Por Eliana
Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Gail DeGeorge,
editora do Global Sisters Report
Tradução : Ramón Lara
Lentamente,
termina uma era em que as religiosas católicas eram vítimas silenciosas de
abuso sexual por padres e bispos. Consideremos estes desenvolvimentos no ano
passado :
•
No Chile, o Vaticano está investigando denúncias de membros de uma congregação
por abuso sexual dos sacerdotes e por maus tratos por parte de seus superiores.
•
Na Índia, o bispo Franco Mulakkal, de Jalandhar, é acusado de estuprar várias
vezes uma ex-superiora de uma congregação. Ele é o primeiro bispo da Índia a
ser preso por abuso sexual de uma freira. Contudo, o bispo nega as acusações.
Mais de 80 irmãs estavam entre os 167 signatários de uma carta em julho passado
pedindo que ele fosse dispensado de seus deveres pastorais. Cinco irmãs da
congregação e outros apoiadores participaram de uma manifestação pública
altamente incomum apoiando a ex-superiora e protestando contra a falta de
medidas das autoridades da Igreja e do Estado.
•
Declarações encorajando as irmãs a denunciar abuso e que membros da congregação
e superioras a acreditar e apoiar as vítimas foram emitidas pela União Internacional de Superioras Gerais,
a maior representação mundial da liderança religiosa das mulheres católicas; e
pela Conferência de Liderança de Mulheres
Religiosas nos EUA.
• A
Associated Press publicou uma reportagem em julho sobre o abuso sexual de
irmãs, com base em um artigo da National
Catholic Reporter em 2001. Em janeiro, publicou uma matéria separada com
foco na Índia. Outros relatos da mídia surgiram sobre abusos em Mianmar.
Em
mais de uma dúzia de entrevistas para este artigo, surgiram alguns padrões
entre países e continentes sobre como ajudar a prevenir abusos e apoiar as
vítimas, caso ocorra.
‘Irmãs individualmente têm que se arriscar a
dizer a verdade se isso estiver acontecendo com elas’, disse a Irmã
Fherman, sobrinha das irmãs beneditinas do Monte de Santa Escolástica em
Atchison, Kansas, que fez um discurso em 2000 sobre o abuso sexual de irmãs, em
ocasião de um congresso em Roma de 250 abades beneditinos. ‘Outros em torno deles têm que ouvir e
acreditar nelas e não deixar de dar a devida atenção como se estivessem
inventando as histórias - que é o mesmo problema que tivemos em toda a sociedade
a respeito do abuso sexual de mulheres - que de alguma forma acaba sendo culpa
da mulher’, disse Fangman, doutora em aconselhamento que já trabalhou com
vítimas de abuso sexual. ‘Se a relação de
poder é desigual, preste atenção à pessoa que conta a história porque ela está
em desvantagem e provavelmente está dizendo a verdade.’
Ausentes
de um protocolo de denúncia ou outra ação do Vaticano, as congregações e as
conferências nacionais elaboram discretamente suas próprias respostas. Mais
treinamentos de conscientização estão sendo incorporado nos programas de
formação e liderança. Medidas pragmáticas estão sendo implementadas, como a
assinatura de contratos por escrito para as irmãs que trabalham em paróquias,
explicando os deveres e as horas para minimizar as situações vulneráveis em que
estariam trabalhando sozinhas. Tais proteções, disseram alguns líderes da
congregação, incluem até mesmo detalhes como garantir que as irmãs tenham
dinheiro para o transporte, a fim de evitar as viagens com padres ou bispos.
Uma
maior independência financeira para as congregações é vital para evitar a
dependência excessiva dos bispos diocesanos ou dos párocos, disseram vários. Os
doadores devem ser encorajados a enviar dinheiro diretamente para as
congregações em vez de através dos escritórios diocesanos. As revisões na lei
canônica devem limitar ou impedir que os bispos criem congregações diocesanas,
que estão sujeitas a um maior controle local e abuso potencial, disseram
algumas irmãs.
