Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo da Irmã Fátima La Martinez,
Catequista de Jesus Crucificado
‘A nossa missão na Amazônia
peruana começou em 2017. Neste pequeno
canto do mundo, que defino «dom de Deus», as coisas não funcionam da forma a
que estávamos habituadas e, por isso, foram necessários muita criatividade e
tempo da nossa parte para responder às necessidades das pessoas, para as conhecer
e amar.
Vivemos em Iquitos, a
maior cidade da Amazônia peruana, circundada pela natureza e por grandes rios.
Não obstante, aqui a água potável só está disponível umas cinco horas por dia,
a rede elétrica é instável e o acesso à Internet é lento. As pessoas vêm aqui
de aldeias distantes e instalam-se ao longo das margens do rio. Vivem em
situações muito precárias, fazem os trabalhos que aparecem e nem sempre são bem
pagos. Mas isso não diminui o fato que sejam alegres e se sintam família. Gosto
muito de ver as crianças a brincar e a saltar descalças nas ruas de terra.
O modo mais comum de
se deslocar na Amazônia é através da
navegação fluvial. Há apenas uma estrada que liga Iquitos à cidade de Nauta,
que fica a cem quilômetros de distância; as outras viagens são feitas por barco
a motor, ferryboat ou pelos chamados «bongueros» [embarcação
de fundo plano utilizada para o transporte fluvial de passageiros ou carga] e
podem durar vários dias. De fato, as distâncias aqui são medidas mais em tempo
do que em quilômetros.
Terra
de missão
A Amazônia peruana é uma terra de missão e o seu
território está organizado em diversos vicariatos apostólicos confiados a
congregações religiosas. Mas os missionários são poucos considerando a extensão
do território. Por exemplo, no nosso Vicariato de Iquitos há apenas 33
sacerdotes, razão pela qual os animadores e nós religiosas desempenhamos um
papel importante.
Ao contrário dos
outros vicariatos da Amazônia, aqui a maioria das paróquias encontra-se em
Iquitos, cidade com cerca de meio milhão de habitantes. Mas o trabalho da
Igreja chega também às comunidades nas aldeias distantes, localizadas ao longo
dos rios e em lugares de difícil acesso devido à complexidade da geografia e ao
elevado custo do transporte. Quando o nível da água desce, é impossível chegar
a algumas áreas ou, para o fazer, é necessário caminhar na lama da selva e
proteger-se dos insetos e outros animais.
Evangelizar
e acompanhar
Neste contexto, o
nosso trabalho é evangelizar e acompanhar, especialmente quantos vêm de aldeias
distantes e trazem consigo sonhos, sobretudo para os seus filhos. Lembro-me de
um primeiro encontro com a realidade pastoral que tive durante uma reunião de preparação
para o sacramento do batismo de algumas crianças. Foi para mim uma grande
surpresa verificar que apenas alguns pais eram batizados. Experimentei isto
como um desafio e tive de mudar a catequese que tinha preparado.
Progressivamente, compreendi que esta área é uma «terra virgem» para a
evangelização, dado que muitos nunca pegaram numa Bíblia nem ouviram uma
passagem da Sagrada Escritura.
Em sintonia com o
carisma da nossa congregação, nestes seis anos temos colaborado em diversos
serviços de catequese e de formação em diferentes paróquias. Tudo isto nos
permitiu ir da cidade para as periferias e, assim, chegar às comunidades
estabelecidas nas zonas ribeirinhas. Também ali tivemos a oportunidade de nos
encontrarmos e servir os crucificados de hoje
O
encontro com o Crucificado
Às quartas-feiras
levamos a comunhão aos doentes, acompanhamo-los e escutamo-los. Lembro-me como
uma vez, apesar da repugnância que humanamente senti, fui capaz de contemplar
Cristo na Cruz enquanto ajudava uma pessoa coberta de feridas. Então tudo teve
sentido. Durante a pandemia sofri ao lado deles e chorei por não poder fazer
nada ao ver tanta gente morrer, porque em Iquitos a pandemia foi devastadora.
Este encontro com
tantos crucificados também nos compromete a dar voz a quem não tem voz. Aqui
existem muitas empresas ilegais de exploração de madeira e extração mineira,
que causam derrames de petróleo que poluem os rios e deixam a população sem
água para beber e sem poder pescar para comer. Ante estas realidades, o nosso
amor ao povo não permite que permaneçamos indiferentes e impele-nos a oferecer
o nosso pequeno grão de areia para muda-las. E foi isto que nos levou a criar
um escritório da Cáritas na nossa paróquia.
Estar na selva é um
dom de Deus e, para nós, mesmo que o mundo não se dê conta do que fazemos, o
esforço para caminhar ao lado deste povo, para o ajudar a recuperar a sua
dignidade, é um início do Reino de Deus. Principalmente porque o fazemos
juntas, pois caminho com as minhas irmãs da comunidade na procura constante da
vontade de Deus.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.combonianos.pt/alem-mar/artigos/8/977/missao-na-amazonia-peruana/
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