Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Prior da Comunidade de Lurin, Peru
‘A palavra ‘experiência’ é habitualmente
usada para uma pessoa mais velha, um homem, ou uma mulher, que viveu no quadro
de uma grande tradição de hábitos, costumes e de um estilo de vida. Neste
sentido a tradição do monaquismo peruano é bastante nova, pois é recente, data
da fundação do primeiro mosteiro beneditino que foi fundado nos anos 1960.
A Igreja do Peru não conhecia a palavra ‘monaquismo’
quando as ordens mendicantes chegaram. De fato, a Coroa espanhola não
autorizava os monges a entrar nas Novas Índias, porque eram consideradas terra
de missão. A história conta que quando Cristóvão Colombo fez a segunda viagem à
América já havia frades franciscanos. O objetivo principal era evangelizar o
Novo Mundo. A evangelização precisava de catequese e do desaparecimento de toda
a forma de idolatria.
Mas, a evangelização foi realizada por
monges, bem antes que as ordens mendicantes existissem na Igreja. Na Igreja dos
primeiros séculos houve monges missionários muito célebres, como São Columbano,
Santo Agostinho de Cantuária, São Bonifácio de Fulda e muitos outros, que
levaram o Evangelho para a Europa e para o Leste.
O fato das Ordens mendicantes estarem
muito vivas no final do século 15, foi crucial para a decisão dos espanhóis em
enviar sobretudo franciscanos e dominicanos para evangelizar a América. Aliás a
vida monástica na Espanha estava em fase de reforma. Por isso a Coroa não pediu
aos monges para se juntarem ao novo movimento de evangelização. Só as monjas
dessas Ordens foram convidadas a ajudar na intenção dessas missões, com sua
oração e seu modo de vida. Na história do Peru, contudo, diz-se que houve um
pequeno grupo de monges que veio da Espanha. De fato, os Jeronimitas e os
monges de Monserrate estabeleceram-se no país, mas como uma simples presença, sem
nenhum desenvolvimento.
Houve também, e é admirável, um mosteiro
cisterciense fundado no século 16 em Lima, por uma mãe e sua filha, Lucrécia de
Sanzoles e Mencia de Vargas : o mosteiro da Santíssima Trindade. Com aprovação
do Papa, a fundação foi erigida por São Turíbio de Mongrovejo, então arcebispo
de Lima. O mosteiro existiu desde o século 16 até aos anos 1960, quando foi
supresso. As monjas cistercienses de Huelgas (Espanha) vieram em 1992 para
refundar o mosteiro na periferia de Lima, em Lurín, onde retomaram a história
desse mosteiro. Elas voltaram para Espanha em 2017, por falta de vocações, e
pediram-nos para assumir o lugar onde estão enterradas as fundadoras e monjas
cistercienses, que morreram. É lá que nós vivemos, continuando a história e a tradição,
e sobretudo a oração de uma comunidade monástica na Igreja do Peru. Os fatos
históricos manifestam, seguramente, que Deus trabalha segundo perspectivas
inesperadas.
Menciono estes fatos históricos porque
depois de quatro projetos abortados, vindos de regiões e de congregações
beneditinas diferentes, nós sobrevivemos pela graça de Deus. Somos a primeira
comunidade beneditina no Peru, vivendo a vida monástica com, unicamente monges
peruanos. O monaquismo masculino é quase desconhecido no Peru. Mas o Senhor
inspirou homens a viverem um estilo de vida, que existe desde os primeiros
séculos da Igreja no seio de uma rica tradição.
Pessoalmente não conhecia muita coisa da
vida monástica, por não existirem muitas informações sobre o assunto na Igreja
do Peru. As primeiras Ordens estabelecidas no país eram mais conhecidas. No
entanto, o Senhor chama homens e mulheres para o procurarem na perspectiva
dinâmica de uma vida de oração e de trabalho, com o Ofício Divino, a lectio e o
estudo, o acolhimento e o acompanhamento espiritual, no interior do claustro e
para a Igreja e o mundo inteiros.
Entrei no mosteiro quando tinha 20 anos.
Encontrei uma pequena comunidade fundada em 1981 (2 anos antes de eu nascer)
pela abadia de Belmont na Inglaterra. Fui convidado a visitá-lo, sem saber a
imensa alegria que ia produzir em mim aquela hora de oração em que iria
participar : as Completas. Fui cativado e tocado no mais profundo do meu ser.
Algo de estranho e de novo aconteceu. Experimentei o conhecimento do que era a
vida monástica. Rezar os salmos foi, concretamente, para mim um encontro com
Deus, na minha própria vida de fé.
Não conhecia nada da cultura monástica.
Progressivamente aprendi mais sobre sua história, o sentido, a riqueza e o
objetivo desse tipo de vida. Foi um encontro com Deus por meio de um caminho
bem misterioso. O Senhor me fez fazer a experiência do seu chamado e da minha
resposta no contexto da vida monástica.
Como já disse, não havia verdadeiramente
história monástica nos países de língua espanhola na América do Sul.
Diferentemente do Brasil, de língua portuguesa, os outros países da América do
Sul só receberam as primeiras fundações monásticas no final do século 19. É
interessante notar que se o monaquismo é o ponto de partida da vida religiosa
na Igreja, na vida religiosa do continente latino-americano, é uma realidade
totalmente nova.
Minha comunidade e eu mesmo no Peru
fizemos a experiência da presença de Deus à medida que nos desenvolvemos na
terra deserta deste país. A comunidade tem, agora, sete monges de votos
solenes, há dois noviços e um certo número que se prepara para entrar.
O Senhor me chamou para viver a vida
monástica num tempo e num espaço determinado. Convidou-me, assim como a meus
irmãos, a seguir o Cristo segundo a Regra de São Bento. É assim que a vida
monástica se estabeleceu no nosso país, para que em tudo seja Deus glorificado.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.aimintl.org/pt/communication/report/117
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