Outras
mudanças são extremamente necessárias, disseram os entrevistados. Protocolos de
dioceses e do Vaticano devem ser estabelecidos, divulgados e seguidos em
relação a alegações de abuso por mulheres religiosas.
Mas
a mudança real em relação ao abuso de irmãs, muitos dizem, requer uma mudança
fundamental na hierarquia e na atitude da Igreja em relação às mulheres. Apesar
de não minimizar a dor do abuso sexual, a teóloga feminista Mary Hunt disse que
o problema é sintomático de um ‘abuso
espiritual’ mais profundo e generalizado perpetrado sobre as mulheres pela
igreja dominada por homens. ‘Disseram-nos
coisas que não são verdadeiras’, apontou ela. ‘As mulheres foram relegadas a cidadãos de segunda classe’ na
igreja.
Um
desmantelamento do clericalismo e uma elevação das mulheres e das religiosas
aos cargos de liderança também é crítico, segundo os entrevistados. Isso
enviaria uma mensagem aos bispos em todo o mundo sobre o status das mulheres,
particularmente nos países em desenvolvimento.
‘Se a igreja pode aceitar as mulheres como
mulheres - não como instrumento ou ferramentas a serem usadas - isso seria
minha alegria’, disse a Irmã Eneless Chimbali, Serva da Abençoada Virgem
Maria que serviu como secretária geral da Associação
de Mulheres Consagradas na África Oriental e Central, conhecida pelas
siglas ACWECA, desde 2015. ‘É só olhar
para a cúria no Vaticano’, disse ela em relação à igreja dominada por
homens. ‘As mulheres e os leigos estão
sempre no lado receptor - não estão incluídos nos fóruns de tomada de decisão.’
As
congregações estão fazendo mudanças como podem. Em programas de formação e
seminários para superioras, as atitudes estão mudando para treinar melhor as
irmãs, especialmente noviças e postulantes, para evitar situações vulneráveis e
relatar casos de comportamento inadequado. A Irmã Rose Pacatte, diretora
fundadora do Centro Paulino de Estudos de
Mídia e colaboradora do National
Catholic Reporter, preparou recentemente uma apresentação para diretores de
liderança e formação sobre abuso sexual, incluindo seções sobre prevenção, para
a Conferência de Líderes Superioras
Maiores no Paquistão.
A
apresentação, que é aplicável para comunidades e congregações em outros países,
inclui seções sobre ‘corrupção de menores’
e exercícios de role-playing para as irmãs praticarem a rejeição de
aproximações sexualmente intencionadas e relatarem os casos para suas
superioras. Foi criado com a ajuda de Irmã Kathleen Bryant, Religiosa da Caridade que atuou como
diretora vocacional da Arquidiocese de Los Angeles por 21 anos e tem sido líder
no combate ao tráfico de pessoas por 18 anos, junto com a Irmã Suzanne Mayer,
da congregação Coração Imaculado de Maria, diretora de aconselhamento em saúde
mental pastoral na Neumann University em Aston, Pensilvânia.
‘Cada comunidade tem que descobrir como apresentar
essa informação para suas irmãs mais novas sem tirá-las dos homens ou do clero
- tornando-as sábias, mas não medrosas’, disse Pacatte. ‘Temos que reconhecer que o abuso sexual de
irmãs é real e criar um protocolo se algo acontecer.’
A
educação de irmãs está ajudando a mudar a dinâmica no Quênia, Malauí, Nigéria e
outros países da África, disseram as irmãs nesses países. ‘Há muita consciência, as irmãs estão sendo educadas e seu nível de
conhecimento está aumentando para permitir que se defendam e estejam cientes de
seus limites’, disse Chimbali.
A
ACWECA realiza oficinas sobre a vida religiosa com líderes congregacionais que
incluem questões sobre a proteção de crianças e adultos vulneráveis, disse ela.
O foco não é apenas em irmãs sendo abusadas pelo clero, mas também em situações
em que as irmãs podem estar abusando de jovens ou aqueles que servem, não
necessariamente um abuso sexual, mas outras formas de abuso físico, mental ou
emocional, disse ela. ‘A questão da
proteção infantil ou do abuso sexual é incorporada à formação e à vida
religiosa em curso na África’, apontou a religiosa.
