as preocupações com o futuro quanto o peso das culpas passadas. ‘Em espírito e verdade somos capazes de alcançar tal status interior, mas Jesus Mestre não espera que alcancemos tal iluminação sozinhos, por isso oferece sua presença no Santíssimo Sacramento’, ressaltou.

Ao questionar o filósofo e teólogo Alexandre Ferreira Santos sobre o impacto da Eucaristia na vida comunitária dos católicos, sua resposta revela uma profunda reflexão sobre os princípios fundamentais da fé cristã e sua aplicação prática. ‘Jesus nos deixou a Eucaristia no pão e no vinho consagrados e nos colocou em torno da mesma mesa’, afirma ele, destacando a dimensão simbólica e comunitária da Eucaristia. 

Ele enfatiza também a fé na capacidade humana de convivência e solidariedade, inspirada pela presença de Cristo na celebração. ‘Ao recebermos a comunhão, recebemos também o Espírito Santo, que inflama em nós o amor’, destaca o teólogo, ressaltando o papel transformador da Eucaristia na vivência do amor fraterno. Ele ressalta a importância de reconhecer a presença de Cristo em cada pessoa, especialmente nos mais necessitados, alinhando-se com a opção preferencial pelos pobres estabelecida em Mateus 25.

‘Um estilo de vida simples, práticas sustentáveis e a militância contra o colapso climático são apelos que emergem das palavras da bênção sobre os dons do ofertório : ‘Bendito sejais, Senhor, pelo fruto da terra e do trabalho humano’. A vida brota da vida’, afirma o especialista, ecoando a ideia de que a plenitude da graça divina permeia toda a criação. Ele conclui destacando a necessidade de uma conversão pessoal e comunitária para promover a vida em abundância para todos os seres da criação.

A resposta do filósofo ressoa com a mensagem evangélica de amor, solidariedade e compromisso com os mais vulneráveis, inspirando os fiéis a viverem sua fé de forma autêntica e transformadora na comunidade e no mundo.

Testemunho público da fé nas ruas de Santana de Parnaiba

A celebração do corpo de Cristo na cidade de Santana de Parnaíba (SP) sempre aliou a devoção à beleza dos enfeites confeccionados pela comunidade nas principais ruas do centro histórico e ao longo dos anos tornou-se uma das maiores manifestações religiosas do Estado de São Paulo. 

Os tapetes são confeccionados com serragem colorida, que encantam pelo tingimento (são diversas cores vivas). Na confecção vale a criatividade de cada um, assim vários outros materiais são usados, como pó de café, casca de ovo, cal, madeira, flores, tecidos e até esculturas de barro.

‘O evento cresceu e cerca de 60 mil turistas visitam a cidade na data, que fica repleta de barracas de alimentação e artesanato. Toda a infraestrutura é cedida pela Prefeitura de Santana de Parnaíba e a organização da programação religiosa (missas, procissões etc.) é de responsabilidade da Paróquia Santa Ana, assim como a elaboração do tema, projeto de desenhos e distribuição dos tapetes, hoje confeccionados pela comunidade religiosa’, informou a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal de Santana de Parnaíba.

No próximo dia 30 de maio, a cidade se prepara para receber o Corpus Christi, evento anual marcado por sua tradição e significado religioso. Com o tema ‘Eucaristia, fonte de unidade e fraternidade’, a comunidade se reúne para celebrar a presença de Cristo na Eucaristia.

As atividades têm início às cinco da manhã, quando os moradores responsáveis pela confecção dos tradicionais tapetes de serragem se encontram na escola mais próxima do centro histórico. Após um café reforçado, cerca de mil voluntários das comunidades locais iniciam o trabalho de elaboração dos coloridos tapetes.

Às sete da manhã, no palco principal na praça 14 de Novembro, tem início uma série de momentos de oração e meditação, com destaque para as laudes às sete, o Terço mariano às oito, a pregação às nove e a santa Missa na matriz às dez e ao meio-dia. A programação ainda inclui a coroação de Maria às catorze horas, seguida pela santa Missa campal e procissão às quinze, com uma ressalva de que a programação está sujeita a alterações.

