Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Toda pessoa
tem maior capacidade do que acredita para evitar certos sofrimentos e para
transformar o mal em bem.
É fácil
perceber que há diferentes maneiras de reagir a tudo aquilo que nos acontece na
vida, mas é, sobretudo, quando o sofrimento nos atinge, nas suas mais variadas
expressões, que manifestamos o que pensamos da vida, o que a dor pode revelar
de nós e de nossos ideais.
Pense como você
reagiu quando foi traído por um amigo ou como viveu a experiência da morte de
uma pessoa querida ou quem sabe diante de uma situação de ofensa, de divisão ou
quando se sentiu ferido na sua sensibilidade e como vivemos diante da dor da
humanidade, nos seus mais variados aspectos, como a fome, a violência, as
catástrofes, as injustiças, as doenças, sofrimentos tantos, enfim…
Difícil dizer
que alguém não tenha deparado com as dores do mundo que fazem mal tanto a quem
vive as situações dolorosas como àqueles que de algum modo as acompanham. Para
alguns, essas situações são desafiadoras; para outros, simplesmente desencorajadoras.
Diante da dor
não ficamos indiferentes: revolta ou conformismo, esperança ou desespero, luta
ou abandono, tentativas ou acomodação.
Reserve tempo
para pensar no assunto. O que você faz diante da dor? Como a enfrenta, o que
faz para superá-la? Como se sente quando a dor atinge você de uma maneira
próxima ou direta?
É certo que
diante da dor todos nós temos a sensação forte da perda do equilíbrio, da
harmonia interior, quem sabe até do sentido da vida. O que todos sentem, diante
da dor, em cada uma das suas expressões, é a impressão da ausência de Deus e a
perda da paz.
Refletir sobre
a dor, reconhecer nela luzes e forças para continuar a viver com esperança,
reconquistar a paz perdida e, sobretudo, saber que mesmo que tudo pareça dor
somente existe um amor maior, que a tudo dá valor e sentido, é o grande
desafio.
Pessoas que
sofreram podem relatar experiências tantas quantas são as possibilidades da
vida e podem repetir palavras de sabedoria e testemunhar que ‘A dor me deu mais
que me teriam dado os sucessos que não consegui’.
Diante dos
desafios da vida, temos três possibilidades: revoltar-nos, abater-nos ou
enfrentá-los. Se nos revoltamos, fazemos de uma situação um problema que vai
crescendo com nossa revolta. Se nos abatemos, deixamos o sofrimento tomar
conta, como se dominasse e não tivéssemos capacidade de reação. A revolta
aumenta a dor, o abatimento reduz a vida à dor, porém, se soubermos aceitar,
convivemos com a realidade sem perder o sentido da vida e dos valores que ela
revela além da dor, apesar dela.
A alegria de
viver nos dá coragem para sofrer. A coragem de assumir o sofrimento faz a vida
mais plena e com isso aprendemos a ter um olhar mais profundo para dar
respostas mais profundas.
Aprendamos com
o mistério da vida a descobrir quanto a vida é bela, apesar de tudo.
A dor, o
sofrimento são situações e possibilidades comuns a todas as pessoas, de
qualquer condição. O sofrimento, seja físico, emocional, moral, da própria
existência, constitui uma condição normal e básica da vida. Negá-lo é, em
última análise, uma ilusão, uma utopia que, caso se concretizasse, deixaria a
existência sem sustento. Não se trata de promover o sofrimento, mas de afirmar
a sua inegável existência e a sua inevitável presença na vida humana.
A cada dia
somos bombardeados com a ideia e a suposta solução de uma vida só de prazer e
de satisfação, livre de qualquer sofrimento e de qualquer dor. Parece haver
tantas maneiras de chegar a experimentar a ‘plenitude do prazer’ que é uma
tolice sofrer. Curiosamente, esquecemos a nossa própria realidade humana, nós a
esvaziamos, ou acabaremos por esvaziá-la, daquilo que a redime e que a eleva,
pois todo sofrimento, entendido na sua possibilidade, tem a capacidade de
manifestar um sentido mais elevado da vida, entretanto, frequentemente
afastamo-nos da sua identidade e sentido.
A vida humana é
uma realidade dinâmica, isto é, em permanente movimento, aberta a novas
descobertas sobre o valor da própria existência. Essa dinâmica se desenvolve
com base em valores que se manifestam como realidades permanentes e estáveis,
eternas. O amor sempre será amor; a solidariedade, o respeito, a família, por
exemplo, sempre representarão a mesma realidade a que se referem.
Quando assumo
um valor, eu o reconheço como um bem em si e o constituo um bem para mim; ele
adquire, então, um sentido pessoal singular, assim, torna-se parte de minha
existência pessoal. Desse modo, os valores constituem o fundamento mais
estável, o terreno onde a vida vai se desenvolver.
A necessidade
de reconhecer e assumir valores e deixar-se orientar por eles é um desejo
básico da vida e é estimulada pela necessidade natural de descobrir sentido em
tudo aquilo que devo viver. Em mim, em você, em cada pessoa palpita uma
necessidade, uma verdadeira fome de sentido. Essa fome de sentido é tão natural
à nossa humanidade quanto a nossa necessidade e fome de alimento, de
conhecimento, de afeto, de segurança, de convivência, de felicidade.
O ser humano
pode ser definido como alguém em permanente busca de sentido para sua vida, é
um ‘buscador de sentido’. Essa condição é tão espontânea quanto natural a
qualquer ser humano; se não for satisfeita, pode deixar a vida vazia, com
graves danos e consequências.
O ser humano é
um ser ‘incompleto’, que vive e luta para se completar. Vai alcançando seu
objetivo ao longo da vida, de muitas maneiras, muito especialmente por meio e a
partir dos vínculos que vai constituindo.
Se a vida de
algum ser humano é baseada em valores verdadeiros que o inspiram e orientam sua
vida, certamente isso lhe dará condições de descobrir um sentido que completa
sua existência; caso contrário, o vazio tomará conta e pode gerar uma
insatisfação permanente que nada poderá preencher.
A busca e a descoberta do sentido da vida não se fazem sem sofrimento, sem dor, sem passar por experiências destituídas de prazer.’
Fonte : *Artigo na íntegra
Nenhum comentário:
Postar um comentário