Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo da redação da revista Ave Maria
‘Durante a perseguição de Diocleciano, São Silvestre teria confessado a
fé e por esse motivo no ano 314 teria sido escolhido como bispo de Roma. A
presença e o espírito empreendedor do imperador Constantino, porém, conseguiram
colocar um pouco na sombra a figura desse Papa. O imperador, de fato, tinha os
meios e o poder para facilitar a organização da religião cristã, por ele já
reconhecida como religião de Estado, e ao próprio Papa não restava senão
assistir aos acontecimentos.
Para Eusébio de Cesareia e para a maioria dos bispos, a liberdade dada
por Constantino aos cristãos era um sinal dos novos tempos. Bem poucos se
apercebiam de que esses favores assinalavam também o início de uma perigosa
intromissão do poder político na vida interna da Igreja. Por outro lado, a
história tem seus tempos e não podemos julgar com a medida de hoje
acontecimentos tão remotos.
Também se Silvestre era praticamente a primeira autoridade de Roma, onde
o imperador aparecia raramente, permanecia sempre sob o manto protetor de
Constantino.
Em Roma, a comunidade cristã tinha necessidade de edifícios amplos para
a própria administração e para o culto. Constantino dava o Palácio Lateranense e
edificava as basílicas de Latrão, de São Pedro e de São Paulo Fora dos Muros.
Existiam turbulências por causa das heresias donatista e ariana em várias
partes do império e os bispos deviam reunir-se em concílio para discutir. O
imperador era o primeiro a interessar-se pelo assunto para poder conservar a
paz nos seus territórios e tomava a iniciativa não só de convocar concílios,
mas também de fornecer os meios de transporte e de alojamento aos bispos de
maneira que pudessem se movimentar com todas as honras, utilizando as
estruturas públicas do Estado.
O Concílio de Arles
Em 314, Constantino, diante dos tumultos deflagrados na África pela
heresia donatista, convocou os bispos para um concílio em Arles. Silvestre não
tomou parte nele pessoalmente, mas enviou quatro delegados. Os bispos aí
reunidos por sua conta reconheciam a autoridade do Papa não só acolhendo com
deferência os delegados, mas escrevendo-lhe no fim uma carta e convidando-o a
comunicar a todos os bispos do mundo as decisões conciliares, avalizando-as com
a autoridade de Pedro.
Eis um trecho dessa carta : ‘Tivesse o Céu querido, ó Pai caríssimo, que
estivésseis presente neste grande espetáculo! (…) Se tivésseis estado conosco,
grande teria sido a alegria de toda a assembleia. Mas visto que não podíeis
deixar a cidade, sede preferida dos apóstolos, onde o seu sangue testemunha a
glória de Deus, a vós referimos que não entendemos como nosso único dever trata
dos argumentos para os quais tínhamos sido convocados; visto que provínhamos de
diversas províncias, acreditamos oportuno consultar-nos sobre vários problemas
que se deviam discutir, com a assistência do Espírito Santo e dos anjos. E
desejamos que sejais vós, cuja autoridade é mais ouvida, que façais conhecer a
todas as igrejas as nossas decisões’ (citado in: Rendina, C. I.
Papi: Storia e segreti. Roma, Newton, 1993, pp. 63-64).
Silvestre inaugurava a prática, tornada depois muito comum aos
pontífices romanos, de não participar pessoalmente de concílios celebrados fora
de Roma, seja para não correr o risco de ser submetido a pressões, seja para
ter a possibilidade de um posterior exame dos decretos conciliares antes de
promulgá-los definitivamente.
Em Roma, no entanto, Silvestre levava em frente os trabalhos da
construção ou da adaptação dos edifícios sacros, aproveitando a munificência
imperial e a generosidade das famílias nobres romanas. Intervinha também no
calendário, tirando dos dias os nomes pagãos dedicados aos deuses e chamando-os
com o nome genérico de feriae (férias II, III, IV, V, VI) e,
depois, sábado e domingo. Nesse período, o domingo foi reconhecido como dia
festivo também pelas autoridades civis e, portanto, dedicado ao repouso e ao
culto.
O Concílio de Niceia
Entretanto, no clima de liberdade que vivia a religião cristã, também as
heresias podiam mais facilmente difundir-se, como aconteceu com o arianismo por
obra de um padre alexandrino empreendedor, chamado exatamente Ario. Ele
sustentava que Jesus Cristo era simplesmente um homem extraordinário que Deus
havia adotado como filho. A heresia causava profundas cisões entre os cristãos
e, frequentemente, também desordens que provocavam intervenções militares.
Constantino, como havia feito em Arles, pensou em dar um jeito nisso
mediante um novo concílio e dessa vez o convocou para Niceia para favorecer a
participação dos bispos do Oriente, onde o problema estava mais aceso.
O Papa Silvestre, segundo sua linha prudente, também dessa vez enviou
dois dos seus presbíteros como legados, Vito e Vicente. O concílio abriu-se a
14 de junho de 325 com a participação de trezentos bispos, na presença de
Constantino, sob a presidência do Bispo Ósio e dos dois legados papais. Os
arianos foram condenados e foi formulado o famoso símbolo de fé chamado
exatamente niceno, no qual se reafirma a divindade de Cristo.
Não mártir, mas igualmente santo
Tudo parecia já resolvido, mas o arianismo continuava a sobreviver
debaixo das cinzas. Ario conseguiu chegar até Constantino e o convenceu de ter
sido injustamente condenado. O imperador, sem avisar o Papa, convocou uma nova
assembleia de bispos, todos arianos, em Tiro, em 335. O conciliábulo condenou
Santo Atanásio e reabilitou Ario. O Papa Silvestre, no entanto, deixava este
mundo no dia 31 de dezembro daquele mesmo ano e era logo venerado como santo
pela cidade de Roma. Era o primeiro Papa que recebia as honras dos altares sem
ter sofrido o martírio. Séculos mais tarde, inventou-se a ‘doação de
Constantino’ : o imperador teria dado ao Papa Silvestre a cidade de Roma, a
Itália e outras regiões ocidentais.
Se o documento é claramente falso é verdade o fato de que, transferida
para Bizâncio a capital do império, o Ocidente foi abandonado à sua própria
sorte e os papas e bispos durante muito tempo precisaram se ocupar não só do
aspecto religioso, mas também do aspecto temporal da vida dos cidadãos.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://revistaavemaria.com.br/sao-silvestre-%E2%80%A0335.html
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