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terça-feira, 1 de agosto de 2017

Igreja ajuda viuvas e órfãos vítimas da violência de Boko Haram na Nigéria

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Por detrás de cada número existem rostos que, aparentemente, reflectem uma certa paz, mas por dentro os seus corações continuam a carregar feridas abertas difíceis de cicatrizar.


‘Durante uma visita recente da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) à Diocese de Maiduguri, na Nigéria, o Bispo Oliver Doeme sublinhou os principais desafios que a sua diocese enfrenta, entre eles, a crise humanitária, falta de alimentos, carência de educação (escolas destruídas) e também aquilo que chama de uma crise espiritual, pois a maior parte dos habitantes da sua diocese estão fortemente traumatizados. O bispo explicou que a maioria das pessoas assassinadas pelo Boko Haram são homens, pelo que existem mais de 5.000 viúvas e 15.000 órfãos aos quais a diocese deve prestar apoio. A Fundação AIS acaba de aprovar uma ajuda de emergência de 70.000 € para ajudar estas vítimas do Boko Haram.

As milícias do Boko Haram chegaram à minha casa de manhã, muito cedo’, conta Esther em hausa, a sua língua local. ‘Começaram a roubar tudo e logo ordenaram ao meu marido que se convertesse ao Islão e porque recusou cortaram-lhe a cabeça diante dos meus olhos’. Da mesma forma, ‘dispararam na cara’ do marido de Rose por este não querer converter-se ao Islão.

A dor invade Agnes, de 40 anos e mãe de nove filhos, quando se lembra que não pode enterrar o seu querido marido. ‘O meu marido trabalhava nas obras e estava fora de casa quando os guerrilheiros do Boko Haram cercaram todos os que lá estavam presentes e mataram-nos a tiro. Os terroristas não permitem que os cadáveres sejam recolhidos e por isso não foi possível enterrá-lo e não foi celebrado o seu funeral. Deixaram que o corpo apodrecesse ali mesmo’. Quando acaba de falar, Agnes seca as lágrimas com o pano colorido do seu vestido tradicional.

Estas histórias são apenas alguns exemplos das milhares de experiências traumáticas que as mulheres nigerianas de Maiduguri tiveram que enfrentar nos últimos tempos. Catarina, Elena, Justina, Julieta, Hanna... são mais de 5.000. Por detrás de cada número existem rostos que, aparentemente, refletem uma certa paz, mas por dentro os seus corações continuam a carregar feridas abertas difíceis de cicatrizar. Para poder assistir a esta viúvas profundamente traumatizadas, uma parte da ajuda da Fundação AIS será destinada a sessões de cura de traumas.

As vítimas também recebem formação para aprender a cuidar das suas necessidades básicas, sobretudo agora que se encontram sozinhas. Antes dos ataques podiam contar com os salários dos seus maridos, mas depois da sua perda, a vida não voltou a ser igual. Muitas destas viúvas tem mais de seis filhos para alimentar e educar, e a maior parte delas não querem voltar a casar porque ainda sentem uma ligação emocional muito forte com os seus maridos assassinados em circunstâncias terríveis. Muitas delas continuam a chorar os maridos desaparecidos, pois os seus corpos nunca foram encontrados.

O Bispo Oliver criou a Associação das Viúvas de Santa Judit com o objetivo de adaptar melhor a ajuda recebida para as circunstâncias de cada uma destas mulheres.

Uma outra parte do projeto abrange as taxas escolares e a comida tanto para os órfãos de ambos os pais como para os que perderam apenas o pai. ‘Serão sobretudo as crianças que vivem na parte oriental da diocese que se beneficiarão mais destas ajudas, pois elas são as mais afetadas e as mais pobres’ acrescenta o Bispo Oliver.

A diocese católica de Maiduguri está situada no nordeste da Nigéria, uma região que deu origem ao grupo Boko Haram e por isso é também a zona mais afetada pelas suas atrocidades. Os estados de Borno, Yobe e Maiduguri estão no centro da atuação do grupo Boko Haram. A diocese abarca cerca de 80% deste território. Desde 2009, mais de 200 igrejas e capelas, casas paroquiais, 25 escolas, 3 hospitais, 3 conventos e inúmeras lojas, casas particulares e escritórios foram destruídos nesse território.

Segundo os dados recolhidos pela Fundação AIS na sua recente visita às zonas afetadas, o Boko Haram assassinou mais de 20.000 pessoas; 26 milhões de pessoas sofrem de forma direta com este conflito; 2,3 milhões de crianças e jovens viram-se privados de acesso a educação.’


Fonte :


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Síria : delegação russa encontra representantes religiosos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Mosteiro de São Sérgio em Maaloula, Síria: sob o risco do terrorismo

Patriarcado greco-ortodoxo de Antioquia expressa gratidão à Rússia ‘para apoiar o povo sírio’


‘Uma delegação russa composta por parlamentares, políticos e representantes militares visitou recentemente a Síria em um programa de reuniões que também inclui o contato com representantes de igrejas e comunidades religiosas locais. A informação vem do departamento de Relações Externas do Patriarcado de Moscou, em nota enviada para a Agência Fides.