Após a conclusão da santa Missa, os fiéis saem em procissão pelas ruas do centro histórico, acompanhando o Jesus eucarístico e percorrendo quase um quilômetro de tapetes formados por serragem colorida. O evento, além de ser uma manifestação de fé, representa um momento de união e comunhão entre os membros da comunidade.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/fe-comunidade-e-tradicao-em-torno-do-corpo-de-cristo.html


terça-feira, 14 de junho de 2022

Corpus Christi: sentido, origem e história

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da Gaudium Press


‘Na quinta-feira, após a solenidade da Santíssima Trindade, a Igreja celebra a solenidade litúrgica do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, em latim Corpus Christi.

A motivação religiosa para tal festa é o louvor merecido à Eucaristia, fonte de vida da Igreja. Desde o princípio de sua história, a Igreja devota à Eucaristia um zelo especial, pois reconhece neste sinal sacramental o próprio Jesus, que continua presente, vivo e atuante em meio às comunidades cristãs.

Celebrar Corpus Christi significa fazer memória solene da entrega que Jesus fez de sua própria vida para a vida da Igreja, e comprometer-nos com a missão de levar esta Boa Nova para todas as pessoas.

Origem da solenidade

Na origem da festa de Corpus Christi estão presentes dados de diversas significações. Na Idade Média, o costume de celebrar a missa com as costas voltadas para o povo, foi criando certo mistério em torno da Ceia Eucarística. Todos queriam saber o que acontecia no altar, entre o padre e a hóstia. Para evitar interpretações de ordem mágica e sobrenatural da liturgia, a Igreja foi introduzindo o costume de elevar as partículas consagradas para que os fiéis pudessem olhá-la.

Este gesto foi testemunhado pela primeira vez em Paris, no ano de 1200. Entretanto, foram as visões de uma freira agostiniana, chamada Juliana, que historicamente deram início ao movimento de valorização da exposição do Santíssimo Sacramento.

Em 1209, na diocese de Liége, na Bélgica, essa religiosa começa a ter visões eucarísticas, que se vão suceder por um período de quase trinta anos. Nas suas visões ela via um disco lunar com uma grande mancha negra no centro. Esta lacuna foi entendida como a ausência de uma festa que celebrasse festivamente o sacramento da Eucaristia.

Nasce a festa de Corpus Christi

Quando as ideias de Juliana chegaram ao bispo, ele acabou por acatá-las, e em 1246, na sua diocese, celebra-se pela primeira vez uma festa do Corpo de Cristo. Seja coincidência ou providência, o bispo de Juliana vem a tornar-se o Papa Urbano IV, que estende a festa de Corpus Christi para toda Igreja, no ano de 1264.

Mas a difusão desta festa litúrgica só será completa no pontificado de Clemente V, que reafirma sua significação no Concilio de Viena (1311-1313). Alguns anos depois, em 1317, o Papa João XXII confirma o costume de fazer uma procissão, pelas vias da cidade, com o Corpo Eucarístico de Jesus, costume testemunhado desde 1274 em algumas dioceses da Alemanha.

O Concílio de Trento (1545-1563) vai insistir na exposição pública da Eucaristia, tornando obrigatória a procissão pelas ruas da cidade. Este gesto, além de manifestar publicamente a fé no Cristo Eucarístico, era uma forma de lutar contra a tese que negava a presença real de Cristo na hóstia consagrada.

Atualmente a Igreja conserva a festa de Corpus Christi como momento litúrgico e devocional do Povo de Deus. O Código de Direito Canônico (onde estão contidas as normas da Igreja) confirma a validade das exposições públicas da Eucaristia e diz que principalmente na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, haja procissão pelas vias públicas (cf. cân. 944).

Em Santo Tomás de Aquino

Santo Tomás de Aquino destacava três aspectos teológicos centrais do sacramento da Eucaristia. Primeiro, a Eucaristia faz o memorial de Jesus Cristo, que passou no meio dos homens fazendo o bem (passado). Depois, a Eucaristia celebra a unidade fundamental entre Cristo com sua Igreja e com todos os homens de boa vontade (presente). Enfim, a Eucaristia prefigura nossa união definitiva e plena com Cristo, no Reino dos Céus (futuro).

A Igreja, ao celebrar este mistério, revive estas três dimensões do sacramento.

Por isso envolve com muita solenidade a festa do Corpo de Cristo. Não raro, o dia de Corpus Christi é um dia de liturgia solene e participada por um número considerável de fiéis (sobretudo nos lugares onde este dia é feriado).

