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quarta-feira, 25 de junho de 2025

Leão XIV e a Quarta Revolução

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Miguel Oliveira Panão 

 

Vivemos na quarta revolução da visão do mundo e o Papa Leão XIV, ao referir a questão da inteligência artificial (IA) subjacente à escolha do nome, assume este como um desafio para a missão cristã no futuro.

A primeira foi a revolução espacial que aconteceu com Copérnico ao ampliar a nossa noção de espaço da Terra ao Cosmos. A segunda revolução foi temporal e aconteceu quando Darwin ampliou a nossa noção da vida à de uma evolução ao longo de muitos anos. A terceira revolução é mais subtil, a mental, que aconteceu com Freud e a ideia do inconsciente ou uma maior apreensão da realidade da nossa consciência.

Segundo o filósofo Luciano Floridi, a quarta revolução é a informacional onde nos tornamos, juntamente com as máquinas, inforgs ou organismos informacionais, conectados através da infosfera e partilhando um espaço de ação com o mundo artificial por nós criado. Esse mundo começou a ser habitado por agentes virtuais com os quais interagimos diariamente.

Há dias precisei esclarecer um assunto sobre o pagamento do alojamento do meu site e o agente que a empresa me facultava para interagir era, por padrão, o virtual. Para poder estabelecer um diálogo aberto, sem que estivesse restrito à base de dados das questões mais comuns, precisei explicitar a necessidade de conversar com um ‘agente humano’. A expansão da agência baseada em IA será útil por não estar restrita aos ritmos normais de um humano que precisa de voltar a casa do trabalho. Uma IA não dorme, não come (embora precise de eletricidade para alimentar os servidores), não julga, não perde a paciência, não se cansa e procura ser sempre simpática sem qualquer hipocrisia. Tudo isto porque não sente nenhuma emoção. Quando queremos resolver problemas técnicos e diretos, uma IA será o ideal, mas se existirem nuances relacionadas com aspectos ou fases particulares da nossa vida, a compaixão, a compreensão, o pôr-se no lugar daquele que sofre com o problema exige um coração humano.

Os problemas da revolução industrial que levaram Leão XIII a escrever a Rerum Novarum são diferentes dos desafios que começamos a enfrentar com a quarta revolução informacional prenhe de agentes virtuais nos quais as empresas começam a conferir algum poder de decisão. As questões éticas e de responsabilidade são enormes e sérias.

Um papa cuja escolha é uma inspiração do Espírito Santo implica que Deus vê o sentido para onde tende o mundo e oferece-nos um pastor para nos orientar pelos montes e vales da vida profunda. A Quarta Revolução será um inequívoco desafio pastoral porque afetará a vida de todo o ser humano, a sua dignidade, sentido de justiça e trabalho. Porém, não serão apenas as questões relacionadas com a justiça social e o trabalho, mas também com a vida das nossas comunidades onde há décadas que os agentes virtuais começaram a entrar através de toques de telemóvel durante a consagração eucarística. Ainda não é claro o caminho a seguir, mas a eleição de Leão XIV é um sinal de Deus Conosco. 


Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/1369/leao-xiv-e-a-quarta-revolucao/

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Papa Leão XIV se coloca como resultado da migração e pede respeito à dignidade dos migrantes

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Rodrigo Borges Delfim


‘Em seus primeiros dias de pontificado, o papa Leão XIV fez ao menos três referências à questão migratória em discursos para fiéis e autoridades mundiais. A abordagem propositiva do tema foi uma das marcas do antecessor, o Papa Francisco (2013-2025) e há uma grande expectativa pela continuidade da defesa global dos direitos das pessoas em migração, sobretudo daquelas em deslocamento forçado

Em reunião com diplomatas baseados no Vaticano, na última sexta-feira (16), o Pontífice se colocou ele próprio como resultado de um processo migratório, tanto nas origens familiares como na própria trajetória eclesiástica. E pediu que a dignidade das pessoas migrantes seja respeitada pelos governos de todo o mundo. Ao todo, o Vaticano mantém relações diplomáticas com 184 países.

‘A minha própria história é a de um cidadão, descendente de imigrantes, e também emigrado. Cada um de nós, ao longo da vida, pode encontrar-se saudável ou doente, empregado ou desempregado, na sua terra natal ou numa terra estrangeira : a nossa dignidade, no entanto, permanece sempre a mesma, a de uma criatura querida e amada por Deus’.

Já no dia seguinte, em reunião com membros da Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice, novamente citou as migrações e fez referência a um termo usado pelo antecessor para descrever o mundo atual.

‘O Papa Francisco recorreu ao termo ‘policrise’ para evocar a dramaticidade da conjuntura histórica que hoje vivemos, na qual convergem guerras, mudanças climáticas, desigualdades crescentes, migrações forçadas e atribuladas, pobreza estigmatizada, inovações tecnológicas revolucionárias, precariedade do trabalho e dos direitos. Sobre questões tão importantes, a Doutrina Social da Igreja é chamada a oferecer chaves interpretativas que coloquem em diálogo ciência e consciência, proporcionando assim uma contribuição fundamental para o conhecimento, a esperança e a paz’.

No domingo (18), na homilia dominical da missa que formalmente marcou o começo de seu pontificado, Leão XIV pediu uma Igreja unida, sinal de unidade e comunhão, que se torne fermento para um mundo reconciliado – fazendo referência ao fim de perseguições e preconceitos.

‘No nosso tempo, ainda vemos demasiada discórdia, demasiadas feridas causadas pelo ódio, a violência, os preconceitos, o medo do diferente, por um paradigma económico que explora os recursos da Terra e marginaliza os mais pobres’.

Declaração da OIM

A OIM, a Agência da ONU para as Migrações, emitiu um comunicado felicitando o começo de pontificado de Leão XIV.

O Papa Leão XIV refletiu hoje (domingo, 18.mai) sobre um mundo ainda marcado pela discórdia, pelo medo do outro, pela marginalização dos pobres e por sistemas econômicos que continuam a pesar fortemente sobre os recursos do planeta. De suas palavras emergiu uma esperança por um mundo reconciliado e um espírito renovado de unidade.

Ainda segundo a agência da ONU, essa visão ressoa com a missão da OIM de promover a dignidade e os direitos de todas as pessoas, incluindo migrantes e populações deslocadas.

Acolhemos esse apelo para que se olhe além das divisões e trabalhemos juntos na construção de sociedades mais inclusivas e humanas, onde todos possam viver com segurança e respeito, independentemente de sua origem ou condição.

Tendência

As manifestações de Leão XIV reforçam a tendência de o atual Pontífice de manter uma forte preocupação com a questão social, o que inclui a manutenção de parte significativa dos processos iniciados por Francisco. Entre eles se encontra a defesa da dignidade das pessoas migrantes e as críticas às políticas adotadas por governos em todo o mundo que colocam os que se deslocam em situação vulnerável.

A própria escolha do nome faz uma alusão de continuidade ao que trouxe Leão XIII (1878-1903) em seu pontificado, que ficou conhecido pela encíclica Rerum Novarum, de 15 de maio de 1891, e que abordava a condição degradante dos operários industriais da época. Chamada por alguns de ‘Manifesto Comunista da Igreja’ ou de resposta da Igreja ao Manifesto Comunista – que já tinha sido lançado em 1848 –, essa encíclica é considerada ainda o marco inicial dos chamados ‘Documentos Sociais da Igreja’.

Embora seja nascido nos Estados Unidos, o atual papa passou a maior parte de sua carreira religiosa no Peru, onde atuou desde a década de 1980 em cidades como Piura, Trujillo e Chiclayo. Tal vivência no país sul-americano permitiu que em 2015 ele visse a obter também a nacionalidade peruana.

