Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Padre Antônio Ferreira, CMF
‘Enquanto os evangelhos de Lucas e Mateus detalham o nascimento de
Jesus, o Evangelho de João nos apresenta uma perspectiva diferente. Ele se
inicia antes da criação, revelando Jesus como a Palavra de Deus, que era Deus e
estava com Deus desde o princípio. Ao longo dos séculos, Deus revelou-se na
criação, nas suas alianças com o povo de Israel, em Moisés, e revelou-se nos profetas.
Aqueles que acreditaram nessa revelação tornaram-se filhos e filhas de Deus.
Segundo João, a revelação mais plena ocorre com a encarnação do Verbo,
demonstrando o amor infinito de Deus e superando a lei mosaica.
Ao ecoar as primeiras palavras de Gênesis, ‘‘No princípio’ (1,1), João
estabelece um paralelo entre os dois relatos, a criação original e a nova
criação em Cristo. A encarnação do Verbo representa um novo ato criativo, em
que Deus, em sua infinita misericórdia, decide habitar entre os seres humanos,
inaugurando um novo momento na história da humanidade. A encarnação do Verbo é,
portanto, o ponto culminante de toda a história da salvação.
Como em Gênesis, também aqui a luz é um elemento primordial ligado à
vida e à superação das trevas. A luz, identificada com Cristo, representa a
força salvadora de Deus, enquanto as trevas simbolizam o pecado e a morte. A
oposição entre luz e trevas, presente em ambos os textos, adquire em João uma
dimensão mais espiritual e teológica, simbolizando a força do bem sobre mal.
Enquanto em Gênesis a escuridão é um estado da criação, em João ela representa
as forças que se opõem à revelação divina. Em João, esses elementos são
representantes de Cristo ou de seus oponentes. Assim como em Gênesis, a luz em
João é sinônimo de vida e vitória sobre as trevas.
O evangelista João nos apresenta um paradoxo : Jesus, a luz do mundo,
esteve entre nós e, no entanto, não foi reconhecido. Essa falta de
reconhecimento não se limita à ignorância, mas à rejeição consciente de sua mensagem.
Ao dizer que ‘o mundo não o conheceu’, João afirma que a humanidade se colocou
em oposição a Deus. A cruz de Cristo revela a responsabilidade de cada um
diante desse amor rejeitado e, ao mesmo tempo, a universalidade do amor divino.
Conhecer Jesus implica mais do que ter informações sobre Ele, significa acolher
seu ensinamento e seguir seus passos. A cruz revela também que mesmo aqueles
que rejeitaram a luz podem encontrar perdão e restauração em Deus.
O Natal celebra o mistério da encarnação : Deus se fez homem,
partilhando nossa condição humana em todas as suas dimensões, exceto o pecado.
A afirmação de que Deus se tornou humano representa uma revolução teológica
radical, tanto para os judeus quanto para os romanos e gregos. A figura de
Jesus, um líder humilde e itinerante, contrasta com as expectativas do Messias
poderoso, guerreiro, comum na cultura judaica. Para os gregos, a ideia de um
deus se tornar homem era incompreensível, desafiando suas concepções
mitológicas. O Natal celebra essa verdade paradoxal : Deus, em sua infinita
misericórdia, fez-se homem para compartilhar nossa condição humana e nos
oferecer a salvação. É a celebração desse amor divino que se fez próximo.
No Natal, a luz divina irrompe nas trevas do mundo, revelando-nos o
rosto de Deus criança. Nascido numa manjedoura, Ele nos convida a um novo
nascimento, à renovação da esperança. Aquele que criou os Céus e a Terra se faz
pequeno para que possamos acolhê-lo em nossos corações. Sua presença transforma
nossas vidas, convidando-nos a construir um mundo mais justo e fraterno
seguindo seu exemplo de amor e compaixão. Da manjedoura, Deus olha-nos com o
rosto de uma criança, cheio de esperança e vitalidade, dizendo a nós ‘Quero
crescer na tua família, na tua comunidade, na tua vida’. Deus se faz próximo.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://revistaavemaria.com.br/natal-deus-se-faz-proximo.html
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