Devoção popular e procissão

É necessário destacar que muito mais do que uma festa litúrgica, a Solenidade de Corpus Christi assume um caráter devocional popular. O momento ápice da festa é certamente a procissão pelas ruas da cidade, momento em que os fiéis podem pedir as bênçãos de Jesus Eucarístico para sua cidade. O costume de enfeitar as ruas com tapetes de serragem, flores e outros materiais, formando um mosaico multicor, ainda é muito comum em vários lugares.

Algumas cidades tornam-se atração turística neste dia, devido à beleza e expressividade de seus tapetes. Ainda é possível encontrar cristãos que enfeitam suas casas com altares ornamentados para saudar o Santíssimo, que passa por aquela rua.

A procissão de Corpus Christi conheceu seu apogeu no período barroco. O estilo da procissão adotado no Brasil veio de Portugal, e carrega um modo popular muito característico. Atualmente, esta expressão é viva em cidades históricas como Ouro Preto, Mariana, São João Del Rey...

Geralmente a festa termina com uma concentração em algum ambiente público, onde é dada a solene bênção do Santíssimo Sacramento. Nos ambientes urbanos, apesar das dificuldades estruturais, as comunidades continuam expressando sua fé Eucarística, adaptando ao contexto urbano a visibilidade pública da Eucaristia.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticia/1161963/2022/06/corpus-christi-sentido-origem-e-historia/

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Entender e viver Corpus Christi


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

Celebração de Corpus Christi receberá doações para o inverno ... 
*Artigo do Padre Alberto Gambarini


‘A solenidade de Corpus Christi é a ocasião oportuna para de um modo público, em nossas praças e ruas, testemunhar a nossa fé na certeza da presença real de Jesus na Eucaristia. Esta maravilha tão sublime e elevada, através da qual o Senhor se doa em alimento e remédio, para quem o recebe com fé, aconteceu na 5º feira Santa.

Neste dia, Jesus, deu aos apóstolos a grande missão de continuarem a celebrar a ceia através dos tempos, ordenando : ‘Fazei isto em memória de mim’. Ao dizer fazei isto, apontou para uma realidade forte. Quando se celebra a eucaristia, não se trata de uma recordação ou representação simbólica, mas um ato a cumprir.  Deste modo, cremos, que depois do sacerdote ter invocado o Espírito Santo, e repetido as palavras do Senhor na última ceia, o pão e o vinho se tornam o Seu Corpo e Sangue.

No discurso do pão da vida, Jesus é muito claro a este respeito, ao afirmar em Jo 6,51 : ‘E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo’. A cada missa acontece o maior de todos os milagres, e a mais importante de todas as aparições. O próprio Jesus se faz presente para encher com a sua glória e poder, o lugar onde se celebra a   Eucaristia, como também a cada pessoa presente neste momento tão sagrado e sobrenatural.

De todos os sacramentos, a Eucaristia, é o mais comovente, porque é aqui que Jesus Cristo nos mergulha no amor da sua entrega total realizada na cruz. Em 1Pdr 2,24 lemos : ‘Carregou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro para que, mortos aos nossos pecados, vivamos para a justiça. Por fim, por suas chagas fomos curados’ A cada Eucaristia torna-se presente este efeito da cruz. São Paulo em 1Cor 11,24, revela importantes gestos e palavras de Jesus durante a ceia : ‘e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse : Isto é o meu corpo, que é entregue por vós…’ Onde foi partido e entregue o Corpo de Cristo?  Na cruz.

Em 1Cor 11,25 também esta revelado : ‘Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim’. Ao falar  Nova Aliança, recorda a Antiga Aliança do passado onde existia o sacrifício de animais. Onde Jesus foi sacrificado e derramou o Seu sangue precioso? Na cruz. Por isso, a Eucaristia é a maior fonte de cura para todas as dimensões da nossa vida. São Pedro nos disse : por suas chagas fomos curados.

Quando participamos da santa missa, entramos em um mundo espiritual, que está fora do tempo material, e se transforma na melhor hora de Deus para a nossa vida. Não podemos esconder tão grande tesouro e fonte de milagres.

A missa de Corpus Christi, com a procissão e bênção, é uma é uma oportunidade especial para avivar a nossa fé no amor de Deus. É Jesus em pessoa, que não fica restrito as paredes de uma igreja, mas que passa no meio do povo, e santifica nossas ruas com a sua presença. Jesus vivo vai passar próximo de você, coloque em ação o poder da fé, e com certeza você experimentará a bênção de Deus agindo em sua vida.

