quarta-feira, 25 de julho de 2012

OBLATOS : Entre o Céu e a Terra, Cidadãos do Oitavo Dia (Capítulo 3 de 3)

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB


São Mauro : primeiro discípulo de São Bento e primeiro oblato


5 – Escuta e estabilidade que se traduz em serviço
            ‘A estabilidade vai se traduzir em missão, que o Estatuto dos Oblatos coloca também como critério do chamado à oblação. Esta missão pode ser compreendida como serviço, bem delineada no documento do episcopado norte-americano do ano de 2002 (14). Alvo de uma confiança única, os cristãos são colaboradores de Deus em sua obra salvadora, redentora e santificadora, como já dizia São Paulo : Quer vivam quer morram é para o Senhor (cf. Rm 14, 8). Generosos, cheios do zelo bom agem a partir do amor e do senso de responsabilidade. ... O zelo bom, que separa dos vícios e conduz a Deus e à vida eterna. Exerçam, portanto, os monges este zelo com amor ferventíssimo (cf. RB 72, 1-3).
            São inúmeras as formas de serviço, de acordo com a vocação e as circunstâncias. A base será sempre o servir-se mutuamente na caridade (cf. RB 35,6). E ainda : Ponham em ação castamente a caridade fraterna (RB 72,8). Servos da Igreja, nela procuram carregar os fardos uns dos outros : Tolerem pacientissimamente suas fraquezas, quer do corpo quer do caráter (cf. RB 72,3). Desafios e dificuldades transformam-se em ocasiões de superação e alegria, como diz Paulo : “ALEGRAI-VOS!” (cf. 2Cor 7,4). A experiência pessoal de um Deus rico em misericórdia faz brotar a alegria e a esperança de ouvir um dia : Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino!
            A Virgem Maria ensina com seu exemplo o sentido do discipulado e serviço, como pede também São Bento : Mostre os preceitos divinos por suas ações (cf. RB 2, 12-13). Temos em Maria todos os elementos essenciais do discipulado e do serviço cristãos, a saber, chamado, dom, esposta generosa, criativa e prudente. Maria compreendeu o chamado a ser SERVA, no serviço e fidelidade. Como Mãe de Deus, sua missão traduziu-se no serviço materno a Jesus Cristo, desde a infância até a vida adulta e à morte na cruz. Como Mãe da Igreja, o serviço materno para com aqueles que dela se achegam como filhos (15) .
            Como realizar esta missão? O Espírito responde com o capítulo 2 do livro dos Gênesis : nosso chamado é um chamado a sermos bons servos da oficina humano-divina que nos foi confiada, o JARDIM a ser cultivado, utilizando mentes, corações e mãos. Diz São Pedro : Todos vós, conforme o dom que cada um recebeu, consagrai-vos ao serviço uns dos outros, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus (1Pd 4,10). Podemos elencar algumas características :
1.   RECEBER COM GRATIDÃO OS DONS DE DEUS : Glorificam aquele que neles opera dizendo com o profeta : “Não a nós, Senhor, não a nós, mas a vosso nome dai glória” (cf. Pról. 30).
2.  CULTIVÁ-LOS COM RESPONSABILIDADE : Se alguém deixar as coisas do mosteiro sujas ou as tratar negligentemente seja repreendido (cf. RB 32,4). Ou a responsabilidade para com os irmãos e irmãs : não negligencie ou faça pouco caso da salvação das almas a si confiadas (...) saiba que aquele que recebeu almas a dirigir, deve preparar-se para prestar contas (cf. RB 2,11.17).
3.  PARTILHÁ-LOS COM AMOR : A partilha dos bens, a exemplo  da primeira comunidade de Jerusalém : Seja tudo comum a todos (cf. RB 33 e 34). Ou como : o bom servo do Evangelho que distribuiu o trigo a seus conservos no devido tempo (cf. RB 64,21).          
4.  DEVOLVÊ-LOS MULTIPLICADOS AO SENHOR : Visão positiva da Regra Beneditina.    

6 – Um “Cantus Firmus” – conclusão que abre
            Ao chegar ao final destas considerações, noto que há um tema que perpassa nossa reflexão, como um cantus firmus que sustenta a arquitetura sonora de nossos passos em direção ao Reino. É o desejo da vida eterna, a dimensão escatológica, colocada em destaque pela Constituição Dogmática Lumen Gentium no capítulo VII : Ouçamos o texto conciliar : A prometida restauração que esperamos, começou já em Cristo, foi impulsionada com a vinda do Espírito Santo, e continua por meio dele na Igreja – que nos faz descobrir na fé o sentido da própria vida temporal – à medida que vamos realizando, com esperança nos bens futuros, a obra que o Pai nos confiou no mundo, e vamos operando a nossa salvação (cf. Fl 2,12). Dom Jean-Pierre Longeat OSB, Abade de Ligugé(16), observa ser esta perspectiva  escatológica a meta que concentra a atenção de monges e monjas e que pode ser vista como excentricidade, em um mundo marcado pela sombra da urgência e a atração do sucesso. Ter a vida eterna como meta, diz Dom Longeat, pode desconcertar a muitos, embora seja uma dimensão intrínseca a nossa vida batismal. Esta vida eterna é a chegada do Reino de Deus, que no Pai-nosso pedimos que venha várias vezes ao dia, pelo menos três vezes, segundo nossos antigos pais. Nesta expectativa o coração se dilata ao corrermos pelos caminhos dos mandamentos de Deus, com inenarrável doçura de amor – RB Pról. 49 – enquanto nos ocupamos de nossas tarefas, daquilo que deve ser feito aqui e agora na construção deste reino. Na bela expressão de Dom Jean-Pierre, somos pessoas do “Oitavo Dia”. Este é o dia que está ao mesmo tempo além e dentro da história.
            O oblato, movido pelo desejo de buscar a Deus, na escuta fiel e diária de sua palavra, com a vida pautada pelo ethos monástico da fé e da liturgia, testemunhará por sua estabilidade, que é possível viver no mundo sem ser do mundo. Ter um pé na terra e outro no céu. Que é possível continuar correndo para manter o precário equilíbrio de tal situação. Nesta corrida, continuará a ser discípulo na escola do serviço do Senhor, pronto a seguir Jesus a qualquer preço. Totalmente entregue em oferta a Deus e aos irmãos, segue o itinerário que a Regra e a tradição lhe apresentam, certo de CHEGAR (cf. RB 73,9), à meta desejada, à vida que não passa, e ver desde já o que olhos não viram e ouvidos não ouviram, e que Deus preparou para aqueles que o amam (cf. RB 4,77). Assim seja!’
---------------------------------------
(14) – Cf. CONFERÊNCIA EPISCOPAL NORTE-AMERICANA, Stewardship, a Disciple’s Response, Cap. V, (2002)
(15) – Cf. LG VIII e Encíclica de SS. JOÃO PAULO II, “Redemptoris Mater”, 46, citados em id.
(16) – LONGEAT OSB, Jean-Pierre, “The Monastic Charism in the life of the Church”, in AIM English Language Bulletin, 97 (2009) 39-41.Cf.

Nenhum comentário:

Postar um comentário