Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves
‘O cuidado com
a vida surge da consciência de sua fragilidade, constituindo-se em um
imperativo ético essencial para a preservação e promoção da existência humana.
Sem o cuidado, a vida não se desdobra plenamente em seu potencial, tampouco
alcança sua missão. O cuidado, portanto, não pode ser visto apenas como uma
prática isolada, mas como parte de uma ética integral que se preocupa com a
preservação da dignidade e da humanidade em sua totalidade.
Nesta realidade encontra-se a necessidade de se debater racionalmente
sobre as formas mais eficazes de proteger e amparar a vida. A ética, como campo
da filosofia, oferece as bases para essa discussão, que se desenvolve por meio
de princípios racionais, mas que também perpassa a dimensão afetiva e
espiritual. Assim, o cuidado pode ser compreendido não apenas como um ato, mas
como uma virtude que deve orientar as ações humanas em direção ao bem comum.
A ética cristã, especialmente, desempenha um papel crucial na formação
dos sistemas de vida no Ocidente, alicerçando-se em fontes como a Bíblia, a
Tradição, e o magistério da Igreja. Ela é parte de uma construção histórica e
comunitária, que tem como centro a pessoa de Jesus Cristo e seu evangelho. Este
evangelho, ao mesmo tempo que oferece uma visão escatológica da vida, também
oferece diretrizes práticas de conduta que se desdobram em formas concretas de
comportamento moral e espiritual.
Nesse sentido, a ética cristã coloca a vida no centro de sua
preocupação, inspirada no mandamento do amor, que exige que se cuide do próximo
como de si mesmo (Mt 22,39). O amor ao próximo, expressão máxima do cuidado,
não é apenas um sentimento, mas uma ação concreta que visa a salvaguarda da
vida em todas as suas expressões. A partir dessa inspiração, a ética cristã
propõe uma conduta de solidariedade, de justiça e de cuidado integral, em que a
vida é defendida em todas as suas fases, desde a concepção até a morte natural.
A construção de uma conduta autêntica, que leve à humanização do ser,
requer um compromisso ético com o cuidado, mas também com a transformação das
estruturas sociais que geram injustiça, desigualdade e exclusão. A ética cristã
não é uma ética de mera conformidade com regras morais abstratas, mas um
compromisso dinâmico com a promoção da dignidade humana, refletida na ação em
prol dos mais vulneráveis e marginalizados.
Diante dos desafios, somos chamados a participar do processo de
reinvenção do cotidiano. Para tanto, é necessário ter cuidado com a vida,
respeitar o próximo e, principalmente, as gerações.
Para tanto, só será possível uma real mudança se mudarmos a nossa
conduta ética e moral, pois uma conduta moral duvidosa, sem apreço à vida, nos
leva a deixar de vivenciar os melhores momentos e, acima de tudo, desrespeitar
aqueles que sofrem com algum problema e não darmos a devida importância ao
sofrimento das pessoas. Por isso, ter esperança, ou esperançar, é ter
iniciativa, é ir ao encontro, é buscar ouvir os que mais precisam.
É preciso, urgentemente, se fazer ouvir e articular o maior crescimento
da consciência humana sobre o que é ser humano. A forma como se trata o tema
ainda é um tabu. Durante séculos de nossa história, por razões religiosas,
morais e culturais, falar do tema do suicídio era algo proibido e,
principalmente, um pecado, por esta razão, ainda temos medo e/ou certa vergonha
de comentar sobre o assunto.
De fato, ao falar desta realidade, estamos inseridos na sociedade que
vive o problema de forma global e não se deixa abrir ao debate consciente. O
tabu sobre a questão do suicídio perdeu a força diante dos inúmeros casos de
problemas oriundos da pandemia. Hoje, frente à realidade, é urgente refletir
sobre o bem-estar do próximo e não apenas o nosso. É a partir desta concepção
que devemos observar a realidade sem receios e entender como tratar o outro,
principalmente na escuta enquanto membro da sociedade e no período pandêmico
que vivemos e estamos, ainda vivendo.
É preciso cultivar o caminho ético, sem preconceitos e comentários
maldosos. Que a nossa conduta moral seja pautada por regras que devem ser
respeitadas por cada um. Para tanto, é preciso se comprometer com a cultura do
encontro e do diálogo para que possamos nos comprometer com a vida de cada um e
ser mais solidários com a dor e a realidade do outro.
Assim, dotados dessa responsabilidade é urgente pensar que os projetos
de formação da educação para o humanismo solidário têm por foco principal a
ação consciente de cada um na construção de uma Educação para o humanismo
solidário e que haja uma verdadeira inclusão de todos nesta realidade. O tema
do mês de setembro é uma forma de falar com respeito diante da realidade do
suicídio.
Nesse contexto, precisamos observar o caminho que seguimos e os exemplos
que podemos dar em nossa realidade. Entre eles temos que alimentar o desejo de
uma sociedade mais humana e exercitar o amor ao próximo por meio de gestos de
solidariedade.
Devemos seguir o exemplo de Jesus : sua
ética, seu comportamento, seu caráter, seu modo de ser e de agir. Ele assumiu
uma conduta autêntica em uma sociedade contrária a tudo que ele pregava. Ele
veio transformar o mundo, a começar pela sociedade de sua época. Assim, tratar
o próximo com respeito é fazer valer o amor criador de Deus e sua proposta para
o ser humano : ’O que fizer ao menor dos meus irmãos, a mim o fazeis’. (Mt
25,40). Por isso, cuidar do outro, escutá-lo e fazer um processo de encontro é
a base das nossas relações.
Por fim, o caminho para uma conduta mais autêntica passa pela integração
entre o cuidado e a ética. A consciência da fragilidade da vida leva à
necessidade de uma responsabilidade maior com o outro e com o meio em que
vivemos. Assim, propõe-se uma ética do cuidado que não apenas responde às
urgências imediatas, mas que se alicerça em valores perenes de respeito,
empatia e justiça, construindo, assim, uma sociedade mais humana e compassiva.
Essa ética do cuidado, inspirada no cristianismo, se expande para
abarcar todas as dimensões da existência humana, desde as relações
interpessoais até as preocupações globais com a ecologia e a justiça social. É
um chamado à conversão ética, na qual o ser humano é convidado a assumir um
papel ativo na construção de um mundo mais justo e solidário, onde o cuidado pela
vida, em todas as suas formas, seja o princípio norteador das ações individuais
e coletivas.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2024-12/etica-cuidado.html
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