domingo, 1 de janeiro de 2012

O Dia Mundial da Paz e a celebração de Maria a Mãe de Deus






Este artigo foi gentilmente cedido por Dom João Evangelista Kovas, OSB, monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo. 


No primeiro dia do ano, 1º de janeiro, a Igreja celebra a Solenidade de Nossa Senhora Mãe de Deus. Nesta mesma data, é celebrado em todo mundo o Dia Mundial da Paz. A Igreja Católica contribuiu muito com o estabelecimento internacional da comemoração da paz, quando ela celebra em sua liturgia esse dia de Nossa Senhora. Nada mais conveniente do que celebrar a Paz em um dia de Nossa Senhora. Mas qual é a definição dada pela bíblia ao termo “paz”? 

Paz, em hebraico, é shalom. Até hoje os judeus se saúdam mutuamente com essa expressão. Jesus também fez isso. Na primeira vez que enviou os seus discípulos para anunciar a Boa Nova, ele os recomendou essa saudação. Assim que eles entrassem em uma casa, deveriam saudar os que nela habitavam com “a paz esteja nessa casa” (Lc 10,5). O próprio Jesus saudava os seus discípulos dessa maneira, sobretudo quando ele se reencontrou com eles, após sua ressurreição. Disse: “A paz esteja convosco” (Jo 20,19). Doravante, essa será a saudação que designará os cristãos dos primeiros séculos, quando se encontravam e se congratulavam com a ressurreição do Senhor. E a mensagem do perdão viria selar, com laços ainda mais fortes, essa paz confiada à comunidade cristã. 

Podemos entender a força dessa saudação evangélica, quando procuramos o seu sentido ao longo dos textos bíblicos. A paz é a plenitude de vida em Deus. Assim, nossos primeiros pais (que o Livro do Gênesis evoca como Adão e Eva) tinham a promessa de viver em paz, porque viviam na presença de Deus e Ele se manifestava às claras para eles. A paz era o patrimônio divino destinado à humanidade, confiado, no entanto, àqueles que viriam transmitir a vida a uma numerosa descendência. Em diversos momentos da Bíblia, o mesmo princípio é evocado. Quando o Povo de Israel é libertado do Egito, recebe de Deus a promessa de uma Terra boa, “que jorra leite e mel”, dizendo com isso que esse povo viria experimentar prosperidade, sempre que obedecesse aos santos mandamentos e conservasse sua fidelidade a Deus em seus corações. Em conseqüência, gozariam de paz por todos os seus dias.

A história de Israel não foi bem assim, posto que foi permeada de infidelidade da parte do povo e perdão da parte de Deus. A paz, porém, ficou sempre marcada como uma promessa de felicidade na presença salvífica de Deus, se o povo fosse fiel.

Nós cristãos sabemos que essa promessa viria tomar dimensões inauditas, quando contemplamos o enviado do Pai para a salvação de toda humanidade, restaurando a paz definitiva. Jesus Cristo é o mediador da verdadeira paz, pois restitui à humanidade, de um modo todo novo, sua comunhão com Deus. Ele mesmo é Deus que veio visitar o seu povo. Por isso, a “Paz pascal” de Jesus Cristo ressuscitado é o protótipo da realização de todas as promessas feitas ao Povo de Israel, e inclusive da solene promessa que Deus fez a Noé, de que estabeleceria uma Nova Aliança com toda humanidade.

Maria, a Mãe de Jesus, é aquela que por primeiro recebe esse bom anúncio de paz e a transmite para nós, seus filhos na fé. Enquanto o “não” de Eva, nossa primeira mãe, nos mereceu perder tão grande riqueza, o “sim” de Maria nos restitui a presença de Deus entre os homens, Jesus Cristo Nosso Senhor. Doravante, o Espírito Santo formou no seio de Maria um corpo e uma alma humanos para a divindade do Filho. E a menina Maria, em nome de todos nós, deu o seu sim ao plano salvífico de Deus e “o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Ela tornou-se Mãe de Deus, uma vez que Jesus é seu filho legítimo, em sua humanidade.

Peçamos a intercessão de Maria Santíssima, a fim de que possamos também nós dar o nosso “sim” ao plano de salvação que o Senhor tem para nós e possamos viver em Paz, a começar restabelecendo a paz com nossos irmãos.




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