A Liturgia das Horas e a reflexão na Sexta-Feira do Tríduo Pascal :
Ofício das Leituras
Primeira
leitura
Da Carta aos Hebreus 9,11-28
Cristo, sumo sacerdote, com o seu próprio sangue,
entrou no Santuário uma vez por todas
‘Irmãos: 11Cristo veio como
sumo-sacerdote dos bens futuros. Através de uma tenda maior e mais perfeita,
que não é obra de mãos humanas, isto é, que não faz parte desta criação, 12e não com o sangue de bodes e bezerros, mas
com o seu próprio sangue, ele entrou no Santuário uma vez por todas, obtendo
uma redenção eterna. 13De fato, se o
sangue de bodes e touros, e a cinza de novilhas espalhada sobre os seres
impuros os santifica e realiza a pureza ritual dos corpos, 14quanto mais o Sangue de Cristo, purificará a
nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo, pois, em
virtude do espírito eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima
sem mancha.
15Por isso, ele é mediador de uma nova aliança. Pela
sua morte, ele reparou as transgressões cometidas no decorrer da primeira
aliança. E, assim, aqueles que são chamados recebem a promessa da herança
eterna. 16Onde existe testamento, é
preciso que seja constatada a morte de quem fez o testamento. 17Pois um testamento só tem valor depois da
morte, e não tem efeito nenhum enquanto ainda vive aquele que fez o testamento.
18Por isso, nem mesmo a primeira aliança
foi inaugurada sem sangue.
19Quando anunciou a todo o povo cada um dos mandamentos
da Lei, Moisés tomou sangue de novilhos e bodes, junto com água, lã vermelha e um
hissopo. Em seguida, aspergiu primeiro o próprio livro e todo o povo, 20e disse: “Este é o sangue da aliança que Deus
faz convosco”. 21Do mesmo modo,
aspergiu com sangue também a Tenda e todos os objetos que serviam para o culto.
22E assim, segundo a Lei, quase todas
as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não existe
perdão.
23Portanto, as cópias das realidades celestes tinham
que ser purificadas dessa maneira; mas as próprias realidades celestes devem
ser purificadas com sacrifícios melhores. 24De
fato, Cristo não entrou num santuário feito por mão humana, imagem do
verdadeiro, mas no próprio céu, a fim de comparecer, agora, na presença de
Deus, em nosso favor. 25E não foi
para se oferecer a si muitas vezes, como o sumo-sacerdote que, cada ano, entra
no Santuário com sangue alheio.
26Porque, se assim fosse, deveria ter sofrido muitas
vezes, desde a fundação do mundo. Mas foi agora, na plenitude dos tempos, que,
uma vez por todas, ele se manifestou para destruir o pecado pelo sacrifício de
si mesmo. 27O destino de todo homem é
morrer uma só vez, e depois vem o julgamento. 28Do
mesmo modo, também Cristo, oferecido uma vez por todas, para tirar os pecados da multidão, aparecerá uma
segunda vez, fora do pecado, para salvar aqueles que o esperam.’
Segunda leitura
Das Catequeses de São João Crisóstomo, bispo
(Cat. 3,13-19: SCh
50,174-177)
(Séc.IV)
O poder do sangue de Cristo
‘Queres conhecer o poder do sangue de
Cristo? Voltemos às figuras que o profetizaram erecordemos a narrativa do
Antigo Testamento: Imolai, disse Moisés, um cordeiro de um ano e marcai as
portas com o seu sangue (cf. Ex 12,6-7). Que dizes, Moisés? O sangue de um cordeiro
tem poder para libertar o homem dotado de razão? É claro que não, responde ele,
não porque é sangue, mas por ser figura do sangue do Senhor. Se agora o
inimigo, ao invés do sangue simbólico aspergido nas portas, vir brilhar nos
lábios dos fiéis, portas do templo dedicado a Cristo, o sangue verdadeiro,
fugirá ainda mais para longe.
Queres compreender mais profundamente o poder deste sangue? Repara de
onde começou a correr e de que fonte brotou. Começou a brotar da própria cruz,
e a sua origem foi o lado do Senhor. Estando Jesus já morto e ainda pregado na
cruz, diz o evangelista, um soldado aproximou-se, feriu-lhe o lado com uma
lança, e imediatamente saiu água e sangue: a água, como símbolo do batismo; o
sangue, como símbolo da eucaristia. O soldado, traspassando-lhe o lado, abriu
uma brecha na parede do templo santo, e eu, encontrando um enorme tesouro, alegro-me
por ter achado riquezas extraordinárias. Assim aconteceu com este cordeiro. Os judeus
mataram um cordeiro e eu recebi o fruto do sacrifício.
De seu lado saiu sangue e água (Jo 19,34).
Não quero, querido ouvinte, que trates com superficialidade o segredo de tão
grande mistério. Falta-me ainda explicar-te outro significado místico e
profundo. Disse que esta água e este sangue são símbolos do batismo e da
eucaristia. Foi destes sacramentos que nasceu a santa Igreja, pelo banho da
regeneração e pela renovação no Espírito Santo, isto é, pelo batismo e pela
eucaristia que brotaram do lado de Cristo. Pois Cristo formou a Igreja de seu
lado traspassado, assim como do lado de Adão foi formada Eva, sua esposa.
Por esta razão, a Sagrada Escritura, falando do primeiro homem, usa a
expressão osso dos meus ossos e carne da minha carne (Gn 2,23), que São
Paulo refere, aludindo ao lado de Cristo. Pois assim como Deus formou a mulher
do lado do homem, também Cristo, de seu lado, nos deu a água e o sangue para
que surgisse a Igreja. E assim como Deus abriu o lado de Adão enquanto ele
dormia, também Cristo nos deu a água e o sangue durante o sono de sua morte.
Vede como Cristo se uniu à sua esposa, vede com que alimento nos sacia.
Do mesmo alimento nos faz nascer e nos nutre. Assim como a mulher, impulsionada
pelo amor natural, alimenta com o próprio leite e o próprio sangue o filho que
deu à luz, também Cristo alimenta sempre com o seu sangue aqueles a quem deu o
novo nascimento.’
Fonte
:
‘In
Liturgia das Horas II, pg. 413 a 417’
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