Origem da festa de Corpus Christi

Sua origem está ligada a dois fatos do século XIII :

– As revelações feitas a Santa Juliana de Liege, onde Nosso Senhor Jesus Cristo pedia uma festa pública dedicada a Eucaristia. Nesta época era sacerdote, nesta diocese da Bélgica, o futuro papa Urbano IV.

– O Milagre Eucarístico de Bolsena (Itália), acontecido em 1263

O sacerdote Pedro de Praga fazia uma peregrinação à Roma. Nessa viagem, parou para pernoitar na vila Bolsena, não longe de Roma e se hospedou na Igreja de Santa Catarina. Na manhã seguinte, foi celebrar uma missa e pediu ao Senhor que tirasse da sua mente as dúvidas sobre a Sua presença real na Eucaristia. Era difícil para ele acreditar que no pão e no vinho, estava o Corpo de Cristo. Na hora em que ergueu a hóstia, esta começou a sangrar (sangue vivo). Ele assustado, embrulhou a hóstia e voltou à sacristia e avisou o que estava acontecendo. O sangue escorria, sujando todo o chão no qual apareciam vários pingos.

O milagre foi informado ao Papa Urbano IV, que estava em Orvieto, que mandou um bispo a essa vila verificar a veracidade de tal fato. O bispo viu que a hóstia sangrava e o chão, o altar e o corporal (toalha branca do altar) estavam todos manchados de sangue. Imediatamente organiza uma procissão para levar o corporal do milagre à presença do papa. O Papa resolve ir ao encontro da procissão. Quando o bispo mostra o corporal manchado de sangue, o papa se ajoelha e diz : ‘Corpus Christi’!

Em 1264, o papa Urbano IV, estendeu a festa para toda a Igreja, pedindo a Santo Tomás de Aquino que preparasse as leituras e textos litúrgicos que, até hoje, são usados durante a celebração.’


Fonte :
*Artigo na íntegra

quarta-feira, 30 de maio de 2018

A festa do corpo de Cristo


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

A verdadeira fé não vem por causa de milagres. 
*Artigo de Evaldo D´Assumpção,
médico e escritor


‘Neste ano, a festa denominada ‘Corpus Christi’ (Corpo de Cristo), cai no dia 31 de maio, pois é celebrada anualmente, 60 dias depois da Páscoa, sempre na quinta-feira seguinte ao Domingo da Santíssima Trindade, que por sua vez é celebrado no domingo seguinte ao Domingo de Pentecostes. Contudo, poucas pessoas conhecem a bela origem dessa celebração. Tudo se deu em decorrência de um extraordinário acontecimento no século XIII, mais especificamente no ano 1263. Era um tempo de muitas discussões sobre a veracidade da transubstanciação. Explico : transubstanciação diz respeito à transformação de uma coisa em outra. Na teologia católica refere-se à transformação do pão e do vinho na substância do corpo e sangue de Jesus Cristo, durante a cerimônia da consagração, que acontece exclusivamente no contexto da Santa Missa. Ou seja, por ela passa-se a ter a real presença de Jesus na hóstia e no vinho consagrados. Este dogma baseia-se nas próprias palavras de Jesus que disse : ‘Se não comerdes a carne do Filho do homem, nem beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós.... Minha carne é verdadeiramente comida, e meu sangue é verdadeiramente bebida’ (Jo 6, 53-54). E que durante a última ceia, ao entregar pão e vinho aos apóstolos, disse : ‘Isto é o meu corpo, que será entregue por vós....Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que será derramado por vós.’ (Lc 22,19-20). O pão e o vinho consagrados não perdem sua forma material, mas sua substância se torna na substância do próprio Cristo Jesus, pela força de suas palavras.

Nos séculos XI e XII, heresias como a dos Cátaros e dos Patarinis negavam essa transubstanciação e com isso geravam muitas dúvidas até em sacerdotes. Um deles, Pedro de Praga era atormentado pela dúvida e decidiu-se por uma peregrinação a Roma, em busca de luz para a sua falta de fé. No trajeto, parou num povoado chamado Bolsena, próximo à cidade de Orvietto onde no verão residia o Papa Urbano IV. Em Bolsena, ao celebrar a missa na capela de Santa Cristina, durante a consagração sobreveio-lhe forte dúvida e neste momento viu cair da hóstia que elevava, gotas de sangue sobre o altar, impregnando o linho que o cobria. Procurou o Papa e este enviou o Bispo Giácomo que lhe trouxe o pano ensanguentado. Diante disso, em 11 de agosto de 1264 o Papa proclamou a bula ‘Transiturus de mundo’, instituindo para todo o mundo a festa de Corpus Christi. E encarregou a Tomás de Aquino (depois, canonizado santo) compor o Ofício da Celebração, que deveria ser anualmente celebrada, na quinta feira após a oitava de Pentecostes, em honra do Corpo do Senhor.

