quarta-feira, 29 de maio de 2013

Eu te adoro com afeto, Deus oculto (Capítulo 1 de 3)

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

* Artigo de Pe. Raniero Cantalamessa, OFM

            Com sua encíclica Ecclesia de Eucharistia, o Santo Padre João Paulo II se propôs a renovar na Igreja ‘o assombro eucarístico(1) e o hino Adoro te devote** atinge maravilhosamente esta finalidade. Poderá trazer um sopro espiritual e uma alma a tudo o que se pode fazer para honrar a eucaristia.
            Um determinado modo de falar da Eucaristia, cheio de cálida unção e devoção, além da profunda doutrina, rejeitado pela chegada da teologia chamada ‘científica’, refugiou-se nos antigos hinos eucarísticos. Se quisermos recuperá-lo e superar um certo conceitualismo árido, que afligiu o sacramento do altar depois de tantas disputas a seu respeito, devemos buscá-lo nos hinos eucarísticos.
            Iremos refletir, contudo, sobre a Eucaristia. O hino ‘Adoro te devote’ será só o mapa que nos servirá para explorar o território, o guia que nos introduzirá na obra de arte. 

  Tommaso D'Aquino, Inno ADORO TE DEVOTE,
Schola Gregoriana Mediolanensis, Milano, Italia


Adóro te devóte, latens Déitas,
Quae sub his figúris vere látitas:
Tibi se cor meum totum súbiicit,
Quia te contémplans totum déficit.
 
Eu te adoro com afeto, Deus oculto,
que te escondes nestas aparências.
A ti sujeita-se o meu coração por inteiro
e desfalece ao te contemplar.

 

Visus, tactus, gustus in te fállitur,
Sed audítu solo tuto créditur.
Credo, quidquid dixit Dei Fílus:
Nil hoc verbo Veritátis vérius.
 
A vista, o tato e o gosto não te alcançam,
mas só com o ouvir-te firmemente creio.
Creio em tudo o que disse o Filho de Deus,
nada mais verdadeiro do que esta Palavra da Verdade.

 
In cruce latébat sola Déitas,
At hic latet simul et humánitas;
Ambo tamen credens atque cónfitens,
Peto quod petívit latro paénitens.
Na cruz estava oculta somente a tua divindade,
mas aqui se esconde também a humanidade.
Eu, porém, crendo e confessando ambas,
peço-te o que pediu o ladrão arrependido.
 
 
Plagas, sicut Thomas, non intúeor;
Deum tamen meum te confíteor.
Fac me tibi semper magis crédere,
In te spem habére, te dilígere.
Tal como Tomé, também eu não vejo as tuas chagas,
mas confesso, Senhor, que és o meu Deus;
faz-me crer sempre mais em ti,
esperar em ti, amar-te.
 
 
O memoriále mortis Dómini!
Panis vivus, vitam praestan hómini!
Praesta meae menti de te vívere.
Et te illi semper dulce sápere.
 
Ó memorial da morte do Senhor,
pão vivo que dás vida ao homem,
faz que meu pensamento sempre de ti viva,
e que sempre lhe seja doce este saber.
 
 
Pie pellicáne, Iesu Dómine,
Me immúndum munda tuo sánguine.
Cuius una stilla salvum fácere
Totum mundum quit ab omni scélere.
 
Senhor Jesus, terno pelicano,
lava-me a mim, imundo, com teu sangue,
do qual uma só gota já pode salvar
o mundo de todos os pecados.
 
 
Iesu, quem velátum nunc aspício,
Oro fiat illud quod tam sítio;
Ut te reveláta cernens fácie,
Visu sim beátus tuae glóriae. Amen.
 
Jesus, a quem agora vejo sob véus,
peço-te que se cumpra o que mais anseio:
que vendo o teu rosto descoberto,
seja eu feliz contemplando a tua glória. Amém.

 
Fonte :
*Pe. Raniero Cantalamessa, OFM, é desde 1980 pregador oficial da Casa Pontifícia (Vaticano).
Revista Beneditina nrº 33, Maio/Junho de 2009, editado pelas monjas beneditinas do Mosteiro da Santa Cruz – Juiz de Fora/Minas Gerais. 
publicacoesmonasticas@yahoo.com.br 


**Santo Tomás de Aquino (1225 - 1274), cerca de 50 anos após sua morte, foi considerado autor do ‘Adoro te devote’. De fato, são inúmeros os pontos de contato com sua espiritualidade. O texto permaneceu quase desconhecido até que Pio V o introduziu no Missal de 1570, quando o hino rapidamente se difundiu por toda a Igreja, tornando-se uma das orações eucarísticas mais amadas pelo fiéis.


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(1) Enc. Ecclesia de Eucharistia, 6.


2 comentários:

Maria José Speglich disse...

Quem traduziu Tomas de Aquino?

Pérolas Finas Blog disse...

Sra. Maria José, a referida tradução seria do hino 'Adoro te devote'? Neste texto, o padre Raniero Cantalamessa não cita o tradutor.

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