Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Quatro religiosas
Missionárias da Caridade, congregação fundada por Santa Madre Teresa de
Calcutá, que há tempos trabalhavam no Iêmen, foram vítimas de um ataque
terrorista em Aden, uma das principais cidades do país. Elas perderam a vida junto
com outras 12 pessoas. Era 4 de março de 2016. Às 8 da manhã, jihadistas
invadiram a casa de repouso onde as religiosas assistiam idosos abandonados,
disparando contra os presentes. Seus nomes eram Irmã Annselna, Irmã Judith,
Irmã Margarita e Irmã Reginette e eram provenientes, respectivamente, da Índia,
Quênia e Ruanda.
O trabalho da ‘Comissão
Novos Mártires - Testemunhas da Fé’, instituído pelo Papa Francisco, tem
justamente a intenção de homenagear essas religiosas e aqueles que sacrificaram
suas vidas por amor ao próximo nos últimos 25 anos, permanecendo fiéis ao chamado
de Deus em contextos de precariedade e violência. Aos microfones do Vatican
News, o vigário apostólico emérito da Arábia, arcebispo Paul Hinder, recorda as
freiras assassinadas, a quem pode conhecer pessoalmente, e destaca a
importância de manter viva a memória de seu sacrifício. Os mártires, diz ele,
não são apenas os dos primeiros séculos da Igreja, são hoje também existem
muitos :
Arcebispo
Hinder, qual é o legado deixado pelo martírio dessas quatro religiosas
Missionárias da Caridade no Iêmen?
O legado das irmãs
permanece como um testemunho em uma área de conflito de longa data. O que chama
a atenção é a simplicidade com que viveram quase cinquenta anos no país. A
morte delas em 2016 foi um evento realmente inesperado, mesmo que o risco
existisse. O seu testemunho, juntamente com o das outras pessoas que foram
assassinadas no mesmo momento, alguns colaboradores muçulmanos mas também um
cristão, continua a ser uma espécie de sacrifício para uma Igreja sofredora, e
não somente para a Igreja, mas para um povo sofredor. Penso que esta violência
tenha sido um choque não só para os cristãos, mas também para o país que
estimou e continua a estimar muito a presença destas missionárias da caridade e
do coração. Eu as visitava todos os anos. A primeira vez em 2004, ainda com meu
antecessor. Depois voltei sozinho como vigário apostólico e os encontros, as
Missas e também uma conferência para as irmãs sempre faziam parte do programa.
Vi seu testemunho e seu trabalho entre os idosos e pessoas com deficiência.
Sempre me impressionou muito ver sua dedicação às pessoas mais pobres, com as
quais ninguém se importava, exceto as irmãs. Essas visitas permanecem na minha
memória. Eu não estava presente quando elas foram mortas, foi um choque quando
recebi a notícia e ao mesmo tempo nos sentimos impotentes porque não havia
possibilidade de levar ajuda de imediato, porque o contato com elas era quase
impossível, mas eu me lembro de tudo.
Na
sua opinião, qual é o valor do reconhecimento da Igreja a esses ‘novos mártires’,
entre os quais essas freiras e todos aqueles que deram a vida pela fé e para
ajudar os outros?
Eu diria também pela
paz em um mundo de guerra, também de guerra civil. Isto permanece, na minha
opinião, embora seja claro que na situação do Iêmen não fez e continua a não
provocar muito alarde. Muitas vezes é assim com o testemunho dos cristãos ou
das cristãs autênticas, não fazem muito alarde, mas o seu é um testemunho
eficaz para aqueles que sabem ler os sinais. Para mim, que pude conhecer estas
irmãs, esta fidelidade e esta confiança no Senhor sempre impressionou e
continua a impressionar, mesmo com o risco de perder a vida, de serem assassinadas,
mas isto é difícil de comunicar aos outros : é preciso ver e é preciso
acreditar que exista um sentido, que a fé é semente de uma vida maior que
talvez nascerá mais tarde.
Na
sua opinião, é importante a iniciativa do Papa de constituir esta Comissão para
recordar os ‘novos mártires’?
Sim, certamente,
porque quando ouvimos falar de mártires pensamos nos primeiros séculos do
cristianismo, porém o fenômeno do martírio continua ao longo da história e
também hoje e devemos recordá-los. E é por isso que introduzimos aqui um
memorial em nível de Vicariato todo dia 30 de junho - um dia depois da festa de
São Pedro e São Paulo - para recordar os mártires modernos da região, que não
são canonizados, mas que nos lembram que vivemos a fé em um contexto onde
outros deram suas vidas.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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