Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Leomar Antonio Brustolin,
Arcebispo Metropolitano de Santa Maria, RS
‘A palavra ‘Páscoa’ remonta ao ambiente
semita, cujo significado é ‘passagem’. Povos antigos, de tradição agrícola,
festejavam a passagem do inverno e a chegada da primavera. Na claridade da lua
cheia, os pastores imolavam os primeiros cordeiros, acreditando que esse
sacrifício asseguraria proteção contra as influências do mal. Comiam a carne
numa refeição familiar que cultuava os laços de parentesco e da tribo.
O povo judeu deu um novo sentido a essa
passagem. Na entrada da primavera celebravam a Páscoa fazendo memória do anjo
que passou pelas portas das casas dos hebreus, marcadas pelo sangue dos
cordeiros e que poupou da morte os primogênitos deles antes da travessia do mar
Vermelho, quando foram libertados da escravidão egípcia. Essa festa é celebrada
ainda hoje entre as famílias israelitas. O simbolismo das antigas culturas
pastoris e agrícolas adquiriu um novo significado: as ervas amargas, que
outrora eram consumidas na refeição noturna dos pastores, entre os judeus
significam a lembrança do tempo difícil da escravidão. Os pães sem fermento
evocam a miséria no Egito e a pressa com que os israelitas partiram, sem ter
tempo de levedar a massa. É celebrada na primavera, pois no começo dessa
estação Israel saiu do Egito. É uma festa noturna, porque o Êxodo se realizou
em noite iluminada pela lua cheia (cf. Dt 16,1).
Nós, cristãos, assumimos essa festa como a
passagem da paixão e da morte de Jesus Cristo para a sua ressurreição e vitória
eterna. Em Jesus Cristo se revela o mistério pascal da cruz e da ressurreição.
A passagem que Jesus oferece à humanidade é do vazio e do absurdo para a
plenitude do sentido. O mistério pascal celebra a vitória do impossível e a
possibilidade do impensável. Em Jesus Cristo, a humanidade recebe a salvação de
Deus, o perdão dos pecados e a vida que não conhece mais o fim.
Celebrar a Páscoa é considerar a unidade
inseparável entre cruz e ressurreição. O crucificado da Sexta-feira Santa é o
vitorioso ressuscitado do Sábado Santo. Separar a cruz da ressurreição é
esvaziar o sentido da Páscoa. Se celebrássemos apenas a morte de Jesus de
Nazaré, perderíamos a novidade surpreendente de Deus, que é capaz de renovar
todas as coisas e dar nova vida ao que já morreu. Se celebrássemos, no entanto,
somente a ressurreição, esvaziaríamos o sentido das experiências de cada dia,
marcadas por sombras e preocupações, angústias e tristezas e até sonhos e
desejos de um mundo melhor. A Páscoa cristã celebra a paixão, morte e
ressurreição de Jesus Cristo : rosto humano de Deus, rosto divino do ser
humano.
A Páscoa nos ensina que o povo de Deus não
pode deixar de sonhar, de desejar e esperar. Contra todo desespero e ilusão é
necessário seguir criando e trabalhando por um mundo melhor. Apesar dos
impérios da morte, da potência do vazio, do absurdo e das propostas que
favorecem uma minoria mundial, o cristão não pode deixar de profetizar em favor
da vida, da dignidade humana e da preservação do cosmos.
Pode parecer estranho, mas a única maneira
de os cristãos mostrarem-se realistas é aspirar ao impossível. Caminha-se neste
mundo rumo ao futuro de Deus, onde estarão unidos para sempre o Céu e a Terra.
Tudo se dirige para a mesma meta: o Senhor que ressuscita e vem, o mundo que
chegará à sua plena realização em Cristo.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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