            A dupla nacionalidade e o fato de ter feito grande parte de sua vida longe da terra natal fazem de Leão XIV de fato, uma pessoa migrante. Além disso, ainda como cardeal Robert Prevost, fez criticas à política migratória conduzida pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o que coloca o novo chefe da Igreja Católica como um potencial contraponto ao presidente republicano e líder global da ultradireita que tem no rechaço à migração uma de suas principais bandeiras.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://migramundo.com/papa-leao-xiv-defesa-publica-migrantes/

sábado, 10 de maio de 2025

O que esperar do Papa Leão XIV sobre as migrações

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo de Rodrigo Borges Delfim

‘Dezessete dias após a morte de Francisco, a Igreja Católica conheceu na última quinta-feira (8) seu mais novo Papa. O escolhido pelos cardeais reunidos na Capela Sistina, no Vaticano, foi o estadunidense-peruano Robert Francis Prevost, de 69 anos, que assumiu o título de Leão 14. E o que pensa o novo pontífice sobre a questão migratória, um dos pontos mais abordados pelo antecessor?

Em seu primeiro discurso, o novo Pontífice não fez menções diretas à temática migratória. Ele fez um ‘chamado à paz’ para ‘todos os povos’ e instou a ‘construir pontes’ por meio do ‘diálogo’, avançando ‘sem medo, unidos, dando a mão a Deus e estendendo-a entre nós’.

No entanto, manifestações recentes e até mesmo o nome que escolheu para ser Papa indicam uma forte preocupação com a questão social, o que inclui a manutenção de parte significativa dos processos iniciados por Francisco. Entre eles se encontra a defesa da dignidade das pessoas migrantes e as críticas às políticas adotadas por governos em todo o mundo que colocam os que se deslocam em situação vulnerável.

‘Buscando inspiração em Leão XIII, pastor dos operários e da Doutrina Social da Igreja, e dando seguimento a Francisco, pastor dos pobres e migrantes, é de se esperar que o novo sucessor de Pedro seja firme na defesa dos direitos humanos e na promoção da dignidade humana, linha mestra do ensino social da Igreja’, avalia o padre Alfredo J. Gonçalves, assessor do Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em comentário enviado ao MigraMundo sobre o novo Papa.

Leão XIII, Doutrina Social da Igreja e migrações

Mas afinal, quem foi Leão XIII? Papa de 1878 a 1903, ele teve o quarto pontificado mais longo da Igreja Católica e ficou conhecido pela encíclica Rerum Novarum, de 15 de maio de 1891, e que abordava a condição degradante dos operários industriais da época. Chamada por alguns de ‘Manifesto Comunista da Igreja’ ou de resposta da Igreja ao Manifesto Comunista – que já tinha sido lançado em 1848 –, essa encíclica é considerada ainda o marco inicial dos chamados ‘Documentos Sociais da Igreja’.

Naquela época, a Revolução Industrial causava mudanças profundas na mentalidade e no cotidiano das sociedades europeias. Enquanto as cidades se desenvolviam, as condições de trabalho nas fábricas eram extremamente precárias. Ao mesmo tempo, lavradores perdiam espaço devido ao avanço das indústrias sobre áreas produtivas para fornecimento de matérias-primas para o setor, e muitos tampouco conseguiam se manter no meio urbano.

Diante desse contexto, muitas vezes a contragosto, a migração se tornou uma das saídas para as pessoas excluídas pela Revolução Industrial. Ou seja, esse fato histórico foi um dos motivadores da chamada ‘Grande Imigração’, que se deu entre o final do século XIX e meados do século XX da Europa em direção a outros continentes – em especial a América.

‘Ninguém, com efeito, quereria trocar por uma região estrangeira a sua pátria e a sua terra natal, se nesta encontrasse os meios de levar uma vida mais tolerável’, traz trecho da Rerum Novarum.

‘Enquanto Francisco nos remetia ao pobre de Assis, Leão XIV nos remete a Leão XIII. Leão XIII, por sua vez, foi o Papa que teve a coragem de publicar a Carta Encíclica Rerum Novarum, em 1891, que tinha como subtítulo ‘a condição dos operários’. Isso coloca o novo pontífice na esteira dos papas que se preocuparam com a chamada questão social’, explica Padre Alfredo.

