Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Ricardo Abrahão
‘‘Veio um furacão tão violento que despedaçava os montes e quebrava os
rochedos diante do Senhor; mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento
veio um terremoto; mas o Senhor não estava no terremoto. Depois do terremoto
veio um fogo; mas o Senhor não estava no fogo. Depois do fogo ouviu-se uma
brisa suave.’ (1Rs 19,11-12)
Um bom músico não é aquele que faz malabarismos sonoros, os quais são
consequências de questões neurológicas cognitivas. O músico que de fato faz
bela arte é aquele que tem o que há de mais precioso na vida humana : a escuta! Saber escutar os sons e
classificá-los é o que mais caracteriza um ouvido sensível e humilde. O ouvido
humilde é simples : aceita o som como ele é.
A humanidade está se esquecendo, cada vez mais, de escutar. É preciso
aprender a escutar, a investir nos processos de escuta. A Igreja – sempre
mestra na escuta – transmite a nós de geração em geração um legado incalculável
sobre a escuta, a música, a oração e a contemplação. Então, de imediato, surge
uma pergunta : por que há tanto barulho nas igrejas? O que anda acontecendo com
nossas músicas? Há um ensinamento no Evangelho que nos responde olho no olho :
conhece-se uma árvore pelos frutos que ela dá.
O fruto da
oração é o silêncio interior, uma melodia
suave capaz de preencher todo o ser de sua própria existência como criatura
legítima do amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo e, por isso, Jesus diz
que não somos mais servos e sim seus amigos e irmãos. Jesus é o caminho
perfeito para a escuta do amor do Pai. O barulho nas igrejas é resultado da
busca de um Deus na tempestade, no terremoto, no fogo. É uma tentativa vã de
convencer o outro sobre a existência de um Deus que ainda não foi encontrado no
silêncio interior. É preciso subir o monte da humildade como Elias, da busca,
do conhecimento.
Ao escutar melodias profundas como o canto gregoriano, os motetos de
Palestrina, os sons sublimes de Bach e os tons salmódicos da Igreja, o coração
humano encontra a essência do divino pulsando no peito. É preciso cantar a
liturgia com o pulsar da brisa suave. Anselm Grün, em seu livro As exigências do silêncio, comenta sobre os pensamentos do mestre Eckhart
dizendo ‘Em cada um de nós existe um lugarzinho onde o silêncio é completo, um
lugar livre do ruído dos pensamentos, livre das preocupações e desejos. É um
lugar em que nós mesmos nos encontramos inteiramente em nós. Esse lugar, que
não é perturbado por nenhum pensamento, é para Eckhart o que existe de mais
precioso no homem, o ponto onde o verdadeiro encontro entre Deus e o homem pode
ocorrer. A esse lugar do silêncio nós precisamos avançar. Não temos necessidade
de criá-lo, ele já existe, apenas está obstruído por nossos pensamentos e
preocupações. Quando desobstruímos em nós esse lugar do silêncio, poderemos
encontrar Deus assim como ele é’.
A única música verdadeiramente litúrgica é aquela que abre nossos
corações para encontrarmos Deus assim como Ele é! Escute com amor!’
Fonte : *Artigo na íntegra
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