*Artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo
Metropolitano de Belém, PA
‘Todos os cristãos
são chamados a viver em plenitude, com a graça daquele que veio para que todos
tenham vida. Jesus Cristo não é um mestre ao lado de tantos outros sábios da
história da humanidade, mas o Senhor, em quem depositamos toda a nossa
confiança e a certeza do rumo e do sentido da existência. ‘Os primeiros seguidores de Jesus Cristo que foram ao Jordão com a
esperança de encontrar o Messias (Cf. Cf. Mc 1,5), se sentiram atraídos pela
sabedoria das palavras de Jesus, pela bondade de seu trato e pelo poder de seus
milagres. E pelo assombro que a pessoa de Jesus despertava, acolheram o dom da
fé e vieram a ser discípulos de Jesus. Ao sair das trevas e das sombras de
morte a vida deles adquiriu uma plenitude extraordinária, a de haver sido
enriquecida com o dom do Pai (Cf. Lc 1, 79). Viveram a história de seu povo e
de seu tempo sem esquecer o encontro mais importante e decisivo de sua vida que
os havia preenchido de luz, de força e de esperança : o encontro com Jesus, sua
rocha, sua paz, sua vida. Também nós, enquanto sofremos e nos alegramos,
permanecemos no amor de Cristo, vendo nosso mundo e procurando discernir seus
caminhos com a alegre esperança e a indizível gratidão de crer em Jesus Cristo.
A importância única e insubstituível de Cristo para nós e para a humanidade,
consiste em que Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida. No clima cultural
relativista que nos circunda, onde é aceita só uma religião natural, faz-se
sempre mais importante e urgente estabelecer e fazer amadurecer em todo o corpo
eclesial a certeza de que Cristo, o Deus de rosto humano, é nosso verdadeiro e
único salvador’ (Cf. Documento de Aparecida 21).
E o Senhor nos
revelou, tirou o véu, a respeito do segredo mais decisivo para a vida dos seus
discípulos e da humanidade. Mostrou-nos que Deus é família, não isolamento, é
Pai e Filho e Espírito Santo. Ensinou-nos a intimidade que se encontra na
palavra ‘Pai’, fez-nos dizer ‘Aba’, ‘paizinho’, introduziu-nos no Céu do Pai das misericórdias,
prometeu-nos e efetivamente, junto com o Pai, enviou-nos o Espírito Santo,
Consolador, Paráclito, Advogado, que conduz a Igreja até a volta do Senhor
Jesus. É o Espírito Santo que nos faz chamar a Deus de Pai e proclamar que
Jesus é o Senhor. Tudo isso, para nós cristãos, não é uma dentre tantas propostas
oferecidas em cada tempo, mas é nossa escolha, nosso rumo, o ar que respiramos,
nossa única e decisiva opção. Ter feito esta opção de fé não nos leva a
desrespeitar quem pensa diferente, mas a oferecer, com simplicidade, o que
descobrimos e podemos dar de melhor!
Neste mesmo clima
de respeito, podemos refletir sobre algumas das grandes questões que tomam
conta da humanidade hoje e testemunhar o que descobrimos, a partir do senhorio
de Jesus Cristo, que é o melhor que temos. Podemos partir de uma expressão
usada em meios de comunicação, ‘o céu é o
limite’! Certamente o problema de nossos dias é justamente fazer da terra o
limite, com a doentia incapacidade de olhar para frente e para o alto. Com toda
a tecnologia avançada à disposição da humanidade, parece-nos atrair apenas as
forças da natureza. Muitos voltam a cultuar os elementos do fogo, terra, água e
ar, ou se encantam com as formas de religião natural, a serem, sem dúvida,
respeitadas, mas falta a esplêndida descoberta de que o cristianismo, religião
histórica, de revelação, cuja iniciativa veio do Céu, não é uma invenção de
qualquer grupo humano.
A experiência
cristã é única e irrepetível, tem como ponto de referência alguém, que é Jesus
Cristo, cuja presença acontece no nosso dia a dia, não se reduzindo a uma
agradável lembrança. O contato com ele faz as pessoas mudarem o centro de suas
vidas. Não se trata de pensar o mundo em torno de si mesmo, mas escolher o
caminho do amor a Deus e ao próximo. O Céu é comunhão, relacionamento, abertura
para os outros, serviço, alegria do dom recíproco!
Consequências?
Comecemos ‘em casa’, em nossas opções
pessoais. Viver na terra como no Céu não é andar nas nuvens, mas decidir-se
cada dia a amar e servir. Afinal de contas, um bom cristão começa seu dia ‘em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo’, enquanto traça sobre si o sinal da Cruz, que aponta para o alto,
ligando Céu e Terra, e abre os braços para o amor fraterno. O dia inteiro,
vivido no amor a Deus e ao próximo, será pleno de sentido e de alegria. Só assim
podemos sair da modorra do egoísmo, que leva a pensar apenas nos próprios
interesses.
No relacionamento
interpessoal, o cristão se faz um com todos, abre-se ao bem que existe nas
outras pessoas, sai de si mesmo, vencendo as tentações do mau humor, que tantas
vezes impede o contato diário com irmãos e irmãs. Ao rezar cada dia o Pai
Nosso, apaixona-se pela vontade de Deus, quer santificar o nome do Senhor,
acolhe os valores do Reino anunciado por Jesus, pede cada dia o pão necessário
para o corpo e o Pão da Vida, compromete-se com o perdão para acolher a
misericórdia de Deus, que não se cansa de perdoar. Com a força do Espírito
Santo que conduz os homens e mulheres de fé, encontra a estrada para vencer as
tentações, na certeza de que só Deus livra do mal.
Na vida da Igreja,
o Céu se faz presente quando se constrói a vida em comunidade. Não pode existir
vida cristã fora da comunidade; seja nas famílias, nas paróquias, nas
comunidades de vida consagrada, nas comunidades de base, outras pequenas
comunidades e movimentos. Como os primeiros cristãos, que se reuniam em
comunidade, o discípulo participa na vida da Igreja e no encontro com os
irmãos, vivendo o amor de Cristo na vida fraterna solidária.
Na sociedade,
viver segundo o modelo da Trindade aponta para o valor do bem comum, abre as
portas para o diálogo, reconhece o bem que existe em cada pessoa e nos
diferentes grupos humanos e nas mais variadas ideias que correm. Como a vida do
Deus do Céu pode se espalhar na Terra, o Espírito Consolador abre nosso coração
para identificar as Sementes do Verbo de Deus existentes em todos os recantos e
corações.
Na Solenidade da
Santíssima Trindade, acolhamos o convite a permitir que o Céu se faça presente
aqui!’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://nazare10.com.br/assim-na-terra-como-no-ceu-por-dom-alberto-taveira-correa-2/
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