segunda-feira, 8 de abril de 2019

O Islã que pouco se ouve falar

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Muçulmanos na Ásia rezam pela paz no final do mês sagrado do Ramadã (2017)
*Artigo de Patrícia Prado,
doutora em Relações Internacionais



Mas, falar sobre o Islã a partir da paz parece-nos estranho, especialmente quando pensamos nos meios de comunicação e seus distintos programas como novelas, filmes, noticiários, etc. Nesses, que seriam canais de propagação e, por que não pensar, de transmissão de conhecimento temos muitas vezes a imagem da religião e de seus seguidores categorizadas e estereotipadas em imagens que caminham desde a ideia de que todos os árabes são muçulmanos até a de que a religião apoia o terror. Assim, através da mídia e do conhecimento forjado no senso comum, ao se pensar e falar sobre o Islã a ideia que geralmente se vincula é de uma religião fundamentalista, violenta, opressora, logo, fechada ao diálogo com o outro.

Apesar da imagem que se propaga gerar tal pensamento, a história tem nos mostrado algo bem diferente : um Islã aberto, envolvido e interessado pelas questões do mundo, disposto a dialogar. Um exemplo recente confirma essa ideia : o encontro entre o chefe de Estado e líder da maior Igreja cristã do mundo, papa Francisco, e o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Mohammed bin Zayed al-Nahyan, para a celebração dos 800 anos do encontro entre o sultão Al Malik e Francisco de Assis. Um encontro que nos revela a abertura para o diálogo entre o Islã e outras religiões e da disposição de seus seguidores.

Entretanto, o diálogo não se dá apenas entre os grandes líderes : ele se dá no momento em que judeus da cidade de Nova York em solidariedade aos muçulmanos que perderam o espaço sagrado devido a um incêndio,  abrem as portas de sua sinagoga (em 23 de março) para que 500 deles pudessem rezar; quando cristãos da cidade de Foz do Iguaçu juntamente com muçulmanos se reúnem para juntos lembrarem Maria, a mãe de Jesus, a bem aventurada entre as mulheres citadas no Alcorão. O diálogo se dá, também, nos eventos silenciosos do cotidiano não noticiados pelos grandes meios de comunicação, mas que ocorrem diariamente em uma busca sincera e verdadeira da vivência dos pressupostos da fé que direcionam para uma vida de entrega e submissão a Deus.

Sim, o Islã é uma religião de encontro, de diálogo, de partilha, que pode ser compreendido a partir da ideia que os organiza : a de comunidade (ummah). Uma comunidade que entende que são unidos na diversidade, pois ‘no Islã as pessoas são iguais, todos são de Adão e Eva (...)’ (Dito do Profeta Mohammad). Uma comunidade que busca, na observância da fé através de seus pilares, estar mais próximo da vontade de seu criador. Nesse esforço (jihad) que deve ser diário, o muçulmano vai se tornando aquilo para o qual foi criado : um entregue a Deus; e nessa entrega o respeito e cuidado pela criatura e pela criação se torna parte de sua missão, como bem ensinou o seu Profeta : ‘Um muçulmano que planta uma árvore ou semeia um campo, a partir do qual homens, aves e animais podem comer, está praticando um ato de caridade.’

É esse Islã do qual pouco se ouve falar que devemos compartilhar : o Islã da busca sincera pelo cumprimento da vontade de Deus, da partilha com o necessitado, seja ele um muçulmano ou não muçulmano, afinal para os seguidores do Islã ‘somos irmãos ou na fé ou na criação’; o Islã aberto ao diálogo, que luta contra a opressão pois entende que a paz só será possível quando houver justiça; o Islã da paz e que é paz. Sim, é sobre esse Islã que devemos e queremos ouvir falar.’


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