Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Padre Alfredo J. Gonçalves, CS
‘Contam-se aos milhões o número de
crianças famintas e subnutridas, sonhando com ao menos uma refeição diária; mas
há quem brinque de dar mamadeira a bonecos de plástico (ou qualquer outra
matéria inorgânica)…
Milhões de crianças não dispõem de água
potável e têm de conviver com esgoto a céu aberto, perigosamente expostas a
todo tipo de doença; mas há quem brinque em trocar fralda de bonecos de
plástico (ou outro material sintético).
Uma multidão de crianças, em todo mundo,
não sabe o que é assistência médica nem hospitalar, e não têm acesso a
remédios; mas há quem brinque de levar ao médico bonecos de plástico (de
plástico?).
Quantas crianças sedentas ao nosso redor,
ansiando por um copo de água, ao lado de gente que insiste em usar mangueiras
irresponsavelmente abertas para lavar carros e calçaldas; mas há quem brinque
em dar banho a bonecos de plástico (plástico?), num jogo insano e absurdo.
Inúmeras crianças seguem abandonadas no
fundo dos porões da sociedade e em suas longíquas periferias; mas há quem,
seguindo a moda, brinque de adquirir bonecos de plástico (de plástico?),
pequenos ‘fantasminhas’, a preços exorbitantes.
Um número incontável de crianças não
conhece escola, nunca entrou numa sala de aula, nem sabe o que é lápis e
caneta, caderno ou livro; mas há quem teime no brinquedo ridículo de ‘ensinar’
bonecos de plástico (de plástico?) que nada sabem e nada aprendem.
São crianças reais, nuas e concretas, aos
milhares e milhões – que riem, choram, amargam a solidão e experimentam
hostilidade, sentem frio, dor e fome – estendendo o olhar e a mão por socorro;
mas há quem abrigue no aconchego de lares nus e vazios bonecos de plástico
(plástico?) ‘bonitinhos’, mas inanimados.
Olhares e palavras de ódio e rancor, em
desmedida, cobrem crianças solitárias, esfarrapadas ou sem roupa, como abortos
vivos da indiferença e do desamor; mas há quem prefira o jogo doentio de
brincar em ser pai/mãe de bonecos de plástico (plástico?) artificiais.
Passam de milhões os órfãos desamparados
pelos becos, ruas e praças de tantas vilas e cidades rumorosas e apressadas;
mas há quem brinque de chamar de ‘filhinho’ ou ‘filhinha’ a bonecos de plástico
(de plástico?), sem vida e sem calor humano.
Incontáveis as crianças migrantes e
refugiadas, órfãos fugitivos da fome, da violência e das catástrofes
climáticas; mas há quem, em lugar de adotar uma delas, adota um boneco de
plástico (de plástico?) ao qual dedica toda sua enfermidade patológica.
Que humanidade é essa, que troca os
valores por desvalores, a realidade pela aparência, o ser pelo ter, as crianças
por bonecos ocos e insípidos. Civilização do faz de conta, sociedade do
espetáculo… E continua o espetáculo.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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