Mas, além deste chamado Milagre Eucarístico, outros mais aconteceram em território italiano. Algo semelhante ocorreu na cidade de Cássia, região de Úmbria, onde faleceu Santa Rita de Cássia, em 22 de maio de 1457. No ano de 1330 ali vivia o Padre Simone Fidati, um sacerdote Agostiniano muito procurado como confessor de sacerdotes. Certa feita ele foi procurado por um padre que acabara de viver uma incrível experiência. Sofrendo de enorme falta de fé na eucaristia, havia sido solicitado a levá-la a um moribundo. Com sua descrença, sem qualquer cerimônia tomou no sacrário uma hóstia consagrada, colocando-a dentro do seu breviário, sem nenhum cuidado especial, e dirigiu-se à residência do enfermo. Lá chegando, ao abrir seu livro de oração para pegar a hóstia consagrada, viu que as páginas do livro estavam embebidas de sangue, tendo a hóstia em seu meio, pregada numa delas. Estas páginas foram guardadas e levadas, uma para o Tabernáculo de Perúgia, e a outra, com a sagrada hóstia nela colada pelo sangue, para o mosteiro Agostiniano de Cássia, onde até hoje pode ser vista. E mais espantoso, é que nesta hóstia, quando iluminada por detrás, pode-se ver, nitidamente, o perfil de um rosto que se supõe seja a reprodução da face de Cristo. Em 1687 houve o reconhecimento oficial da Igreja, da Relíquia do Milagre Eucarístico de Cássia.

Entretanto, o mais detalhadamente estudado dos chamados Milagres Eucarísticos, certamente foi o ocorrido em outra cidade na costa adriática, chamada Lanciano. Seu nome vem do fato de aí ter nascido Longino, o centurião que deu o golpe de lança no tórax de Cristo crucificado.

Este é talvez o mais antigo, pois ocorreu no século VIII, quando um monge da ordem Basilicana, como os demais passava por uma profunda crise de fé, não acreditando na transubstanciação. Durante uma consagração, diante de sua comunidade, viu gotas de sangue escorrerem pela hóstia elevada, que em suas mãos transformou-se em carne. Transtornado pelo que via, guardou cuidadosamente os coágulos formados do sangue escorrido, e a hóstia feita em carne. Séculos depois, nos anos 1970 e 71, os professores da Universidade de Siena, Odoardo Linoli e Ruggero Bertelli, com autorização da Igreja, fizeram exames químicos e microscópicos do sangue, constatando que estava em perfeito estado, sem que houvesse qualquer traço de conservantes, o mesmo acontecendo com a carne em que se transformou parte da hóstia. O sangue revelou-se ser humano e do grupo AB, o mais comum entre os judeus. E a carne revelou-se músculo cardíaco humano, contendo filetes nervosos e vasos como se tivesse sido retirado de um coração ainda palpitando. Muitos outros estudos foram feitos, nenhum deles levantando qualquer suspeita de fraude, como aconteceu com os outros Milagres Eucarísticos reconhecidos pela Igreja.

Concluindo, afirmo acreditar que a verdadeira fé não vem por causa de milagres, que só reforçam a chama bruxuleante existente em nossos corações. Quem busca fatos miraculosos para crer, tão somente alcança a crendice e o fanatismo, que com o mesmo ímpeto que surgem, se esvaem pela inconsistência que os caracteriza.’


Fonte :

quarta-feira, 3 de junho de 2015

A festa do Corpus Christi

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 *Artigo de João Luís Inglês Fontes

‘A Festa normalmente designada como do ‘Corpo de Deus’ tem uma longa história. Surgida no século XIII entre heresias que contestavam a doutrina católica sobre a presença real de Cristo na Eucaristia e, em simultâneo, o acréscimo da devoção dos fiéis pela contemplação da hóstia consagrada, depressa se assumiria como uma das datas principais do ano litúrgico e a sua procissão uma das mais concorridas. É este caminho que aqui nos propomos percorrer, procurando discernir as razões deste sucesso e desta procura.

