Este artigo foi gentilmente cedido por Dom João Evangelista Kovas, OSB, monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo.
No primeiro dia do ano,
1º de janeiro, a Igreja celebra a Solenidade de Nossa Senhora Mãe de Deus.
Nesta mesma data, é celebrado em todo mundo o Dia Mundial da Paz. A Igreja
Católica contribuiu muito com o estabelecimento internacional da comemoração da
paz, quando ela celebra em sua liturgia esse dia de Nossa Senhora. Nada mais
conveniente do que celebrar a Paz em um dia de Nossa Senhora. Mas qual é a
definição dada pela bíblia ao termo “paz”?
Paz, em hebraico, é shalom. Até hoje os judeus se saúdam
mutuamente com essa expressão. Jesus também fez isso. Na primeira vez que
enviou os seus discípulos para anunciar a Boa Nova, ele os recomendou essa
saudação. Assim que eles entrassem em uma casa, deveriam saudar os que nela
habitavam com “a paz esteja nessa casa” (Lc 10,5). O próprio Jesus saudava os
seus discípulos dessa maneira, sobretudo quando ele se reencontrou com eles,
após sua ressurreição. Disse: “A paz esteja convosco” (Jo 20,19). Doravante,
essa será a saudação que designará os cristãos dos primeiros séculos, quando se
encontravam e se congratulavam com a ressurreição do Senhor. E a mensagem do
perdão viria selar, com laços ainda mais fortes, essa paz confiada à comunidade
cristã.
Podemos entender a força
dessa saudação evangélica, quando procuramos o seu sentido ao longo dos textos
bíblicos. A paz é a plenitude de vida em Deus. Assim, nossos primeiros pais (que
o Livro do Gênesis evoca como Adão e Eva) tinham a promessa de viver em paz,
porque viviam na presença de Deus e Ele se manifestava às claras para eles. A
paz era o patrimônio divino destinado à humanidade, confiado, no entanto,
àqueles que viriam transmitir a vida a uma numerosa descendência. Em diversos
momentos da Bíblia, o mesmo princípio é evocado. Quando o Povo de Israel é
libertado do Egito, recebe de Deus a promessa de uma Terra boa, “que jorra
leite e mel”, dizendo com isso que esse povo viria experimentar prosperidade,
sempre que obedecesse aos santos mandamentos e conservasse sua fidelidade a
Deus em seus corações. Em conseqüência, gozariam de paz por todos os seus dias.
A história de Israel não
foi bem assim, posto que foi permeada de infidelidade da parte do povo e perdão
da parte de Deus. A paz, porém, ficou sempre marcada como uma promessa de
felicidade na presença salvífica de Deus, se o povo fosse fiel.
Nós cristãos sabemos que
essa promessa viria tomar dimensões inauditas, quando contemplamos o enviado do
Pai para a salvação de toda humanidade, restaurando a paz definitiva. Jesus
Cristo é o mediador da verdadeira paz, pois restitui à humanidade, de um modo
todo novo, sua comunhão com Deus. Ele mesmo é Deus que veio visitar o seu povo.
Por isso, a “Paz pascal” de Jesus Cristo ressuscitado é o protótipo da
realização de todas as promessas feitas ao Povo de Israel, e inclusive da
solene promessa que Deus fez a Noé, de que estabeleceria uma Nova Aliança com
toda humanidade.
Maria, a Mãe de Jesus, é
aquela que por primeiro recebe esse bom anúncio de paz e a transmite para nós,
seus filhos na fé. Enquanto o “não” de Eva, nossa primeira mãe, nos mereceu
perder tão grande riqueza, o “sim” de Maria nos restitui a presença de Deus
entre os homens, Jesus Cristo Nosso Senhor. Doravante, o Espírito Santo formou
no seio de Maria um corpo e uma alma humanos para a divindade do Filho. E a
menina Maria, em nome de todos nós, deu o seu sim ao plano salvífico de Deus e
“o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Ela tornou-se Mãe
de Deus, uma vez que Jesus é seu filho legítimo, em sua humanidade.
Peçamos a intercessão de
Maria Santíssima, a fim de que possamos também nós dar o nosso “sim” ao plano
de salvação que o Senhor tem para nós e possamos viver em Paz, a começar
restabelecendo a paz com nossos irmãos.
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