Por
causa da educação e maior empoderamento das religiosas, a questão do abuso das
irmãs pelo clero ‘melhorou muito nos
últimos 15 anos’, falou a Irmã Chimbali.
Workshops
para mulheres consagradas e homens sobre o acompanhamento de vítimas de
violência sexual durante o conflito foram realizados em 2017 e 2018 na
República Democrática do Congo e Uganda, patrocinados por parcerias de
conferências religiosas e da União de
Superiores Gerais, ou UISG, em conjunto com a Embaixada do Reino Unido na
Santa Sé. Durante a oficina sobre a Uganda, o arcebispo John Baptist Odama de
Gulu, se ajoelhou e pediu desculpas em nome do clero masculino que pode ter
abusado de mulheres que serviam em ministérios pastorais.
O
artigo do NCR em 2001 citou vários relatórios, alguns datando de meados da
década de 1990, sobre o abuso de irmãs pelo clero. Embora tenham sido
encontrados casos em 23 países nos cinco continentes, um relatório dizia que o problema na época era particularmente agudo na
África por causa da crise da AIDS. Irmãs eram vistas como parceiras sexuais
seguras por padres e bispos.
Não
está claro qual foi a resposta do Vaticano aos relatórios ou ao artigo do NCR,
ou às revelações atuais de abuso sexual de religiosas. A Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades
de Vida Apostólica não respondeu a várias investigações feitas desde
setembro sobre a resposta aos relatórios de 2001 ou os casos mais recentes de
abuso. A assessoria de imprensa do Vaticano não respondeu às perguntas feitas
em janeiro.
Anos
depois de seu discurso se tornar público, citado no artigo da NCR e em outros
artigos e fóruns mais recentes, Fangman lamenta que ‘ainda não há soluções - o que está acontecendo é que as pessoas estão
falando sobre isso’.
Se
ela fosse escrever o relatório hoje, Fangman assinalou, usaria uma linguagem
ainda mais forte. Em seu trabalho de aconselhamento às vítimas, ficou muito
mais claro o quão profundas são as feridas do abuso sexual, particularmente o
abuso pelo clero. ‘Isso não apenas ataca
o espírito delas’, disse a irmã. ‘Ataca
a alma delas também porque é a imagem de Cristo através do sacerdote fazendo
isso com elas.’
Fangman
e outras irmãs entrevistadas para este artigo enfatizaram que o abuso sexual de
irmãs não se limita a uma determinada geografia. ‘Não é um problema de África, é um problema da igreja’, apontou. ‘É uma questão de poder - a diferença entre
homens e mulheres e aqueles na igreja que têm poder.’
A
interação de poder e a autoridade da igreja tem se desdobrado no caso da Índia.
A ex-superiora da Congregação
Missionárias de Jesus abriu um processo em junho contra Mulakkal, de
Jalandhar, no Punjab, um estado do norte da Índia que faz fronteira com o
Paquistão, alegando que ele teria abusado sexualmente dela várias vezes em seu
convento em Kerala, um estado no sul. Ela disse que entrou com o caso perante a
justiça depois que as queixas às autoridades da igreja não trouxeram nenhuma
ação.
Meses
se passaram sem nenhuma ação das autoridades civis ou resposta das autoridades
da igreja. Cinco membros da congregação e outros partidários da freira se
engajaram em um protesto público em setembro. Mulakkal foi preso em 21 de
setembro, interrogado e libertado. Ele negou as acusações e caracterizou o caso
como retaliação da freira por suas ações disciplinares contra ela.
O
atraso na ação contra Mulakkal deixou as pessoas céticas sobre a alegação de
tolerância zero da igreja em relação ao abuso do clero, disse Jesser Kurian,
uma advogada da Suprema Corte na Índia, antes da prisão do bispo. Ela estava
entre as 167 signatárias em julho da carta dirigida ao cardeal Oswald Gracias
de Mumbai e ao arcebispo Giambattista Diquattro, núncio apostólico na Índia,
aconselhando o papa Francisco a tirar Mulakkal de seus deveres pastorais.
‘A menos que Mulakkal seja dispensado de seus
deveres pastorais, nenhuma investigação imparcial poderá ocorrer’, disse
Kurian, membro da Providência de Secunderabad, em St. Anne, que realiza cursos
de treinamento em direitos humanos e leis indianas para vários grupos da Índia,
incluindo freiras.
O
abuso de freiras pelo clero na Índia veio à tona na reunião de 22 de fevereiro
de 2016 do Fórum dos Religiosos pela
Justiça e a Paz, um grupo de defesa de mulheres religiosas.
Os
participantes então escreveram aos bispos e superiores religiosos que a
violência sexual de religiosas não foi abordada enquanto seus perpetradores
escaparam da punição. ‘Isso não pode mais
ser tolerado’, afirmaram.
Pouco
parece ter mudado mesmo depois de dois anos, embora a conferência dos bispos
indianos em 2017 tenha promulgado ‘Diretrizes
da CBCI para lidar com o assédio sexual no local de trabalho’ como parte de
seus esforços para implementar a tolerância zero.
‘Infelizmente, não é divulgada nem suas cópias
distribuídas nem entre os membros dos religiosos católicos da Índia’,
lamenta a Irmã Noella de Souza, coordenadora nacional do movimento ecumênico de
mulheres cristãs indianas.
Quando
contatados, os funcionários da conferência se recusaram a explicar como a
igreja implementou as diretrizes.
No
entanto, o arcebispo Leo Cornelio, de Bhopal, prelado sênior, disse que
informou seus sacerdotes e freiras sobre as diretrizes e criou mecanismos em
sua arquidiocese para verificar os abusos do clero.
Outro
prelado, o bispo Clement Tirkey de Jalpaiguri, um ex-membro da comissão para
mulheres na conferência dos bispos latinos, também disse que implementou as
diretrizes em sua diocese no estado de Bengala Ocidental.
Casos
de abuso começaram a surgir depois que mais freiras começaram a falar contra a
exploração, disse a Irmã Hazel D'Lima, filha do Coração de Maria, ex-presidente da seção de Religiosas Católicas da Índia. Mas a tendência da igreja em ignorar
ou silenciar esse caso irá prejudicá-lo, ela adverte.
Ela
diz que equívocos sobre o voto de obediência impedem que as freiras digam não
quando é necessário. Ela quer que as freiras em formação sejam ensinadas a
resistir aos abusos de qualquer um, incluindo padres e bispos.
Astrid
Lobo Gajiwala, uma teóloga leiga feminista, diz que conheceu casos de abuso 25
anos atrás, quando foi convidada para falar com as superioras maiores.
‘Naquela época, a preocupação das
participantes era explorar maneiras pelas quais elas poderiam apoiar essas
vítimas, em vez de pedir-lhes para deixar o convento e, às vezes, dar à luz a
seus bebês nas sombras’, lembra ela. Gajiwala disse que tinha notado muita
raiva entre as freiras contra os padres que continuaram seu ministério e seu ‘comportamento desviante’ depois de
abusar de freiras e outras mulheres.
As
religiosas agora sabem que têm uma alternativa se a igreja ignorar suas
queixas, pois a Índia tem o compromisso de prevenir, proibir e corrigir o
assédio sexual das mulheres no local de trabalho.
‘Para a maioria dessas mulheres, ir à polícia
não é a primeira opção. O abuso geralmente é trazido à luz apenas porque as
vítimas não estão felizes com a maneira como a igreja lidou com o assunto.’
No
entanto, fazer públicas as denúncias pode abrir outra forma de abuso, pois os
acusadores são criticados por serem desleais com a igreja. O caso envolvendo o
bispo Mulakkal dividiu a comunidade católica na Índia entre aqueles que apoiam
o prelado e aqueles que apoiam a freira. Os defensores da freira foram
criticados por prejudicar a reputação da igreja. Uma irmã pertencente a outra
congregação que participou do protesto foi ameaçada de demissão.
Até
mesmo a pesquisa de casos de abuso sexual traz riscos, como a dolorosa
descoberta da Irmã Esperanza Principio nas Filipinas. Ela foi coautora de um
relatório sobre abuso sexual por parte do clero nas Filipinas, apresentado em
2002 ao Conselho dos Bispos desse
país. A pesquisa foi realizada pelo comitê de pesquisa da Comissão de Mulheres e Gênero da Associação dos Superiores Religiosos
Maiores das Mulheres nas Filipinas, a AMRSWP, depois que os bispos pediram
fatos sobre relatos de abuso.
Os
29 casos de violência e má conduta por parte dos padres no relatório incluíram
alguns casos de tentativa de estupro e assédio sexual de religiosas. O Philippine Daily Inquirer escreveu sobre
o relatório e a apresentação aos bispos em dois artigos de primeira página em
novembro de 2002.
A
Irmã Principio, que tem mestrado em pesquisa aplicada, disse em uma entrevista
à GSR que ela e sua coautora, a Irmã de Maryknoll Leonila Bermisa, tomaram
grande cuidado com a pesquisa e apresentaram as descobertas aos bispos antes
que qualquer relatório público fosse feito. No entanto, após a cobertura da
mídia do relatório, Principio disse que foi criticada por um bispo de alto
escalão, que mais tarde se tornou cardeal, em uma carta escrita enviada a todas
as congregações.
Atingida
pela crítica e pela falta de apoio de sua congregação, foi instigada em poucos
anos a mudar de congregação e se tornar uma Maryknoll. Ela deixou as Filipinas
em 2005 e agora serve no Peru como parte da Rede
Global de Religiosos para as Crianças, concentrando-se em responder ao
abuso sexual de crianças e adolescentes.
Trazer
casos de abuso à luz é ‘uma energia que
pode ser transformada em um movimento positivo, porque as mulheres agora podem
falar’, apontou ela. ‘O movimento
#MeToo é um estrato mais elevado da sociedade - mas nos povoados e nas cidades,
cada um tem que ver que o abuso não é permissível em nenhuma camada ou em
nenhum lugar do mundo.’
Depois
que o relatório de 2002 foi publicado, disse Principio, as mulheres leigas nas
Filipinas tornaram-se mais corajosas ao falar contra o abuso pelo clero. Um
segundo estudo de Bermisa foi publicado pela Women and Gender Commission em 2011 em forma de livro. Ela pode lançar
novamente : Levantar-se da dor da
violência contra as mulheres na Igreja Católica filipina.
A Conferência dos Bispos Católicos das
Filipinas, em 2003, publicou um protocolo e orientações pastorais sobre
abuso sexual, focado principalmente no abuso de menores, mas também incluindo
casos de sacerdotes que são pais de crianças. Porém, não abordou especificamente
o abuso de mulheres religiosas. Em setembro de 2018, a conferência dos bispos
emitiu outra declaração pedindo desculpas por abuso e prometendo não encobrir
os casos. A conferência não respondeu a um pedido via e-mail sobre comentários
ou informações a respeito de protocolos especificamente para casos envolvendo
de mulheres religiosas.
‘É uma realidade que pode acontecer em
qualquer congregação religiosa’, assinalou Principio. ‘Eles devem ensinar as religiosas a definir o que é abuso, qual é o
momento em que você está sendo abusada - algumas irmãs são tão ingênuas, outras
não’, acrescentou. ‘É importante que
as congregações religiosas apontem e denunciem os abusadores, mesmo que sejam
padres’.