A 11 de Agosto de 1264, encontrando-se então em Orvieto, o papa Urbano IV emite a bula Transiturus de hoc mundo, pela qual institui, para toda a Igreja, a festa do Corpus Domini, do Corpo do Senhor, a ser celebrada na quinta-feira após a oitava de Pentecostes, ou seja, na semana a seguir à solenidade da Santíssima Trindade. Dedicada de modo particular à exaltação do Santíssimo Sacramento, a origem desta festa encontrava-se intimamente ligada à diocese de Liège, na Bélgica, de onde Urbano IV era originário. Aí desempenhara, com efeito, importantes funções como arcediago e certamente acompanhara os esforços dos seus prelados no sentido de afirmarem a autonomia da sua autoridade face às intromissões dos poderes leigos e de reforma da vida religiosa no interior da diocese; pudera ainda acompanhar de perto o florescer das comunidades de beguinas, dessas mulheres que, sem fazerem qualquer profissão religiosa ou integrarem qualquer Ordem, viviam sós ou em pequenas comunidades, no interior das cidades, procurando, na pobreza, na castidade e com base no seu trabalho e no desempenho de obras de caridade, seguir a Cristo. Estes grupos espelhavam bem o desenvolvimento de uma espiritualidade mais afetiva e intimista, particularmente atenta à meditação dos sofrimentos de Cristo e dos seus mistérios. A humanização da figura do Salvador ia a par com uma crescente devoção eucarística, pois nas espécies consagradas o próprio Cristo atestava a sua humildade e se fazia, de forma única, acessível aos crentes. Aí podia ser visto, adorado e saboreado.

Urbano IV estimava estes grupos de mulheres, sabendo-se que chegou a escrever um Libelo da regra e vida das beguinas, com diversos conselhos sobre o seu modo de vida e espiritualidade, infelizmente perdido. A muitas destas mulheres se reconheciam importantes dons no discernimento e aconselhamento espiritual e não raro se lhes conheciam experiências místicas, marcadas também por sonhos e visões. Entre essas mulheres, uma certa Juliana (c. 1193-1258), que servia na leprosaria anexa ao convento premonstratense de Mont Cornillon, em Liège, fora desde cedo objeto de certas revelações por parte do próprio Cristo, que deixaria registadas, mais tarde, por meio da biografia escrita pelo seu confessor. Uma delas, ocorrida possivelmente em 1208, permitira-lhe ver uma lua cheia, manifestada em todo o seu esplendor, mas cuja forma esférica era escurecida e quebrada num dos seus segmentos. O sentido de tal visão ser-lhe-ia mais tarde revelado pelo próprio Cristo : a lua era imagem da Igreja, e a fissura que a atingia significava a ausência de uma festa que permitisse aos fiéis a compreensão e valorização adequada do mistério eucarístico.

A mensagem transmitida por Juliana de Mont Cornillon a favor de uma nova festa eucarística seria bem acolhida pelo bispo de Liège, Roberto de Tourotte, que a viria a estabelecer na sua diocese por meio de uma carta pastoral em 1246, poucos meses antes de morrer. A iniciativa seria bem acolhida por outros grupos religiosos no interior da diocese, nomeadamente pelos dominicanos e cistercienses, que acabariam por contribuir para a sua disseminação além das fronteiras de Liège. Em 1264, menos de uma década volvida, Urbano IV dava o seu aval para que a celebração de Corpus Christi se estendesse a toda a Igreja.


Vantagens da celebração generalizada

O investimento pontifício nesta nova festa eucarística seria definitivamente assumido pelos papas posteriores. Urbano IV morre pouco depois de emitir a bula que impunha a sua celebração a toda a Igreja e crê-se que muitas das cartas que ordenara para que tal determinação fosse dada a conhecer ao conjunto da Cristandade nunca tenham sido efetivamente enviadas. Mas os seus sucessores, Clemente V e sobretudo João XXII, retomariam o interesse em promover a implementação da mesma festa. O primeiro ratificaria a sua celebração no contexto do Concílio de Viena, em 1312, por meio da bula Si dominum, que viria a ser incluída nas Clementinas, uma compilação de leis canônicas publicada em Outubro de 1317; João XXII, o responsável pela conclusão desta obra, por bula de 1318, juntar-lhe-ia uma oitava e uma procissão solene, que deveria ocorrer após a celebração eucarística.

