segunda-feira, 19 de maio de 2025

Papa Leão XIV se coloca como resultado da migração e pede respeito à dignidade dos migrantes

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Rodrigo Borges Delfim


‘Em seus primeiros dias de pontificado, o papa Leão XIV fez ao menos três referências à questão migratória em discursos para fiéis e autoridades mundiais. A abordagem propositiva do tema foi uma das marcas do antecessor, o Papa Francisco (2013-2025) e há uma grande expectativa pela continuidade da defesa global dos direitos das pessoas em migração, sobretudo daquelas em deslocamento forçado

Em reunião com diplomatas baseados no Vaticano, na última sexta-feira (16), o Pontífice se colocou ele próprio como resultado de um processo migratório, tanto nas origens familiares como na própria trajetória eclesiástica. E pediu que a dignidade das pessoas migrantes seja respeitada pelos governos de todo o mundo. Ao todo, o Vaticano mantém relações diplomáticas com 184 países.

‘A minha própria história é a de um cidadão, descendente de imigrantes, e também emigrado. Cada um de nós, ao longo da vida, pode encontrar-se saudável ou doente, empregado ou desempregado, na sua terra natal ou numa terra estrangeira : a nossa dignidade, no entanto, permanece sempre a mesma, a de uma criatura querida e amada por Deus’.

Já no dia seguinte, em reunião com membros da Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice, novamente citou as migrações e fez referência a um termo usado pelo antecessor para descrever o mundo atual.

‘O Papa Francisco recorreu ao termo ‘policrise’ para evocar a dramaticidade da conjuntura histórica que hoje vivemos, na qual convergem guerras, mudanças climáticas, desigualdades crescentes, migrações forçadas e atribuladas, pobreza estigmatizada, inovações tecnológicas revolucionárias, precariedade do trabalho e dos direitos. Sobre questões tão importantes, a Doutrina Social da Igreja é chamada a oferecer chaves interpretativas que coloquem em diálogo ciência e consciência, proporcionando assim uma contribuição fundamental para o conhecimento, a esperança e a paz’.

No domingo (18), na homilia dominical da missa que formalmente marcou o começo de seu pontificado, Leão XIV pediu uma Igreja unida, sinal de unidade e comunhão, que se torne fermento para um mundo reconciliado – fazendo referência ao fim de perseguições e preconceitos.

‘No nosso tempo, ainda vemos demasiada discórdia, demasiadas feridas causadas pelo ódio, a violência, os preconceitos, o medo do diferente, por um paradigma económico que explora os recursos da Terra e marginaliza os mais pobres’.

Declaração da OIM

A OIM, a Agência da ONU para as Migrações, emitiu um comunicado felicitando o começo de pontificado de Leão XIV.

O Papa Leão XIV refletiu hoje (domingo, 18.mai) sobre um mundo ainda marcado pela discórdia, pelo medo do outro, pela marginalização dos pobres e por sistemas econômicos que continuam a pesar fortemente sobre os recursos do planeta. De suas palavras emergiu uma esperança por um mundo reconciliado e um espírito renovado de unidade.

Ainda segundo a agência da ONU, essa visão ressoa com a missão da OIM de promover a dignidade e os direitos de todas as pessoas, incluindo migrantes e populações deslocadas.

Acolhemos esse apelo para que se olhe além das divisões e trabalhemos juntos na construção de sociedades mais inclusivas e humanas, onde todos possam viver com segurança e respeito, independentemente de sua origem ou condição.

Tendência

As manifestações de Leão XIV reforçam a tendência de o atual Pontífice de manter uma forte preocupação com a questão social, o que inclui a manutenção de parte significativa dos processos iniciados por Francisco. Entre eles se encontra a defesa da dignidade das pessoas migrantes e as críticas às políticas adotadas por governos em todo o mundo que colocam os que se deslocam em situação vulnerável.

A própria escolha do nome faz uma alusão de continuidade ao que trouxe Leão XIII (1878-1903) em seu pontificado, que ficou conhecido pela encíclica Rerum Novarum, de 15 de maio de 1891, e que abordava a condição degradante dos operários industriais da época. Chamada por alguns de ‘Manifesto Comunista da Igreja’ ou de resposta da Igreja ao Manifesto Comunista – que já tinha sido lançado em 1848 –, essa encíclica é considerada ainda o marco inicial dos chamados ‘Documentos Sociais da Igreja’.

Embora seja nascido nos Estados Unidos, o atual papa passou a maior parte de sua carreira religiosa no Peru, onde atuou desde a década de 1980 em cidades como Piura, Trujillo e Chiclayo. Tal vivência no país sul-americano permitiu que em 2015 ele visse a obter também a nacionalidade peruana.

            A dupla nacionalidade e o fato de ter feito grande parte de sua vida longe da terra natal fazem de Leão XIV de fato, uma pessoa migrante. Além disso, ainda como cardeal Robert Prevost, fez criticas à política migratória conduzida pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o que coloca o novo chefe da Igreja Católica como um potencial contraponto ao presidente republicano e líder global da ultradireita que tem no rechaço à migração uma de suas principais bandeiras.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://migramundo.com/papa-leao-xiv-defesa-publica-migrantes/

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