Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
jornalista
‘Esther Hillesum (1914-1943), escritora
neerlandesa, filha de judeus não praticantes, é considerada uma das místicas
mais destacadas do nosso tempo. Ela viveu a dor da guerra, foi feita
prisioneira e levada para Auschwitz, onde morreu com 29 anos. Num ambiente de
ódio e intolerância, no meio do sofrimento que avassalava todos os que tinham
sido restringidos a um campo de concentração, ela encontrava no seu interior a
força divina para ser testemunha de fé, amor e esperança para aqueles
deserdados. No meio daquelas sombras, sem perder a capacidade de olhar além do
mal que a rodeava, animava os seus companheiros cativos e convidava-os a
«reinventar a esperança».
Vivemos num mundo cheio de tragédias,
crises, incertezas, guerras, medos e sofrimentos. A apatia e o desânimo podem
também assombrar a nossa vida. Por isso necessitamos reinventar a esperança,
pois como refere o filósofo Byung-Chul Han, «apenas a esperança nos permite
recuperar a vida» porque «ela estende o horizonte do significativo, que
revitaliza a vida e lhe dá asas. A esperança presenteia-nos com o futuro» (O
espírito da esperança : contra a sociedade do medo, 2024).
Para nós, crentes, a esperança é uma
virtude teologal que nos incita a não perder de vista o objetivo último da
existência. A Páscoa, que celebramos este mês, convoca-nos a renovar a
esperança de Cristo Ressuscitado, que põe no nosso coração a certeza de que
Deus sabe transformar tudo em bem, pois até do túmulo faz surgir a vida. Como referia
o Papa Francisco na homilia da Vigília Pascal de 2020, «nesta noite de Páscoa,
conquistamos um direito fundamental, que não nos será tirado : o direito à
esperança. É uma esperança nova, viva, que vem de Deus. Não é mero otimismo,
não é uma palmadinha nas costas, nem um encorajamento de circunstância, com o
aflorar de um sorriso. Não. É um dom do Céu, que não podíamos obter por nós
mesmos».
Para os discípulos missionários de Jesus,
a esperança é também visionária e profética, projeta-nos para a futuro, dá-nos
motivação para transformar a realidade e torná-la conforme ao projeto de Deus.
Como escreve o Papa Francisco na bula de convocação do jubileu, a esperança é a
virtude que imprime «a orientação, indicando a direção e a finalidade da
existência crente. Por isso, o apóstolo Paulo convida-nos a ser ‘alegres na
esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração’ (Rm 12, 12). Assim
deve ser; precisamos de transbordar de esperança (cf. Rm 15, 13) para
testemunhar de modo credível e atraente a fé e o amor que trazemos no coração;
para que a fé seja jubilosa, a caridade entusiasta; para que cada um seja capaz
de oferecer ao menos um sorriso, um gesto de amizade, um olhar fraterno, uma
escuta sincera, um serviço gratuito, sabendo que, no Espírito de Jesus, isso
pode tornar-se uma semente fecunda de esperança para quem o recebe». Ancorados
na esperança, sendo capazes de a reinventar no quotidiano da nossa vida, os
crentes colaboramos ativamente na construção de um mundo melhor, mais justo,
solidário e fraterno.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/1338/reinventar-a-esperanca/
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