sábado, 5 de maio de 2012

Santa Catarina de Bolonha e o ano Catariniano

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



            Em meados de março deste ano, foi realizado no mosteiro de Corpus Domini, em Bolonha, na Itália, a Oitava que marca o prelúdio do “ano Catariniano”, que terá início em 22 de maio, no terceiro centenário da canonização da Santa, e será concluído em 8 de Setembro de 2013, no sexto centenário do seu nascimento.

             Por mais de quinhentos anos, o corpo incorrupto de Santa Catarina, sentada como se estivesse viva, sustentada pela sua coluna vertebral, continua a desafiar as leis da física e da química, atraindo ao Mosteiro de Corpus Domini, peregrinos de todo o mundo.

            Entre as celebridades que ao longo dos séculos assinaram o registro desta Santa, estão Papas como Clemente VII e Pio IX, cientistas como Luigi Galvani, reis como o Imperador Carlos V e muitos santos: Santa Teresinha do Menino Jesus, São Carlos Borromeo, São Leonardo de Porto Maurizio, São João Bosco, Santa Clelia Barbieri.
                    
O percurso foi intitulado: "Do espírito do tempo ao tempo da graça", mas está dividido em duas partes. A primeira diz respeito à Oitava 2012, concentrado sobre “Catarina mestra e modelo do caminho de fé”. A segunda consiste no próprio ano Catariniano - em preparação para o ano da fé – e está marcado por “Portas e jardins do caminho da fé”.




            Relação de Santa Catarina com o seu tempo
         
Segundo Marco Bartoli, professor de história medieval da Lumsa, a partir da obra da Santa (“As sete armas espirituais”) conclui-se que, para Catarina, o trabalho de santificação pessoal nunca esteve separado de um sentido de responsabilidade pública. E que é possível captar com precisão a ligação entre a salvação pessoal e a salvação do mundo inteiro ao ser analisado com precisão os pontos principais da sua espiritualidade.
Sãos estes, sem dúvida: a obediência e o "mal padecer" (aceitação radical de todo sofrimento, a exemplo dos santos e dos mártires). É a esperança que dá sentido ao "mal padecer".

Não se padece, ou seja, não se tolera o mal a não ser em vista de um bem maior. É a esperança que dá força. Porque no “padecer” de Catarina não há nada de passivo, ou seja, não há nenhuma aceitação resignada do mal. Ao contrário a “paciência” de Catarina é a mesma paciência dos mártires, que souberam perseverar e resistir também na prova. Ao contrário da resignação, esta paciência exprime uma serena vontade de vencer o mal com o bem.

É esse modo que Catarina tem para viver o compromisso de santidade pessoal, para questionar quem aparece na sua frente, para escutar a sua voz, uma proposta dirigida também aos não-crentes, para criar uma espécie de pequeno Pátio dos gentios, que nos nossos Pátios cômodos poderiam se transformar em Caminho, um “Caminho dos gentios”.

A segunda parte do projeto, que abrange o ano Catariniano real, será marcado de acordo com outro texto de Santa Catarina de Virgi, “os doze jardins”, que traçam o longo caminho com dois percursos diferentes: um visando a redescoberta dos sacramentos e um simbólico.

As iniciativas incluem encontros com poesias e música, intercalados por catequeses e aprofundamentos, de acordo com os seguintes títulos / jardins:
ü  Pedras vivas de uma catedral (sobre o significado do trabalho) : hissopo de humildade
ü  A unidade do conhecimento (sobre a fragmentação do conhecimento) : rosas de contemplação
ü  Academias do espírito e viagens da alma (sobre o sentido do lazer e do desporto) : flores marinhas de purgação
ü  Castelos interiores e jardins do espírito (sobre o espírito da arte): lírios de renovação
ü  Quem colheu o lápis de Deus (sobre o voluntariado) : violas de “nasconsione”
ü  Uma flor para um raio de luz (sobre modelos pedagógicos) : os cravos do auto-conhecimento
ü  Noite Clara (sobre os caminhos de santidade) : iluminação de Girassóis
ü  Mas se é assim muda tudo (sobre a catequese e a nova evangelização) : rosas vermelhas de inflamação
ü  Queimava o nosso coração (sobre a comparação com os outros) : oliveira de unção em misericórdia
ü  Para construir uma civilização do amor (familia e doutrina social da igreja) : laranjas de amor unitivo
ü  A tua veste brilha (sobre liturgia) : romãs de ansiedade



Santa Catarina é também conhecida como Catarina de Virgi ou Vigni. Nascida em 8 de setembro de 1413 em Bolonha, Itália, sendo ela filha de um diplomata a serviço do marquês de Ferrara. Ao completar 11 anos de idade, foi escolhida para ser a dama de companhia da recém-casada filha do marquês, compartilhando com ela o seu aprimoramento educacional. Isso durou até completar 14 anos, idade em que decidiu abandonar a corte para abraçar a vida religiosa. Ingressou na Ordem Franciscana como Irmã das Clarissas Pobres, onde obteve sucessivos progressos espirituais e admiração por ser fiel cumpridora dos preceitos de Deus e da Igreja. Por sua conduta exemplaríssima tornou-se uma das grandes santas da Idade Média. Através da intercessão do Papa Nicolau V foi erigida uma clausura no convento das Clarissas em Ferrara, onde Catarina foi eleita Madre Superiora. Gozava de grande reputação pela vida austera e piedosa, não só diante da comunidade, mas do próprio Papa Nicolau V. 

Foi também responsável pelo estabelecimento de um convento de Clarissas Pobres em 1456, na cidade de Bolonha, onde assumiu o cargo de Superiora.

Mística, profetisa e visionária, glorificava a Deus operando grandes milagres em Seu nome. Também era pintora e decifrava manuscritos como que iluminada por um anjo. Conta-se que num dia de Natal recebeu uma visão de Jesus nos braços de Maria. Desta visão que teve, Catarina pintou em um quadro que se encontra atualmente no Museu do Vaticano.

Faleceu em 9 de março de 1463 em Bolonha, Itália e foi enterrada sem caixão e não foi embalsamada. Após dezoito dias depois, decidiram exumar seu corpo devido a inúmeros milagres que ocorriam junto de sua tumba, bem como pelo odor de perfume que exalava constantemente de seu túmulo, ocasião em que seu corpo foi encontrado incorrupto. Diante disso foi chamado o doutor Maestro Giovanni Marcanova, que examinou o corpo e não pode explicar o fato. Assim, decidiram vestir seu corpo com novo hábito e o colocaram em uma cadeira, sentado, junto a uma capela especial, mantendo-se incorrupto até hoje, portanto, por mais de 540 anos. Nas últimas décadas, foram e ainda são realizadas a cada dois anos, radiografias da coluna vertebral e as análises até o momento comprovam que não houve deterioração ou desvio da coluna, que se mantém perfeitamente ereta como a de uma pessoa adulta, sustentando o corpo e a cabeça. O que se observa apenas é a mudança da coloração da pele, que hoje apresenta-se na cor marrom.

A arte litúrgica a apresenta como uma Clarissa pobre carregando o Menino Jesus ou em um trono com um livro em uma das mãos e na outra uma cruz, aludindo a imagem que se vê em seu corpo incorrupto. Escreveu um livro intitulado:“ Tratado em armas espirituais” e “Revelações”.

Foi canonizada em 22 de maio de 1712 pelo Papa Clemente XI e é padroeira da Academia de arte de Bolonha, dos pintores e das artes liberais.

 

 

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