O papado mostrava-se consciente das potencialidades e vantagens da sua celebração generalizada. Ela poderia ser um momento privilegiado de afirmação da ortodoxia católica, não só quanto à afirmação da presença real de Cristo nas espécies eucarísticas, como no reconhecimento da necessidade do ministério ordenado para que essa mesma presença do Salvador no pão e no vinho pudesse acontecer. Muitas heresias vinham, desde há séculos, contestando muitos destes aspetos. A criação de uma nova festa eucarística e a sua extensão, tão do agrado popular, por meio de uma procissão pública, permitiria estender e reforçar esse reconhecimento e veneração.

Daí também o cuidado posto na elaboração de todas as peças litúrgicas que envolviam esta festa, desde os textos para a celebração da Eucaristia (orações, antífonas, peças para o canto) até ao ofício divino e ao próprio ritual que deveria envolver o cortejo processional. Embora inicialmente encontremos diversas versões, mais locais, dos textos que deveriam ser recitados ou cantados nesse dia, acabaria por vingar um conjunto de composições que parecem dever muito à pena e à obra de S. Tomás de Aquino, que o próprio João XXII viria a canonizar em 1323. Estes permitiam seguir a reflexão do douto dominicano, que acentuava a tríplice divisão escolástica na apresentação do mistério eucarístico, como memorial da paixão de Cristo, atualização da sua Páscoa, necessária para a unidade do corpo da Igreja – pela comunhão que os fiéis estabelecem com Cristo e entre si – e penhor da glória futura. A procissão eucarística iria também buscar à procissão do Domingo de Ramos muitos dos seus elementos inspiradores, retomando desta as tonalidades triunfais da entrada de Cristo, agora constituído como Senhor, na inteireza do seu mistério, transportado em glória, no meio de aclamações e manifestações de alegria, pelas ruas de aldeias, vilas e cidades.

Importa, contudo, reconhecer que a sanção pontifícia, dando um definitivo impulso à extensão da festa de Corpus Christi a toda a Cristandade, acabou, em larga medida, por vir acolher e sancionar a crescente popularidade da sua celebração e o quase espontâneo surgimento de uma procissão a ela associada. Com efeito, mesmo em Portugal, bem distante da diocese belga onde esta festa teve a sua origem, encontramos documentada a sua celebração desde 1266 em Coimbra e, em 1294, já encontramos referência à realização da respectiva procissão eucarística, bem como ao prolongamento dessa festa por meio de uma oitava, também em Coimbra, cerca de 1307.


Uma das mais importantes celebrações do calendário litúrgico

Rapidamente, a festa de Corpus Christi, com a sua procissão, tornar-se-ia numa das mais importantes celebrações do calendário litúrgico. Ela respondia, de facto, à forte devoção eucarística que marca a espiritualidade medieval dos finais da Idade Média, particularmente centrada no desejo de contemplar a hóstia consagrada, momento particularmente valorizado numa celebração dita numa língua estranha à maioria dos fiéis e em larga medida desempenhada quase exclusivamente por clérigos, sem participação do resto da assembleia. A procissão permitia prolongar esta possibilidade de ‘ver a Deus’, estendendo a presença santificante de Cristo na hóstia consagrada às ruas das aldeias, vilas e cidades por onde era triunfalmente transportado e por todo o corpo social, que em cuidada hierarquia era ordenado no interior do cortejo processional. Daqui se compreende como, para a mentalidade popular, a procissão acabou por ser sobrevalorizada no conjunto dos momentos celebrativos que marcavam o dia de Corpus Christi.

O período pós-tridentino, claramente marcado pela necessidade de defesa do dogma católico face à contestação protestante, virá acentuar a importância desta festa, no quadro da valorização e diversificação das devoções eucarísticas (surgem neste período outras práticas, como as Quarenta Horas ou o Lausperene). Esta não perderá a sua força nos séculos XIX e XX, alimentada por novas correntes de espiritualidade, que tenderam a acentuar reforçar a dimensão reparadora destes atos de devoção eucarística.

A reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II viria recentrar a questão, colocando o enfoque na celebração eucarística e na sua relação com o mistério pascal de Cristo, e relacionando as suas manifestações mais secundárias, como as procissões, com uma nova eclesiologia de comunhão. O cortejo eucarístico torna-se assim manifestação daquilo que a Igreja é e vive na Eucaristia : corpo de Cristo, povo a caminho para o Reino e sinal para o mundo da vida nova que Jesus oferece a todos os homens.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.familiacrista.com/noticias/igreja/1900-a-festa-do-corpus-christi.php


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Corpus Christi

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

* Cardeal Dom Orani João Tempesta, O. Cist.,
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ


‘...O significado de Corpus Christi é oriundo do latim e significa ‘Corpo de Cristo’. Esta solenidade, no Brasil comemorada sempre na quinta-feira depois da Festa da Santíssima Trindade, tem por objetivo celebrar solenemente o mistério da Eucaristia – o Sacramento do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. Acontece sempre em uma quinta-feira em alusão à Quinta-feira Santa, quando se deu a instituição deste sacramento. Durante a última ceia de Jesus com seus apóstolos, Ele mandou que celebrassem Sua lembrança comendo o pão e bebendo o vinho que se transformariam em seu Corpo e em seu Sangue. ‘O que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue é verdadeiramente bebida. O que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. O que come deste pão viverá eternamente’ (Jo 6, 55 - 59). Através da Santíssima Eucaristia, Jesus nos mostra que está presente ao nosso lado, e se faz alimento para nos dar força para continuar. Jesus nos comunica seu amor e se entrega por nós.

Corpus Christi remonta ao século XI. A celebração teve origem em 1243, em Liège, na Bélgica, no século XIII, quando a freira Juliana de Cornion teria sido inspirada para que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com destaque. O Papa Urbano IV, em 1264, através da Bula ‘Transiturus de hoc mundo’ estendeu a festa para toda a Igreja, pedindo a São Tomás de Aquino que preparasse as leituras e os textos litúrgicos, que até hoje são usados durante a celebração. Compôs o hino ‘Lauda Sion Salvatorem’ (Louva, ó Sião, o Salvador), também ainda hoje usado e cantado nas liturgias do dia nos cinco continentes. A procissão com a Hóstia consagrada conduzida em um ostensório é datada de 1274. Foi na época barroca, contudo, que ela se tornou um grande cortejo de ação de graças.


Lauda Sion Salvatórem - Sequence - Corpus Christi - Solesmes


A celebração de Corpus Christi consta de uma missa, procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento. A procissão lembra a caminhada do povo de Deus, que é peregrino, em busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento esse povo foi alimentado com maná, no deserto. Hoje, ele é alimentado com o próprio Corpo de Cristo.

A Santíssima Eucaristia é o memorial sempre novo e sempre vivo dos sofrimentos de Jesus por nós. É pela Eucaristia que tomamos parte na vida divina, nos unindo a Jesus e, por Ele, ao Pai, no amor do Espírito Santo. Essa antecipação da vida divina aqui na Terra mostra-nos claramente a vida que receberemos no Céu, quando nos for apresentado, sem véus, o banquete da eternidade.

Na procissão de Corpus Christi acompanhamos o Ressuscitado no seu caminho pelo mundo inteiro, como dissemos. E, precisamente fazendo isto, respondemos também ao seu mandamento : ‘Tomai e comei... Bebei todos’ (Mt 26, 26s.). Comer este pão é comunicar, é entrar em comunhão com a pessoa do Senhor vivo. Esta comunhão, este ato de ‘comer’, é realmente um encontro entre duas pessoas, é deixar-se penetrar pela vida d'Aquele que é o Senhor, d'Aquele que é o meu Criador e Redentor. A finalidade desta comunhão, deste comer, é a assimilação da minha vida à sua, a minha transformação e conformação com Aquele que é Amor vivo. Por isso, esta comunhão exige a adoração, requer a vontade de seguir Cristo, de seguir Aquele que nos precede. Assim sendo, a adoração e a procissão fazem parte de um único gesto de comunhão; respondem ao seu mandamento : ‘Tomai e comei’.

Uma dimensão da Eucaristia é a de banquete. A Eucaristia nasceu na noite de Quinta-feira Santa, no contexto da ceia pascal. Traz, por conseguinte, inscrito na sua estrutura o sentido de sentar-se à mesa : ‘Tomai, comei... Tomou, em seguida, um cálice e... entregou-lho dizendo : Bebei dele todos...’ (cf. Mt 26,26.27). Este aspecto exprime bem a relação de comunhão que Deus quer estabelecer conosco e que nós mesmos devemos fazer crescer uns com os outros...’
  

Fonte  :
* Artigo na íntegra de http ://www.cnbb.org.br/articulistas/dom-orani-joao-tempesta/12078-corpus-christi