Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Padre Alfredo J.
Gonçalves, CS
Acompanhamos perplexos uma escalada mundial da
violência. Violência intra e intercontinental que se reflete seja nos governos
e formas de oposição, seja nos governos locais. Tampouco ficam imunes as mais
diversas instâncias e instituições da sociedade. Semelhante avanço da violência
vem mexendo de maneira convulsiva com os ‘formigueiros humanos’. Com efeito,
o modus vivendi de comunidades originárias, de povos, nações e
culturas vem sendo fortemente sacudido ao redor do planeta. Resultado disso é a
dispersão dos migrantes, tais como aves de arribação. A chamada transição
paradigmática, de que tanto se tem falado, move as placas tectônicas da
política econômica em termos nacionais, regionais e internacionais. É inegável
que esse movimento subterrâneo provoca terremotos e tsunamis que, novamente,
devastam os ‘formigueiros humanos’, colocando em fuga as formigas, aos milhares
e milhões.
O modo de vida e a identidade de grupos inteiros
são abalados desde a raiz, o que compromete as bases, os valores e os fundamentos
tradicionalmente positivos. Migrantes isolados e/ou com suas famílias
cruzam e atravessam fronteiras. Com grande dificuldade, atravessam mares,
desertos e florestas para bater às portas de territórios diferentes. Chegam, em
geral, cansados e abatidos, feridos e fragmentados. Pessoas e famílias se
desfiguram e se desintegram pelo caminho, às vezes para não mais se encontrarem
na tão sonhada e ansiada reunificação. As ‘formigas’ dificilmente têm a
possibilidade de retornar ao formigueiro (abandonado às pressas no caso dos
refugiados), para recriar o modus vivendi de seus
antepassados. Milhões e milhões de pessoas vagueiam de cá para lá e de lá para
cá, na vã tentativa de encontrar um refúgio seguro. Um solo a que se possa dar
o nome de pátria parece cada vez mais distante.
Os abalos sísmicos, porém, tendem a desencadear
tragédias climáticas sempre mais extremas e catastróficas. Novos formigueiros
são abalados e desmantelados. Novas correntes migratórias se põem em marcha. Cresce
progressivamente o número de pessoas sem raiz, sem rumo e sem horizonte.
Os processos migratórios não se deixam classificar atualmente por uma origem e
destino mais ou menos predeterminados, como ocorreu nas chamadas migrações
históricas. Enquanto a origem segue sendo a terra natal, evidentemente, o
destino se revela cada vez mais incerto, inseguro e inquietante. Nos dias de
hoje, prevalecem, ao invés, a indignação e a impotência. Por toda parte.
Multiplicam-se os adjetivos e expressões precedidos pelo prefixo negativo ‘in’,
equivalente a um ‘não’. Resta uma certa esperança de que quando esse prefixo se
acumula, dos subterrâneos emerge dialeticamente um ‘sim’, de acordo com o
pensamento filosófico de Hegel.
Do ponto de vista das forças de esquerda, esse novo
‘sim’ consiste em um tremendo e gigantesco ‘não’. O efeito positivo do que
podemos chamar mundo moderno ou modernidade reveste-se de uma
marca registrada cunhada pela razão, a ciência e a tecnologia, bem como pelo
progresso e pela democracia. Neste momento de mudança de época (não apenas
época de mudanças), o que resulta da dialética hegeliana representa um ‘sim’
com sabor amargo de ‘não’. Consiste numa tentativa da extrema direita de usar
os canais, instrumentos e mecanismos democráticos para instalar um
autoritarismo populista que parecia morto e definitivamente enterrado. Não
seria exagero falar de um imperialismo da economia globalizada. Imperialismo de
mercado e de poder, contemporaneamente centrífugo e centrípeto. Centrífugo
quanto à dispersão das unidades de produção e ao consumo generalizado,
centrípeto no que diz respeito à tomada de decisões e à formação de megafusões
e conglomerados hegemônicos para as fatias mais rentáveis do processo de
produção, como petróleo, telecomunicações, aviação, metais preciosos, entre
outras.
De tal maneira que, enquanto as nações mais
poderosas ensaiam atritos, rivalidades e até mesmo conflitos bélicos (tendo o
cuidado de exportar a guerra aberta para os países periféricos), globalmente o
mercado se apresenta muito bem articulado. Exemplo : ao mesmo tempo que, do
ponto de vista político, se verifica uma disputa cerrada pela hegemonia
política e econômica planetária, desde o ponto de vista econômico, Estados
Unidos e China seguem com seus acordos comerciais através desses oligopólios de
empresas transnacionais. Numa expressão apocalíptica, semelhante ao
imperialismo de mercado total, se converte em uma espécie de dragão de sete
cabeças (coincidência com o G7?), onde qualquer uma delas pode assumir o
controle global. O combate a essa besta fera passa, simultaneamente, por ações
locais e por articulações globais. O desafio gigantesco é justamente equilibrar
umas e outras.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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