*Artigo de Evaldo D´Assumpção,
médico e escritor
‘A reclamação que
mais ouvimos hoje, é de que o tempo está passando depressa demais, ou então
ficou mais curto. Será que as 24 horas do dia encolheram? Em 1952, Winfried
Otto Schumann, físico alemão descreveu um campo eletromagnético poderoso que se
situa a cerca de 100km acima do nível terrestre. Esse campo possui uma
ressonância (daí chamar-se Ressonância de Schumann), mais ou menos constante,
da ordem de 7,83 pulsações por segundo, que são saudáveis para a ecologia e o
funcionamento do nosso organismo. Contudo, a partir dos anos 80 essas pulsações
foram se acelerando, chegando a 13 herz por segundo. Com isso, muitas mudanças
ocorreram na natureza, e uma delas é o possível ‘encurtamento’ dos dias, talvez por provocar alterações nos níveis
de serotonina e melatonina em nosso organismo. Todavia a ciência convencional
questiona a validade dessas afirmações, pairando dúvidas acerca da Ressonância
de Schumann. Mas fica como uma hipótese a ser considerada.
Existem porém,
outras explicações mais plausíveis, e sobretudo com causas que podem ser
controladas por nós mesmos, talvez até ‘alongando’
os dias que reclamamos tão curtos.
Para começar, há
que se assumir uma atitude essencial à consecução de bons resultados, nesse e
em outros propósitos : ser honesto para consigo mesmo, o que geralmente não
acontece. Quando erramos, somos capazes de olhar-nos nos próprios olhos e
afirmar que fizemos ou não fizemos determinadas coisas. Nosso apego à
autoimagem de ‘perfeitos’ é uma das
forças mais dominadoras que nos comanda. Por ela, afirmamos que não erramos,
mesmo diante das mais evidentes consequências e provas de nossos erros. Já os
deprimidos, aqueles que possuem pouca, ou nenhuma autoestima, agem de maneira
bem diferente. Mesmo não tendo feito nada de errado, assumem a responsabilidade
de faltas que não cometeram, talvez em busca de punições que acreditam merecer.
Por isso reafirmo : temos de ser honestos com nós mesmos, para corrigir a
suposta escassez de tempo e, por que não, tantas outras situações de sofrimento
provocadas pelas mentiras que vivemos repetindo para nós mesmos.
Em tempos
passados, quando o ritmo das atividades não era tão frenético como hoje, quase
ninguém reclamava por estar com falta de tempo. O telefone celular, que
aparentemente veio para facilitar contatos, ao fazê-lo gerou mais compromissos
para seus usuários. Além disso, frequentemente atropela atividades que deveriam
fluir tranquilas, interrompendo o fluxo natural das coisas, e acrescentando mais
ao que pretendíamos fazer no intervalo de tempo destinado a uma única tarefa.
Com isso, o que poderia ser feito em uma hora, com os acréscimos ocorridos
aumenta-se, e muito, o tempo gasto. Em decorrência disso, as pessoas vão
habituando-se a comprimir mais atividades do que seria razoável num mesmo
espaço de tempo, deixando-as sempre atrasadas para seus compromissos. Exemplo
flagrante são os ambulatórios e consultórios médicos, sempre com um número
muito maior de pacientes (hoje, impacientes...) do que o adequado para um tempo
normal de atendimento. E o pior desse descontrole é o agravamento do estresse,
concorrendo para o aumento de acidentes, especialmente de trânsito, pelo ritmo
inconsequente imposto às pessoas.
Outra causa comum
para o ‘encurtamento do tempo’, é a
falta de controle e planejamento de muitas pessoas. Mesmo sabendo que têm um
compromisso às X horas, nunca iniciam seus preparativos para ele, num tempo
verdadeiramente suficiente para não ter que aprontar correrias – e fazer mal
feito – seus arranjos. Aqui se inserem especialmente as mulheres – mas também
alguns homens – que sabendo o tempo que gastam para se arrumar, reservam
somente uma parte dele para isso, utilizando o restante para uma ‘rápida’ conferida no Iphone, o envio de
duas ou três mensagens, bem ‘curtinhas’
e outras coisinhas mais, justificando : ‘É
rapidinho... ainda tenho tempo...’ Quando essas pessoas se dão conta, já
estão atrasadas e ‘arrancam os cabelos’,
se irritam e brigam para conseguir completar seus preparativos no pouco tempo
que lhes restou, não admitindo qualquer observação a respeito.
Voltando à questão
da honestidade para consigo próprio : se alguém aponta esse comportamento para
aquela pessoa, ela contesta, diz que não é verdade, e que com ela não é assim.
Além da cascata de explicações e justificativas, quase sempre fica ressentida,
magoada, ofendida mesmo, com quem lhe faz observações a respeito de sua
impontualidade.
Hoje o tempo não
está curto, apenas parece curto. Ou melhor : o fazemos curto. Tudo pela falta
de planejamento adequado, pelo excesso de atividades que se opta assumir, pela
inautenticidade para consigo mesmo, na modernidade líquida em que vivemos. Onde
tudo escorre rapidamente, não deixando tempo suficiente para os excessos que
queremos fazer, esquecidos do que realmente importa : genuína qualidade de
vida; relacionamentos afetivos sólidos; e portanto, viver feliz.
O tempo? Este
continua e continuará o mesmo, por milhões e milhões de anos...’
Fonte :
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