Alguns leitores do periódico Zenit questionaram
por que a Eucaristia não é
citada no Credo e a resposta foi dada pelo *padre
Edward McNamara :
‘As
razões são principalmente de natureza histórica, mas dizem respeito também à
própria finalidade da liturgia.
Do ponto de vista histórico, o Credo como o
conhecemos, foi desenhado primeiro nos Concílios de Nicéia (325) e de
Constantinopla (381), embora em sua forma elaborada aparece pela primeira vez
nos atos do Concílio de Calcedônia (451).
Este Credo estava provavelmente baseado numa
profissão de fé batismal e continha todos os elementos essenciais da fé da
Igreja.
Ele era principalmente uma resposta a Ário e às
outras heresias, e defendia a doutrina da Trindade e da verdadeira e plena
divindade e humanidade de Cristo. Nunca foi concebido como uma exposição
exaustiva de cada aspecto da fé.
Uma vez que era necessário defender os fundamentos
da fé, questões como a natureza da Eucaristia simplesmente não apareceram no
horizonte teológico até vários séculos depois.
Além disso, durante este
primeiro período, a plenitude da doutrina eucarística era muitas vezes
explicada só depois do batismo, ou seja, só depois de que o novo cristão tinha
recitado em público o Credo.
A prática de recitar o Credo
na Missa é atribuída à Timóteo, Patriarca de Constantinopla (511-517), uma
iniciativa que foi copiada por outras Igrejas sob influência bizantina, incluindo
a parte da Espanha, que estava então sob o domínio de Bizâncio.
Por volta do ano 568, o
imperador bizantino Justiniano ordenou que o Credo fosse recitado em cada Missa
celebrada nos seus domínios. Vinte anos depois, em 589, o rei visigodo da
Espanha, Recaredo, renunciou à heresia ariana em favor do catolicismo e, por
sua vez ordenou que o Credo fosse proclamado em cada Missa.
Cerca de dois séculos mais
tarde, reencontramos a prática de recitar o Credo na França e de lá o costume
foi se espalhando lentamente em outras partes do Norte da Europa. Por fim,
quando no ano de 1114 Henrique II veio à Roma para ser coroado imperador
do Sacro Império Romano, ficou surpreso de que lá o Credo não fosse recitado.
Responderam-lhe dizendo que Roma nunca tinha cometido um erro em matéria de
doutrina, e que por isso não era necessário para os romanos proclamar o Credo
durante a Missa. No entanto, foi incluído na liturgia em honra do imperador e,
desde então, embora não em todas as missas, mas apenas aos domingos e em algumas
festividades.
Os cristãos do Oriente e do
Ocidente usam o mesmo Credo, com excessão da expressão Filioque (e o Filho),
que a versão latina adiciona como uma referência da processão do Espírito
Santo, uma adição que deu origem a intermináveis e complicadíssimas discussões
teológicas.
Apesar desta diferença, há um
consenso entre todos os cristãos de que o Credo deveria permanecer assim como
está e que nem o Credo, nem muito menos a mesma Missa, seja um lugar apto para
dar expressão técnica a cada princípio da fé.
Em outro nível, no entanto,
toda a Missa em si é uma profissão de fé. É a fé viva celebrada e anunciada num
grande e sublime ato de culto que é transformada numa fé que permeia cada
aspecto da atividade diária.
Mesmo se não é explicitamente
mencionada a presença real no Credo, os católicos proclamam a sua fé
eucarística com quase cada palavra e gesto da Missa e, de modo particular, com
o seu Amém no final da oração eucarística e quando recebem a Comunhão.
Fonte :
* Padre Edward McNamara, L.C. (Legionário
de Cristo), professor de Liturgia e Deão de Teologia na universidade Ateneo
Pontifício Regina Apostolorum, de Roma.
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