Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Refugiados no Palácio Apostólico de Castel Gandolfo
Em fuga das perseguições nazistas
O
rastreamento de 16 de outubro de 1943 durou exatamente oito horas e meia, das
5h30 até as 14h. Era um sábado, dia de festa e repouso para a religião judaica,
dia escolhido não a caso pelo projeto diabólico dos nazistas, cuja intenção era
eliminar um povo inteiro. Ao concluir a operação, nas ruas desertas do gueto
judeu de Roma, ainda ressoavam os gritos de desespero dos 1.259 judeus romanos,
dos quais 689 mulheres, 363 homens e 207 meninos e meninas, arrancados de suas
casas à força pelas tropas da Gestapo. Dos presos, 1.023 foram logo deportados
para os campos de concentração de Auschwitz, e apenas 16 voltaram às suas
casas. Outros conseguiram fugir em busca de ajuda algumas horas antes da
incursão daquela noite.
Pesquisa histórica baseada em testemunhos orais
Impossível
quantificar com exatidão o número total de judeus escondidos ou salvados pela
Igreja Católica. Os motivos são muitos : em primeiro lugar a falta quase total
de documentação escrita que por prudência e para evitar rastreabilidade
comprometedora foi evitada. Também não se pode omitir o vergonhoso fenômeno das
delações. Por isso, a pesquisa histórica destes acontecimentos são baseadas
principalmente nos testemunhos orais. Descobre-se situações muito diversificadas
: judeus escondidos em casas religiosas por livre iniciativa das mesmas, ou
hospedados em mosteiros de clausura sob indicação e concessão da Santa Sé,
lugares cristãos como as Catacumbas de Priscila, que se tornaram pontos de
referência para a rede de documentos falsos, às casas religiosas que eram
abastecidas pelo Vaticano e que depois distribuíam alimentos aos refugiados que
abrigavam. E também as estruturas que abriam suas portas gratuitamente e as que
pediam pagamento de uma mensalidade.
Escondidos e camuflados por cristãos
A
hospitalidade acontecia de várias maneiras : da acolhida de famílias inteiras,
à de somente homens ou mulheres e crianças. Em muitos casos, por motivos de
segurança, os refugiados deviam aprender orações cristãs, e até mesmo usar
batinas por causa da blitz dos nazifascistas. A maior parte dos testemunhos
confirma um total respeito por parte das irmãs e sacerdotes pela crença
judaica. Sem dúvida, os meses de convivência foram uma ocasião de conhecimento
inter-religioso que ajudou a dissipar muitos preconceitos recíprocos.
Convivência e compartilhamento
O
refúgio em Igrejas e conventos emerge frequentemente nas histórias dos
sobreviventes. A acolhida dos judeus foi realizada em num amplo contexto :
desde procurados por motivos políticos, aos deslocados e aos órfãos. Durante
uma emergência que durou meses, as comunidades religiosas levaram adiante suas
atividades normais compartilhando com os hóspedes o que havia de disponível em
casa devido às dificuldades econômicas impostas pela guerra. Nos hospitais, os
refugiados se camuflavam de pacientes, nas escolas de estudantes, nos
institutos de caridade de inválidos.
A chegada nos conventos
As
famílias judias chegavam às casas religiosas muitas vezes por conhecimento
direto ou por meio de listas de conventos assinalados clandestinamente pelos
bispos aos comitês judaicos de assistência. Alguns tinham recomendações
influentes, outros batiam às portas das igrejas e mosteiros na desesperada
tentativa de encontrar reparo. O então secretário particular de Pio XII, Robert
Leiber confirmaria em 1961 que o Papa comunicara que as casas religiosas ‘podiam e deviam’ dar refúgio aos judeus.
Também deve ser recordado que entre setembro e outubro de 1943 a Secretaria de
Estado e o Vicariato de Roma mandaram distribuir aos vários institutos
religiosos placas com a escrita de que eram territórios do Vaticano,
(extra-territoriais em relação à Itália) com o objetivo de evitar perseguições
e irrupções.
Sacerdotes, religiosas e religiosos ‘Justos entre as Nações’
Dos
486 italianos proclamados ‘Justos ente as
Nações’ pelo Yad Vashem, o memorial israelense do Holocausto que desde 1962
examina os dossiês dos não judeus que salvaram judeus durante o Holocausto,
cerca de um oitavo pertence ao clero católico : 30 sacedotes dicoesanos, 12
religiosos, 15 religiosas e 4 bispos.
Podemos recordar :
Mons.
Placido Nicolini, que liderou uma rede de socorro em Assis; o núncio Angelo
Rotta de Budapest que distribuiu aos judeus 19.000 cartas de proteção com
credenciais vaticanas. A beata Elisabeth Maria Hesselblad, sueca, fundadora das
Brigidinas, mas ativa durante a guerra na Casa Geral de Roma; padre Pietro
Pappagallo, mártir das Fossas Ardeatinas, por ter escondido judeus e
distribuído documentos falsos para ajudá-los; as irmãs Emerenzia Bolledi e
Ferdinanda Corsetti que hospedaram 30 jovens judias e várias famílias no
convento romano das Josefinas de Chambèry. Também padre Gaetano Tântalo, pároco
de Tagliacozzo que conservou até a morte um pedacinho de pão não fermentado que
tinha recebido da família judia de Natan Orviento que protegera durante a
guerra na casa paroquial.
Em
2010 a medalha de ‘Justo entre as Nações’
foi dada ao padre jesuíta Raffaele de Ghantuz Cubbe que como reitor do Nobile Collegio di Mondragone, em Frascati,
salvou do extermínio nazista três crianças judias escondendo-os ente os
estudantes do Colégio. Entre eles Graziano Sonnino ainda vivo.’
Fonte
:
* Artigo na íntegra https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2019-01/judeus-holocausto-igreja-catolica.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário