Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘A sabedoria
dos ciclos ensina, com simplicidade, que a vida se configura a partir de elos
que se abrem e se fecham. Importante saber a hora certa para iniciar um ciclo
ou fechá-lo. Administrar de forma equivocada os ciclos da vida resulta em
perdas. Paga-se caro pela falta de sabedoria na gestão de diferentes fases.
Trata-se, obviamente, de um desafiador processo existencial. Por falta dessa
sabedoria, tropeça-se nas escolhas. E a vida é feita de escolhas.
Perde-se
muito com a incompetência para conduzir processos. Os resultados são atropelos
e descompassos, gerando prejuízos. Desperdiça-se a oportunidade para ganhos que
poderiam levar indivíduos e a sociedade a alcançarem metas importantes. Essa
incompetência em reger processos deriva, em parte, da síndrome da desconexão :
a pessoa desconhece qual é o seu lugar e a relevância da sua participação em
ambientes institucionais, segmentos diversos ou mesmo no contexto mais amplo da
sociedade.
As
opiniões são desconexas, indivíduos se acham os ‘donos’ da verdade – pura ilusão.
Essa síndrome leva à perda da capacidade para discernir e interpretar a
realidade. Consequentemente, mistura-se tudo, sem adequada leitura dos cenários
sociopolíticos, culturais, religiosos, entre tantos outros. Perde-se a noção
dos ciclos da vida. Saber reconhecê-los é fundamental para identificar e gerir
bem as muitas etapas, desde seu início, o desenrolar dos processos, até o
momento de sua conclusão.
Somente
assim pode-se alcançar conquistas, pois a vida, em sua complexidade, é muito
mais que um conjunto de dados matemáticos. Exige sabedoria na articulação das
muitas variáveis que definem cada ciclo, produzindo avanços e encontrando
respostas, recuperando sentidos e reabilitando valores. A sabedoria dos ciclos
na composição da vida pessoal, familiar, religiosa e política é uma referência
civilizatória no tecido de uma sociedade, nas suas práticas sociais e
políticas.
A
inevitável experiência da morte revela uma verdade : os diferentes ciclos da
vida, invariavelmente, chegam a um fim. Por isso, é preciso urgência em
gerenciá-los bem, pois a morte – fim de um ciclo – não pode significar
fracasso. Ao invés disso, deve representar a passagem para uma nova etapa. O
Mestre ensina : a morte é caminho para uma vida que não passa, cuja garantia
vem d’Aquele que morreu e ressuscitou, Jesus Cristo, o único Senhor e Salvador.
Na morte de Jesus, a morte humana, experiência sob o signo do pecado, torna-se
acesso à vida. Deus permanece fiel ao ressuscitar Jesus para uma vida nova.
Identificada
com a morte de Cristo, a morte humana torna-se sacramento pascal da passagem
deste mundo para o Pai. A morte, assim, fecha um ciclo, o tempo que é dado a
cada pessoa, como dom de Deus. Compreende-se, no horizonte desse desfecho
decisivo, a importância de se gerenciar, com qualidade, os diversos ciclos da
existência. É imprescindível qualificar-se, humana e espiritualmente, para
reger os diferentes processos da vida, de modo adequado.
A
sabedoria para se viver ciclos conta muito também na configuração ou
recomposição do tecido social e político de uma sociedade. As eleições de 2018,
com suas peculiaridades e muitos desafios, significaram o fechamento de um
momento político. Agora, nos primeiros passos de uma nova etapa, é ainda mais
fundamental a participação dos cidadãos, das instituições e diferentes
segmentos da sociedade. Configura-se no horizonte a exigência de reformulações
profundas, a substituição de dinâmicas, a adoção de técnicas modernas para
respostas eficazes. Um tempo para repensar e redefinir a sociedade brasileira.
Não
falte lucidez para o mea culpa que se fizer necessário, nem a abertura para o
diálogo, de modo a superar intolerâncias. Assim não se perderá o valor da
democracia. Cada pessoa e diferentes instituições estarão unidas para superar
destrutivas polarizações e acusações. As muitas diferenças não serão obstáculos
para os avanços, pois prevalecerá a força da unidade e da comunhão que permitem
ao povo se reconhecer como pertencente a uma mesma pátria. Avanços e correções,
conquistas e novas respostas serão possíveis se todos forem aprendizes da
sabedoria dos ciclos.’
Fonte
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