Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Alberto Taveira Correa,
Arcebispo Metropolitano de Belém, PA
‘Celebramos com
alegria a Solenidade de São Pedro e São Paulo, ainda que as devoções do
presente período nos tenham conduzido a Santo Antônio, São João Batista e São
Pedro. Pedro e Paulo caminharam juntos, por estradas diferentes, mas unidos na
mesma fé e na grandeza do martírio, um pela cruz e outro pela espada. O
seguimento de Jesus exigiu dos dois e exige de todos os discípulos a disposição
de radicalidade ao abraçar a Cruz com Jesus e seguir os seus passos. Abraçar e
não arrastar com má vontade, dispor-se a transformar todas as eventuais dores,
incômodos e sofrimentos em amor a Deus e ao próximo, para assim estar
crucificado com Cristo e ressuscitar com ele, também em cada gesto de entrega e
de oferta, pois pela cruz chegamos à luz que não se apaga.
A cruz : Simão Pedro
foi um dos primeiros no seguimento de Jesus. Pescador de peixes, veio a se
tornar pescador de homens. Tendo seu nome mudado pelo próprio Senhor, teve que
percorrer uma verdadeira escola, pontuada por crises, dúvidas, insegurança e
medo : ‘Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez
convertido, confirma os teus irmãos!’ (Lc 22,32). Precisou ouvir várias vezes
os anúncios da paixão, declarou-se disposto a seguir o Senhor até às últimas
consequências, por três vezes negou conhecê-lo, recebeu o dom das lágrimas no
arrependimento pelo malfeito, viu Cristo após a ressurreição por algumas vezes
e, muito humano, parecido conosco, foi posto à frente da Igreja e veio a ser
crucificado em Roma como o seu Senhor, depois das muitas aventuras vividas pela
jovem Igreja : ‘O primeiro a professar a
fé fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel’ (prefácio da Solenidade
de São Pedro e São Paulo). Reza uma tradição que foi posto numa cruz de cabeça
para baixo ao afirmar não ser digno de morrer como o seu Senhor.
As chaves : as
representações iconográficas de São Pedro mostram-no com as chaves,
correspondendo à palavra dita por Jesus a seu respeito : ‘Jesus então declarou :
‘Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te
revelou isso, mas o meu Pai que está no Céu. Por isso, eu te digo : tu és
Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do Inferno não
poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus : tudo o que ligares
na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado
nos Céus’’ (Mt 16,17-19). A devoção popular o vê nas portas do Céu, com as
chaves nas mãos, para receber os que a ele acorrem. Podemos chamar de ousadia
quando vemos apenas com os critérios superficiais o poder das chaves; podemos
chamar de graça imensa a misericórdia de Deus colocada à disposição da
humanidade por meio de meios tão humanos, como aconteceu com Pedro, e, no
correr da história, todos os ministros da reconciliação enviados pela Igreja,
eles mesmos carentes do perdão de Deus por compartilharem com a humanidade a
mesma condição de pecadores e chamados à conversão. Não se trata de ‘fazer de
conta’, nem mesmo de autoritarismo, mas do serviço do perdão e da misericórdia.
A espada : o apóstolo São
Paulo foi decapitado em Roma, na mesma perseguição na qual Simão Pedro foi
crucificado. No entanto, foi a cruz sua honra e dignidade : ‘Com Cristo, eu fui
pregado na cruz. Eu vivo, mas não eu : é Cristo que vive em mim. Minha vida
atual na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e se
entregou por mim’ (Gl 2,19-20). Ao fim da Carta aos Gálatas, com que força
afirma suas convicções : ‘Quanto a mim, que eu me glorie somente da cruz do
nosso Senhor, Jesus Cristo. Por Ele, o mundo está crucificado para mim, como eu
estou crucificado para o mundo’ (Gl 6,14). Na Carta aos Efésios, escreve Paulo :
‘Ponde o capacete da salvação e empunhai a espada do Espírito, que é a palavra
de Deus’ (Ef 6,17). No Apocalipse, o Filho do Homem é visto assim : ‘Na mão
direita, tinha sete estrelas, de sua boca saía uma espada afiada, de dois
gumes, e seu rosto era como o sol no seu brilho mais forte’ (Ap 1,16). Uma
espada na boca! A espada nas representações de São Paulo é a da Palavra de Deus
: ‘Paulo, mestre e doutor das nações, anunciou-lhes o Evangelho da Salvação’
(prefácio da Solenidade de São Pedro e São Paulo).
Anunciar a
salvação em Jesus Cristo, pregar sua morte e ressurreição, abrir as portas do
Reino com as chaves da misericórdia e do perdão, suscitar a vida em Igreja, na
busca da plena comunhão : eis a missão confiada aos dois apóstolos que, ‘Por
diferentes meios, congregaram a única família de Cristo e, unidos pela coroa do
martírio, recebem hoje, por toda a terra, igual veneração’ (prefácio da Solenidade
de São Pedro e São Paulo), como também a nós, cada um na missão e na graça
recebidas, diferentes, mas complementares.
Na cruz, a
nossa glória. Na espada da Palavra de Deus que é anunciada, nossa segurança.
Naquele que hoje detém o poder das chaves, nossa referência de unidade
inabalável. Podemos recordar e cantar com a conclusão do Hino Pontifício : ‘Salve,
Salve, Roma! O teu sol não tem poente, vence, refulgente, todo erro e todo mal!
Salve, Santo Padre, viva tanto mais que Pedro! Desça, qual mel do rochedo, a
bênção paternal!’.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://revistaavemaria.com.br/a-cruz-as-chaves-e-a-espada.html
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