Este artigo foi gentilmente cedido por Dom João Evangelista Kovas, OSB,
monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo.
Em muitos lugares deste nosso imenso Brasil, encontramos uma grande variedade de representações artísticas da cruz de Jesus. Assim que a vemos, logo reconhecemos nela um sinal cristão dos mais fortes. Quando vemos a cruz ostentada sobre o peito de uma pessoa, ela nos indica sua consagração pessoal a Cristo; quando ela alteia o cimo de uma torre, reconhecemos que aquela edificação é uma igreja cristã; quando ela está entronizada em um recinto, é invocado sobre nós o sentimento de proteção divina e de profundo respeito pelas pessoas que ali estão presentes. O que faz da cruz um sinal tão forte para os cristãos, e mesmo para quem não é cristão, um sinal especial de respeito?
No dia 14 de setembro, celebramos o dia da Exaltação da Santa Cruz. Uma festa do calendário litúrgico que nos lembra o significado maior da cruz de Cristo.
Antes de tudo ela é um sinal, um sinal eficaz de salvação. Por isso, merece ser lembrado e celebrado na liturgia.
É conhecida a história do imperador romano Constantino no início do século IV. Certa noite, ele teve um sonho, no qual visualizava a cruz dos cristãos e ouvia uma voz que lhe dizia: “com esse sinal vencerás” (in hoc signo vinces). Ele sabia que se tratava da batalha que ele travaria contras as legiões romanas que se opunham à sua sucessão ao trono. No dia seguinte, ele ordena que os escudos de seus guerreiros fossem pintados com o sinal da cruz. Eles partiram para a batalha e venceram. Sua mãe Santa Helena alguns anos mais tarde vai à Terra Santa juntamente com uma comitiva de peritos, com o intuito de localizar os lugares santos, ou seja, as localidades onde Jesus nasceu, realizou seus mais celebres feitos, foi morto e sepultado. Até hoje é reconhecida a precisão com que Helena e seus peritos localizaram tais lugares. Dentre suas façanhas na Terra Santa, está a localização de uma cruz romana, a qual foi atribuída ser o objeto de suplício de Jesus Cristo. É difícil atribuir-lhe autenticidade histórica, porém o fato foi significativo, despertando ainda mais os fiéis cristãos ao reconhecimento da importância da cruz, como já salientavam amplamente as Sagradas Escrituras. A partir desse fato, a celebração da Exaltação da Cruz não tardou a entrar no calendário litúrgico.
A história acima narrada ilustra algo do significado da cruz de Jesus. Paulo diz à comunidade dos coríntios que ele não anunciou a sabedoria segundo a filosofia dos gregos, nem os grandes sinais de Deus segundo a piedade judaica, mas Cristo crucificado: “loucura para os gregos e escândalo para os judeus” (I Cor 1,23).
O Cristo crucificado é a expressão maior da sabedoria de Deus e o maior sinal de Deus para a humanidade. Em sua cruz, Jesus “crucifica” todos os procedimentos embusteiros do mundo: sua injustiça, seu apego às aparências falsas, sua segurança nas riquezas materiais.
A denúncia da cruz de Jesus é, ao mesmo tempo, denúncia do pecado do mundo e anúncio do amor de Deus em favor de todos aqueles que desejam viver conforme a justiça de Deus. Para nós cristãos, a cruz é um sinal eficaz a nos lembrar que não queremos fazer parte das obras desse mundo mundano e do príncipe desse mundo, o demônio.
Mas, livres do pecado, vivemos na alegria dos filhos de Deus, os quais sabem separar o bem do mal, ficar com o bem e renunciar ao mal. Assumimos a missão com Jesus de promover a justiça e a paz, desterrar toda injustiça e abrir o caminho para a verdadeira caridade. Continuar a anunciar o Cristo crucificado, escândalo para muitos, porém salvação para todos os que reconhecem em Jesus a maior dádiva de Deus Pai para todos os povos.
Por isso, não nos enganemos! A cruz é sinal de suplício de Jesus, sua morte injusta. Isso é o resultado das ações dos homens, quando a vaidade e a falta de amor mandam em nós. Contudo, aqueles que reconhecem e meditam no sinal da cruz, descobrem o sinal da ação silenciosa de Deus a nos redimir de todo esse mal.
Aqueles que impõem a cruz sobre si são merecedores de participar da ressurreição de Jesus: poder salvador de Deus em favor de todos os seres humanos.
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