Este artigo foi gentilmente cedido por Dom João Evangelista Kovas, OSB,
monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo.
Com a solenidade de Pentecostes,
cinquenta dias após a Páscoa, encerra-se o Tempo Pascal e se retoma o Tempo
Comum nas celebrações da Igreja. O tempo forte da celebração da ressurreição de
Jesus cede lugar ao tempo ordinário da vida da Igreja: o tempo comum, no qual a
comunidade dos fiéis é convocada a conhecer, meditar e celebrar a mensagem e a
vida de Jesus. Em Pentecostes, celebramos o dia no qual se cumpre a promessa de
Jesus de enviar o dom divino mais elevado aos seus discípulos: o Espírito Santo.
Em toda a sua vida, Jesus nada fez ou
falou que não fosse por moção do Espírito Santo. O Espírito o liga de modo
especial ao Pai, completando, assim, na humanidade de Jesus, a comunhão
perfeita da Santíssima Trindade.
Tudo o que Jesus era e fazia é expressão da própria bondade do Pai e de sua
palavra a todos os homens, pois, desde o seu nascimento, Jesus foi “ungido”
pelo Espírito Santo, o que quer dizer que não é possível distinguir em Jesus o que
é próprio do Pai, do Filho e do Espírito. Esse é o grande mistério cristão que
se realiza na pessoa de Jesus: Deus que se homem para a nossa salvação, para
que todos nós pudéssemos ter a vida em abundância.
Assim, quando os discípulos de Jesus
recebem o Espírito Santo, eles recebem o que é próprio de Jesus, aquilo que os
torna filhos de Deus por legítima adoção e os torna capazes de continuar a
missão de Jesus no mundo.
A missão de João Batista, o precursor de
Jesus, como ele mesmo definia, era de preparar os caminhos do Senhor, batizando
com água, para sinalizar a necessidade de conversão. Assim, o povo se preparava
para reconhecer o momento no qual as promessas de Deus ao povo de Israel iria
se cumprir, a vinda do Messias (termo hebraico) ou do Cristo (termo grego), que
quer dizer “Ungido”. E João ainda dizia que ele batizava apenas com águas, mas
que viria quem é maior do que ele, que batizaria no fogo. O dia de Pentecostes
é o dia no qual a pequenina comunidade dos discípulos de Jesus recebe o Espírito
Santo de Deus, na forma de línguas de fogo. Doravante, dá-se início à Igreja,
ao novo povo de Deus constituído para anunciar a todo o mundo a vida e a
mensagem de Jesus e anunciar que em Jesus se cumprem todas as promessas de Deus
em favor de todo aquele que nele crer. Qual é o selo de recebimento de todas as
promessas em nós? O Espírito Santo que nos é dado para remissão dos nossos
pecados e para que possamos viver a vida de Jesus em nós.
A missão da Igreja é, pois, anunciar essa
Boa Nova, ou seja, essa última notícia que não deixa de ser a grande novidade
ao longo de toda a história da humanidade: Jesus ressuscitou para nossa
salvação e envia o dom do Espírito Santo para todos aqueles que nele crêem.
Quem crê em Jesus é aquele que também o ama, escuta as suas palavras e as põe
em prática. Por isso, a vida da Igreja não deixa de ser um anúncio, mas também
uma meditação contínua da vida e das palavras de Jesus.
O Tempo Comum é o tempo favorável, no
qual a Igreja medita sobre tudo aquilo que fez e falou o seu mestre Jesus. Por
meio daquilo que foi a vida terrena de Jesus, somos convidados a estar em
comunhão com o Cristo que vive eternamente e nos convida a todos a participar
plenamente do dom recebido do alto, das riquezas espirituais do Espírito Santo,
até que se cumpra o tempo previsto para a redenção definitiva de todos aqueles
que na vida presente procuraram conhecer a Deus e ser a ele obediente até o
fim.
O Tempo Comum é, pois, um tempo de espera
e de esperança. Espera paciente de quem aproveita para conhecer tudo o que diz respeito
a Jesus e praticar tudo o que ele ensinou. Esperança feliz de quem sabe que é
herdeiro das riquezas das promessas de Deus, concedidas a todos aqueles que
souberam amar a Jesus e ao próximo com todo o coração e toda a alma. Tal amor espiritual
não é senão o dom mais importante concedido a nós pela moção do Espírito Santo.
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