Não
há um treinamento uniforme sobre abuso sexual ou assédio - cada congregação tem
seu próprio programa de treinamento de formação, disse a Irmã beneditina Mary
John Mananzan, copresidente do Escritório
de Mulheres e Preocupações de Gênero (ex-Mulheres
e Comissão de Gênero) da Associação
dos Religiosos Superiores Maiores das Filipinas. Sua congregação, as Irmãs
Beneditinas Missionárias, ‘inclui
treinamentos de conscientização de gênero que compreendem especificamente o
referente ao assédio sexual, estupro e todas as formas de violência de gênero’,
disse ela em um e-mail, acrescentando que esse treinamento já remonta aos anos
90.
O Escritório de Mulheres e Interesses de
Gênero oferece seminários sobre conscientização e empoderamento das
mulheres, que incluem todas as questões de gênero, com as irmãs religiosas como
principais participantes e cursos para os envolvidos na formação, para incluir
a conscientização de gênero em seus programas.
Uma chave para evitar o abuso está nas próprias congregações, na
criação de uma atmosfera de confiança e apoio para as irmãs se sentirem
confiantes em relação aos superiores ou mentores com problemas de assédio ou
primeiros sinais de abuso, disse a Irmã Florence Nwaonuma, ex-superiora geral das Irmãs do Sagrado Coração de Jesus e
ex-presidente da Conferência das Mulheres
Religiosas da Nigéria.
Seminários
e oficinas que tratam de temas como sexualidade, o voto de celibato e de
castidade e a conscientização sobre questões de abuso fazem parte da formação
inicial e também da formação permanente de irmãs junioras e professas, disse
ela.
As
congregações precisam estar dispostas a levar os casos de abuso à atenção da
hierarquia e trabalhar para a resolução, disse ela. Nwaonuma, encontrou mais
casos de irmãs que sofrem abuso de poder com padres e bispos do que casos
relacionados com a exploração sexual. Cerca de seis anos atrás, houve um caso
em que um padre fez várias aproximações sexuais de uma irmã que trabalhava em
uma paróquia. Quando ela resistiu, o padre reclamou ao bispo que a irmã era
desobediente. A irmã foi até Nwaonuma e contou o que havia acontecido.
Nwaonuma
queixou-se com o bispo sobre o comportamento do padre, defendeu a irmã,
permitiu que ela continuasse sua formação, que professasse seus votos e fosse
transferida para outro ministério. Apesar da queixa, nenhuma sanção foi tomada
contra o padre, que foi transferido para outra paróquia.
‘Os homens negam [abuso] e é importante que
as mulheres recebam igualdade de condições e sejam ouvidas’, disse ela. ‘As Irmãs devem ser encorajadas a vir e falar
sobre [assédio ou abuso], mas as superioras têm que fazer a irmã confiar nelas’.
O
encorajamento de lideranças religiosas e organizações de liderança para que as
irmãs apresentem casos de abuso, incluindo autoridades civis, é um sinal
importante, disse Bryant, que ajudou a criar o módulo de treinamento e está
profundamente envolvido no ministério antitráfico de seres humanos. ‘O que me dá alguma esperança é que estamos
ouvindo as denúncias nas bocas das mulheres na liderança’, disse Nwaonuma.
As declarações são ‘fortes e claras e não
se retraem. A igreja nunca falou tão claramente uma linguagem como essa’.
Muitas
religiosas trabalham em ministérios que se concentram em capacitar meninas e
mulheres, incluindo o combate ao tráfico e a violência doméstica, observou ela.
Essas lições devem ser aplicadas às próprias irmãs, para reconhecerem o trato
de abusadores pelas dinâmicas previas, muitas vezes através da atenção extra e
dos pequenos presentes.
Mais
fundamental é a necessidade de mudar dinâmicas que reforcem a ideia de que padres
e bispos são especiais, que sua autoridade não pode ser questionada,
acrescentou. ‘Nós irmãs temos que parar
de alimentar o clericalismo’, disse ela. ‘Este é o nosso tempo para capacitarmos os outros e fazermos amizade com
as vítimas.’
Nota da editora : Algumas informações que foram usadas neste artigo
foram proporcionadas pelo jornalista freelancer Saji Thomas e outros relatórios
do Matters India, um portal de
notícias que enfoca questões religiosas e sociais na Índia.
Fonte
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