Participaram da delegação o parlamentar comunista Sergei Gavrilov, coordenador do grupo para a defesa dos valores cristãos, e Dmitry Sablin, membro do Conselho da Federação e vice-presidente da Associação dos Veteranos Militares.

Em 24 de outubro, a delegação russa se reuniu com o bispo Lukas de Sednaya, do Patriarcado greco-ortodoxo de Antioquia, e participou de um encontro de oração na Catedral da Dormição da Santíssima Mãe de Deus. Dom Lukas de Sednaya agradeceu ao governo e ao povo da Rússia ‘pelo seu apoio ao povo sírio’.

A delegação entregou ao Patriarcado greco-ortodoxo de Antioquia, cuja sede fica em Damasco, uma ajuda humanitária (especialmente em alimentos, incluindo comida para bebês) enviada pelos paroquianos da igreja da Santa Ressurreição de Uspensky Vrazhek, em Moscou. Parte da ajuda humanitária foi entregue a um orfanato de filhos de militares sírios mortos em combate. Durante a visita, os membros da delegação russa também foram recebidos pelo presidente Bashar al-Assad e pelo Grande Mufti da Síria, Ahmad Badreddin Hassoun.’  


Fonte :


sexta-feira, 18 de julho de 2014

A alegria da dádiva

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

  * Artigo de José Rebelo,
Missionário Comboniano

As pessoas assumem um estilo de vida que não lhes deixa tempo nem meios para darem a atenção devida aos outros e experimentarem a alegria da dádiva.


‘Nas recentes eleições na África do Sul, algumas aldeias da periferia da cidade de Tzaneen, na província de Limpopo, uma das mais pobres do país, boicotaram o acto eleitoral e barricaram as estradas de acesso a mais de duas dúzias de comunidades com os postes da electricidade e pedras, para impedirem a actuação da comissão eleitoral. Razão do protesto : reivindicar a construção de um centro comercial na zona! Nem mais nem menos!

O episódio acaba por ser emblemático, a vários títulos, da situação que o país (ainda) vive, em que se recorre com facilidade à violência e destruição de propriedade pública, e ajuda a compreender a fidelidade ‘inquestionável’ ao Congresso Nacional Africano : apesar dos escândalos financeiros que envolvem vários membros do Governo, em especial o seu líder e presidente da República, Jacob Zuma, e apesar do seu escasso desempenho, que leva as pessoas frequentemente à rua, o ANC voltou a ganhar com uma folgada maioria absoluta.

O que, porém, mais me chamou a atenção quando, pela primeira vez, ouvi a notícia do boicote na rádio foi a deriva consumista que o país atravessa. O protesto é um direito e nas periferias as populações têm seguramente razões de sobejo para se indignarem. Mas protestar pela falta de um centro comercial desafia a imaginação. Está em sintonia com uma tendência infeliz da nossa época : a pessoa define-se pelo que tem e consegue comprar; e as aparências contam mais do que a verdade do ser. As pessoas sentem-se valorizadas no acesso à feira das vaidades. Aos domingos, podem vir à Missa de Mercedes e não ter uma pequena nota para pôr na bandeja.

Num livro que acaba de sair na Inglaterra (The Good Life : Wellbeing and the New Science of Altruism, Selfishness and Immorality), diz-se que o nosso instinto natural para o altruísmo está a ser destruído pelas mudanças sociais e exigências da vida moderna, que nos empurram para o egoísmo e a indiferença em relação aos outros. A autora, a psicoterapeuta Graham Music, diz que ‘estamos a perder a empatia e a compaixão em relação ao resto da sociedade’.

Music contesta a noção de que as crianças nascem egoístas. Para sustentar a sua tese, refere-se a uma série de experiências efectuadas no Instituto Max Planck, na Alemanha, em que um grupo de crianças, com 15 meses de idade, foi colocado numa sala onde um adulto finge que precisa de ajuda. Explica : ‘Há uma tendência natural para ajudar. As crianças adoram ajudar, recebem uma recompensa intrínseca só e exclusivamente por o fazerem, até que as começam a recompensar por aquele comportamento com um brinquedo. O subgrupo de crianças recompensado materialmente, rapidamente perde o interesse em ajudar. As crianças não recompensadas – e que não sabem que as do outro grupo estão a sê-lo – continuam a ajudar, satisfeitas, sem outra razão que não seja o mero acto de ajudar.

A autora diz que outros estudos têm demonstrado que as crianças se sentem mais felizes a dar mimos do que a recebê-los. Esta conclusão está na linha das palavras de adeus que São Paulo, já prisioneiro e a caminho de Roma, dirige aos chefes da comunidade de Éfeso reunidos em Mileto (Actos dos Apóstolos 20,35), em que afirma que Jesus mesmo terá dito ‘que há mais alegria em dar do que em receber’. Por outro lado, os dados da nossa própria experiência confirmam também os méritos do altruísmo. Mas infelizmente, e cada vez mais, as pessoas, no afã de mostrarem que não estão atrás das outras, assumem um estilo de vida que nem sempre podem sustentar e que não lhes deixa nem tempo nem meios para darem a atenção devida aos outros e experimentarem a alegria da dádiva.


Fonte  :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EupEZlVEukGsUIsjpv