São Mauro : primeiro discípulo de São Bento e primeiro oblato
5 – Escuta e estabilidade que se
traduz em serviço
‘A estabilidade vai se traduzir em
missão, que o Estatuto dos Oblatos coloca também como critério do chamado à
oblação. Esta missão pode ser compreendida como serviço, bem delineada no
documento do episcopado norte-americano do ano de 2002 (14). Alvo de uma confiança única, os cristãos são colaboradores de
Deus em sua obra salvadora, redentora e santificadora, como já dizia São Paulo
: Quer vivam quer morram é para o Senhor
(cf. Rm 14, 8). Generosos, cheios do zelo bom agem a partir do amor e do senso
de responsabilidade. ... O zelo bom, que
separa dos vícios e conduz a Deus e à vida eterna. Exerçam, portanto, os monges
este zelo com amor ferventíssimo (cf. RB 72, 1-3).
São inúmeras as formas de serviço,
de acordo com a vocação e as circunstâncias. A base será sempre o servir-se mutuamente na caridade (cf. RB
35,6). E ainda : Ponham em ação
castamente a caridade fraterna (RB 72,8). Servos da Igreja, nela procuram
carregar os fardos uns dos outros : Tolerem
pacientissimamente suas fraquezas, quer do corpo quer do caráter (cf. RB
72,3). Desafios e dificuldades transformam-se em ocasiões de superação e
alegria, como diz Paulo : “ALEGRAI-VOS!” (cf. 2Cor 7,4). A experiência pessoal
de um Deus rico em misericórdia faz brotar a alegria e a esperança de ouvir um
dia : Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse
do Reino!
A Virgem Maria ensina com seu
exemplo o sentido do discipulado e serviço, como pede também São Bento : Mostre
os preceitos divinos por suas ações (cf. RB 2, 12-13). Temos em Maria todos os
elementos essenciais do discipulado e do serviço cristãos, a saber, chamado,
dom, esposta generosa, criativa e prudente. Maria compreendeu o chamado a ser
SERVA, no serviço e fidelidade. Como Mãe de Deus, sua missão traduziu-se no
serviço materno a Jesus Cristo, desde a infância até a vida adulta e à morte na
cruz. Como Mãe da Igreja, o serviço materno para com aqueles que dela se
achegam como filhos (15) .
Como realizar esta missão? O
Espírito responde com o capítulo 2 do livro dos Gênesis : nosso chamado é um
chamado a sermos bons servos da oficina humano-divina que nos foi confiada, o
JARDIM a ser cultivado, utilizando mentes, corações e mãos. Diz São Pedro : Todos vós, conforme o dom que cada um
recebeu, consagrai-vos ao serviço uns dos outros, como bons despenseiros da
multiforme graça de Deus (1Pd 4,10). Podemos elencar algumas
características :
1. RECEBER COM
GRATIDÃO OS DONS DE DEUS : Glorificam aquele que neles opera dizendo com o profeta
: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas a
vosso nome dai glória” (cf. Pról. 30).
2. CULTIVÁ-LOS
COM RESPONSABILIDADE : Se alguém deixar
as coisas do mosteiro sujas ou as tratar negligentemente seja repreendido (cf.
RB 32,4). Ou a responsabilidade para com os irmãos e irmãs : não negligencie ou faça pouco caso da
salvação das almas a si confiadas (...) saiba
que aquele que recebeu almas a dirigir, deve preparar-se para prestar contas
(cf. RB 2,11.17).
3. PARTILHÁ-LOS
COM AMOR : A partilha dos bens, a exemplo
da primeira comunidade de Jerusalém : Seja tudo comum a todos (cf. RB 33 e 34). Ou como : o bom servo do Evangelho que distribuiu o
trigo a seus conservos no devido tempo (cf. RB 64,21).
4. DEVOLVÊ-LOS
MULTIPLICADOS AO SENHOR : Visão positiva da Regra Beneditina.
6 – Um “Cantus Firmus” – conclusão
que abre
Ao chegar ao final destas
considerações, noto que há um tema que perpassa nossa reflexão, como um cantus firmus que sustenta a arquitetura
sonora de nossos passos em direção ao Reino. É o desejo da vida eterna, a
dimensão escatológica, colocada em destaque pela Constituição Dogmática Lumen
Gentium no capítulo VII : Ouçamos o texto conciliar : A prometida restauração que esperamos, começou já em Cristo, foi
impulsionada com a vinda do Espírito Santo, e continua por meio dele na Igreja
– que nos faz descobrir na fé o sentido da própria vida temporal – à medida que
vamos realizando, com esperança nos bens futuros, a obra que o Pai nos confiou
no mundo, e vamos operando a nossa salvação (cf. Fl 2,12). Dom Jean-Pierre
Longeat OSB, Abade de Ligugé(16), observa ser esta perspectiva escatológica a meta que concentra a atenção
de monges e monjas e que pode ser vista como excentricidade, em um mundo
marcado pela sombra da urgência e a atração do sucesso. Ter a vida eterna como
meta, diz Dom Longeat, pode desconcertar a muitos, embora seja uma dimensão
intrínseca a nossa vida batismal. Esta vida eterna é a chegada do Reino de
Deus, que no Pai-nosso pedimos que venha várias vezes ao dia, pelo menos três
vezes, segundo nossos antigos pais. Nesta expectativa o coração se dilata ao
corrermos pelos caminhos dos mandamentos de Deus, com inenarrável doçura de
amor – RB Pról. 49 – enquanto nos ocupamos de nossas tarefas, daquilo que deve
ser feito aqui e agora na construção deste reino. Na bela expressão de Dom Jean-Pierre,
somos pessoas do “Oitavo Dia”. Este
é o dia que está ao mesmo tempo além e dentro da história.
O oblato, movido pelo desejo de
buscar a Deus, na escuta fiel e diária de sua palavra, com a vida pautada pelo
ethos monástico da fé e da liturgia, testemunhará por sua estabilidade, que é
possível viver no mundo sem ser do mundo. Ter um pé na terra e outro no céu.
Que é possível continuar correndo para manter o precário equilíbrio de tal
situação. Nesta corrida, continuará a ser discípulo na escola do serviço do
Senhor, pronto a seguir Jesus a qualquer preço. Totalmente entregue em oferta a
Deus e aos irmãos, segue o itinerário que a Regra e a tradição lhe apresentam,
certo de CHEGAR (cf. RB 73,9), à meta desejada, à vida que não passa, e ver
desde já o que olhos não viram e ouvidos
não ouviram, e que Deus preparou para aqueles que o amam (cf. RB 4,77).
Assim seja!’
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(14) – Cf. CONFERÊNCIA
EPISCOPAL NORTE-AMERICANA, Stewardship, a Disciple’s Response, Cap. V,
(2002)
(15) – Cf.
LG VIII e Encíclica de SS. JOÃO PAULO II, “Redemptoris Mater”, 46,
citados em id.
(16) – LONGEAT OSB, Jean-Pierre, “The Monastic Charism in
the life of the Church”, in AIM English Language Bulletin, 97 (2009) 39-41.Cf.
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