Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo da Vatican News
‘A notícia não podia deixar de causar estupor. O jornal ‘The New York
Times’ dedicou toda uma página, com fundo branco e uma grande caixa preta no
centro, na qual se destacam poucas palavras, mas significativas : ‘Trump pede a
expulsão de todos os palestinos de Gaza. Judeus dizem não à limpeza étnica’!
Trata-se de um forte apelo, que expressa toda a sua indignação, assinado por
mais de 350 rabinos, ativistas e outros expoentes do mundo cultural judaico
norte-americano, que condenam a proposta do presidente dos EUA de ‘expulsar os
palestinos da Faixa de Gaza’, para criar uma zona imobiliária rica. O plano,
que prevê a transferência de cerca de 2 milhões de pessoas, que sobreviveram do
conflito entre Israel e Hamas, para países árabes como Egito e Jordânia, foi
anunciado por Donald Trump ao término de um encontro, semana retrasada, com o
primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Entre os representantes da
sociedade civil, que assinaram o apelo, encontram-se o dramaturgo Tony Kushner,
a atriz Ilana Glazer, a escritora e ativista canadense Naomi Klein e o ator Joaquin
Phoenix.
Plano de Trump ‘insidioso’
Em um artigo do jornal ‘The Guardian’, o diretor da campanha ‘In Our
Name’ (‘Em nome deles’), Cody Edgerly, e um dos principais organizadores do
anúncio, lê-se : ‘É encorajante ver uma demonstração de apoio tão rápida por
parte de uma esfera religiosa e política’. Esta ideia do presidente Trump que,
para muitos, evoca a Nakba de 1948, foi contestada por um dos signatários,
Tobia Spitzer, rabino sênior da Congregação Doshei Tzedek, em Newton,
Massachusetts, como um ‘plano insidioso’ ao qual ‘é de vital importância’ se
opor. E ao evocar os massacres contra o povo judeu, causados por Hitler,
acrescentou : ‘Nós, judeus, sabemos, mais do que ninguém, qual o tipo de
violência que tal fantasia pode levar’. Por sua vez, o rabino Yosef Berman, do ‘Projeto
Nova Sinagoga’ de Washington DC, que também é um dos signatários, disse que o
ensinamento judaico é claro : ‘Trump não é Deus e não pode tirar a dignidade
intrínseca dos palestinos ou roubar suas terras em troca de um negócio
imobiliário. O desejo de Trump de fazer limpeza étnica dos palestinos de Gaza é
moralmente abominável’.
Rabino Rosen: isso vai contra a Convenção de Genebra
Interrogado pelos meios de comunicação vaticanos, para saber suas
impressões, o rabino David Rosen, - ex-diretor internacional de assuntos
inter-religiosos do Comitê Judaico Americano e atual conselheiro
inter-religioso especial da ‘Abrahamic Family House’, em Abu Dhabi, - destacou
a importância da iniciativa, que é ‘útil para o mundo saber, o máximo possível’,
que a ideia de Trump, ‘assim como é e como foi entendida, não é aceitável’. No
entanto, explicou também que ‘não acredita que esse apelo terá tanta
importância, precisamente por vir daquela esfera do mundo político, que se opõe
ao atual líder norte-americano, e à qual, portanto, ele não tem interesse em
dar atenção’. E o rabino acrescentou : ‘Levar as populações contra a sua
vontade é ir contra a Convenção de Genebra, e, além do mais, é imoral. Se as
pessoas escolherem voluntariamente isso, é outra questão. Porém, todo tipo de
deslocamento forçado é moralmente inaceitável, tanto de um ponto de vista ético
como moral’.
Precedentes
Os rabinos norte-americanos estão acostumados a assumir posições de
destaque na mídia contra as políticas dos EUA e em apoio à causa Palestina.
Trinta e seis rabinos, em janeiro de 2024, interromperam a Assembleia Geral da
ONU com cânticos e faixas para exigir que o então presidente, Joe Biden,
parasse de vetar o Conselho de Segurança de tomar medidas urgentes para apoiar
um cessar-fogo imediato e permanente em Gaza.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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