A relação da chamada Grande Migração com os Documentos Sociais da Igreja foi tema de um curso ministrado em São Paulo em 2017 pelo próprio Padre Alfredo.

Dupla nacionalidade e papa migrante

Prevost nasceu em Chicago, nos Estados Unidos, tendo mãe de ascendêndia espanhola e pai americano. No entanto, passou a maior parte de sua carreira religiosa no Peru, onde atuou desde a década de 1980 em cidades como Piura, Trujillo e Chiclayo. Tal vivência no país sul-americano permitiu que em 2015 ele visse a obter também a nacionalidade peruana.

A reverência com a pátria que adotou ficou clara no primeiro discurso de Prevost como Papa, fazendo-o parte dele em espanhol e mencionando de forma especial a Diocese de Chiclayo.

‘E se me permitem também uma palavra : [em espanhol] a todos aqueles, de modo particular, à minha querida diocese de Chiclayo no Peru, onde um povo fiel acompanhou o seu bispo, compartilhou a sua fé e deu tanto a mim para seguir sendo igreja fiel de Jesus Cristo’.

No país sul-americano, também expressou preocupação com os migrantes venezuelanos – o Peru é um dos principais destinos dessa diáspora, que enfrenta dificuldades de integração com a economia local e com manifestações de preconceito.

A dupla nacionalidade e o fato de ter feito grande parte de sua vida longe da terra natal fazem de Prevost, de fato, uma pessoa migrante. ‘Creio que a dupla nacionalidade, da mesma forma que o domínio sobre vários idiomas, é um forte indicativo de abertura a outros povos, culturas e nações’, complementa Padre Alfredo.

Críticas ao governo Trump

Ser uma pessoa migrante de fato (e mostrar que ser migrante não é apenas vir de um país do Sul Global em direção ao Norte) e ter dupla nacionalidade – estadunidense e peruana – são fatores que já colocam o novo Papa em rota de colisão com o governo do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem no rechaço à migração uma de suas principais bandeiras.

O agora Papa Leão XIV, antes de ser eleito para o mais alto cargo da Igreja Católica, já havia se manifestado publicamente contra a política migratória trumpista.

Em mensagem publicada em 14 de abril, o então Cardeal Prevost repostou na rede social X (antigo Twitter) uma mensagem com críticas à deportação ilícita de um residente estadunidense. ‘Vocês não veem o sofrimento? A sua consciência não está perturbada? Como podem ficar em silêncio?’

Em outra mensagem, ele repostou na mesma rede um artigo com o título ‘JD Vance está errado: Jesus não pede para ranquearmos nosso amor pelos outros’, em 3 de fevereiro, em crítica direta ao atual vice-presidente.

Além disso, o agora Papa Leão XIV também apoiou a carta divulgada por Francisco em fevereiro passado aos bispos católicos dos Estados Unidos, poucas semanas antes de morrer. Nela, fez críticas diretas à política de perseguição a imigrantes realizada por Trump e pediu que os católicos de todo o mundo se posicionem e ‘não deem atenção a narrativas que sejam discriminatórias’.

‘Tenho acompanhado com atenção a importante crise que está ocorrendo nos EUA devido ao início de um programa de deportações em massa. ‘Exorto todos os fiéis da Igreja Católica (…) a não ceder a narrativas que discriminam e causam sofrimento desnecessário aos nossos irmãos e irmãs migrantes e refugiados. O que é construído com base na força, e não na verdade sobre a igual dignidade de todo ser humano, começa mal e terminará mal’, traz trecho do documento.

Embora Trump tenha declarado que ‘não veja a hora de conhecer’ Leão XIV e de celebrar o fato dele ser nascido nos Estados Unidos, o alinhamento com a política de Francisco em relação à migração coloca o novo Papa como um potencial contraponto ao presidente republicano.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://migramundo.com/o-que-esperar-do-papa-leao-xiv-sobre-as-migracoes/