Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Vanderlei de Lima,
eremita
na Diocese de Amparo, BA
‘Dom Bernardo
Bonowitz, OCSO, em seu livro Buscando verdadeiramente a Deus (Mensageiro
de Santo Antônio, 2013), trata, entre outros temas oportunos, da importância do
silêncio no dia a dia. Do mesmo assunto se ocupou Dom Estêvão Tavares
Bettencourt, OSB, em sua revista Pergunte e Responderemos n.
534, dezembro de 2006, p. 565-570. São, pois, estas fontes que darão norte ao
presente artigo.
Dom Bernardo, após
discorrer sobre a imprescindível prática do silêncio na vida monástica, diz
que, fora do claustro, ‘ela não precisa ser vivida tão intensamente quanto
dentro do mosteiro; talvez não seja possível. Mas escolhas podem ser feitas a
respeito da televisão, computador, telefone, conversas desnecessárias. Você
pode cavar pequenos espaços de silêncio no seu cotidiano, dedicados à escuta de
Deus, à espera de que Ele fale. Muito provavelmente tal dedicação terá seu lado
doloroso, como na vida do monge – o encontro com a dissonância interior, o
conflito dos impulsos e aspirações discordantes dentro de nós mesmos. Como
sempre, o caminho da sabedoria consiste em perseverar num espírito de fé. Do
outro lado do ruído e dos conflitos interiores, estão as melodias inauditas que
Deus toca em sua flauta de pastor, à espera de serem ouvidas’ (Buscando
verdadeiramente a Deus, p. 29).
Motivos
Voltando-nos para o
silêncio em si, de um modo mais amplo, podemos perguntar por que razões o ser
humano se cala? – Dom Estêvão Bettencourt responde que o silêncio humano se dá
por motivos diversos. Pode manifestar : a) espanto ou medo frente
ao desconhecido ou ante um imprevisto (incêndio, procela, acidente etc.);
b) concentração a fim de se preparar para uma grande decisão
de vida; c) repouso a exigir não só a ausência de barulhos
externos, mas igualmente a calma interior : é preciso que também a imaginação
descanse e d) apatia ao se deixar levar pela onda da
indiferença; aí a pessoa não reage para apoiar ou para discordar daquilo que
ocorre à sua volta.
Em relação ao
próximo, o silêncio pode representar : a) humildade e busca. Chega,
neste caso, a ser um exemplo aos demais : ‘Calados, pareciam falar’
(Cícero. Pro Sestio 40); b) aprovação ao que se vê
ou se ouve. Daí se dizer : ‘Quem cala, consente’; c) omissão, pois
a pessoa se cala quando deveria falar para alertar ou mesmo corrigir o próximo.
O afamado Padre Antônio Vieira, SJ, assevera : ‘A omissão é um pecado que se
faz não fazendo’ (Sermão da Primeira Dominga do Advento).
Escuta
Dito isso,
voltemo-nos para a Sagrada Escritura a fim de nela observarmos os silêncios de
Deus e dos homens. Sim, há diversas passagens nas quais os salmistas e os
profetas se queixam dos chamados silêncios de Deus (cf. Sl 83,2; 27,1; 39,13;
50,3 e Hab 1,13). Sobre este ponto, se expressa Dom Estêvão Bettencourt, OSB : ‘Na
verdade, Deus, por definição, não pode ser omisso; Ele é a Suma Perfeição, que
o homem, limitado como é, não entende, cedendo desnecessariamente à
perplexidade. Jesus foi atendido pelo Pai de maneira muito mais generosa do que
pela isenção do cálice de sua Paixão : atravessando a morte e ressuscitando,
tornou-se o Senhor dos vivos e dos mortos; cf. Ap 1,18. Há comentadores segundo
os quais o silêncio de Deus não é senão a falsa versão da surdez do homem. Ele
fala, mas parece mudo, porque a criatura não O sabe ouvir’ (Pergunte e
Responderemos n. 534, p. 567).
Da parte do ser
humano, também há um silêncio de escuta (Gn 24,21; 1Sm 3,10;
1Rs 19,11-12; Lm 3,26; Lc 10,39), de prudência (cf. Pr 10,19;
11,12; Ecl 3,7; Eclo 20,7; Jó 40,4) ou de humildade como o de
Cristo, o servo de Javé (cf. Is 53,7; Mt 26,62-63; 27,14; ver também : Jo
19,9).
Lembremo-nos, ainda,
de que, na Tradição da Igreja, o silêncio para estar na presença de Deus é
deveras valorizado. Guigo II († 1192/93), o cartuxo, por exemplo, escreve : ‘Possa
eu, estando Contigo, não estar nunca só. A terra de minha alma cala em tua
presença, Senhor, a fim de que entenda o que diz em mim o Senhor meu Deus, já
que o murmúrio de tuas palavras não pode ser compreendido a não ser com um
profundo silêncio’ (in Um cartuxo. Antologia de autores
cartuxos : itinerário de contemplação. São Paulo : Cultor de Livros, 2020,
p. 176).
Em silêncio orante,
reflitamos sobre tudo isso…’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://pt.aleteia.org/2023/06/26/a-importancia-do-silencio-no-nosso-dia-a-dia/
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