Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Em seus primeiros dias de pontificado, o
papa Leão XIV fez ao menos três referências à questão migratória em
discursos para fiéis e autoridades mundiais. A abordagem propositiva do tema
foi uma das marcas do antecessor, o Papa Francisco (2013-2025) e há uma grande
expectativa pela continuidade da defesa global dos direitos das pessoas em
migração, sobretudo daquelas em deslocamento forçado
Em reunião com diplomatas baseados no
Vaticano, na última sexta-feira (16), o Pontífice se colocou ele próprio como
resultado de um processo migratório, tanto nas origens familiares como na
própria trajetória eclesiástica. E pediu que a dignidade das pessoas migrantes
seja respeitada pelos governos de todo o mundo. Ao todo, o Vaticano mantém
relações diplomáticas com 184 países.
‘A minha própria história é a de um
cidadão, descendente de imigrantes, e também emigrado. Cada um de nós, ao longo
da vida, pode encontrar-se saudável ou doente, empregado ou desempregado, na
sua terra natal ou numa terra estrangeira : a nossa dignidade, no entanto,
permanece sempre a mesma, a de uma criatura querida e amada por Deus’.
Já no dia seguinte, em reunião com membros
da Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice, novamente citou as migrações e fez
referência a um termo usado pelo antecessor para descrever o mundo atual.
‘O Papa Francisco recorreu ao termo ‘policrise’
para evocar a dramaticidade da conjuntura histórica que hoje vivemos, na qual
convergem guerras, mudanças climáticas, desigualdades crescentes, migrações
forçadas e atribuladas, pobreza estigmatizada, inovações tecnológicas
revolucionárias, precariedade do trabalho e dos direitos. Sobre questões tão
importantes, a Doutrina Social da Igreja é chamada a oferecer chaves
interpretativas que coloquem em diálogo ciência e consciência, proporcionando
assim uma contribuição fundamental para o conhecimento, a esperança e a paz’.
No domingo (18), na homilia dominical
da missa que formalmente marcou o começo de seu pontificado, Leão XIV pediu uma
Igreja unida, sinal de unidade e comunhão, que se torne fermento para um mundo
reconciliado – fazendo referência ao fim de perseguições e preconceitos.
‘No nosso tempo, ainda vemos demasiada
discórdia, demasiadas feridas causadas pelo ódio, a violência, os preconceitos,
o medo do diferente, por um paradigma económico que explora os recursos da
Terra e marginaliza os mais pobres’.
Declaração da OIM
A OIM, a Agência da ONU para as Migrações,
emitiu um comunicado felicitando o começo de pontificado de Leão XIV.
O Papa Leão XIV refletiu hoje (domingo,
18.mai) sobre um mundo ainda marcado pela discórdia, pelo medo do outro, pela
marginalização dos pobres e por sistemas econômicos que continuam a pesar
fortemente sobre os recursos do planeta. De suas palavras emergiu uma esperança
por um mundo reconciliado e um espírito renovado de unidade.
Ainda segundo a agência da ONU, essa visão
ressoa com a missão da OIM de promover a dignidade e os direitos de todas as
pessoas, incluindo migrantes e populações deslocadas.
Acolhemos esse apelo para que se olhe além
das divisões e trabalhemos juntos na construção de sociedades mais inclusivas e
humanas, onde todos possam viver com segurança e respeito, independentemente de
sua origem ou condição.
Tendência
As manifestações de Leão XIV reforçam a
tendência de o atual Pontífice de manter uma forte preocupação com a questão
social, o que inclui a manutenção de parte significativa dos processos
iniciados por Francisco. Entre eles se encontra a defesa da dignidade das
pessoas migrantes e as críticas às políticas adotadas por governos em todo o
mundo que colocam os que se deslocam em situação vulnerável.
A própria escolha do nome faz uma alusão
de continuidade ao que trouxe Leão XIII (1878-1903) em seu pontificado, que
ficou conhecido pela encíclica Rerum Novarum, de 15 de maio de 1891, e que
abordava a condição degradante dos operários industriais da época. Chamada por
alguns de ‘Manifesto Comunista da Igreja’ ou de resposta da Igreja ao Manifesto
Comunista – que já tinha sido lançado em 1848 –, essa encíclica é considerada
ainda o marco inicial dos chamados ‘Documentos Sociais da Igreja’.
Embora seja nascido nos Estados Unidos, o
atual papa passou a maior parte de sua carreira religiosa no Peru, onde atuou
desde a década de 1980 em cidades como Piura, Trujillo e Chiclayo. Tal vivência
no país sul-americano permitiu que em 2015 ele visse a obter também a
nacionalidade peruana.
A
dupla nacionalidade e o fato de ter feito grande parte de sua vida longe da
terra natal fazem de Leão XIV de fato, uma pessoa migrante. Além disso, ainda
como cardeal Robert Prevost, fez criticas à política migratória conduzida pelo
atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o que coloca o novo chefe da
Igreja Católica como um potencial contraponto ao presidente republicano e líder
global da ultradireita que tem no rechaço à migração uma de suas principais
bandeiras.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://migramundo.com/papa-leao-xiv-defesa-publica-migrantes/
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